É esta a palavra que marca o mundo do trabalho actualmente
“Silencioso” (“Quiet”) é a palavra do mundo do trabalho de 2023. A palavra surge não só de forma individual como em conjunto com outras, formando diversos conceitos. “Quiet quitting, “quiet firing” e “quiet hiring” são três expressões que fazem parte do léxico do mundo do trabalho nos últimos meses, estando cada uma associada a tendências diferentes, revela o site Business Insider.
Os trabalhadores e empregadores têm-se adaptado a mudanças constantes que começaram com a pandemia e têm vindo a desenvolver-se. De acordo com os especialistas, prevê-se que estas tendências “silenciosas” se mantenham ao longo dos próximos anos, relacionando-se com outras.
Contratação silenciosa (“quiet hiring”)
Ocorre quando os trabalhadores passam a desempenhar novas funções dentro da sua empresa, ou seja, «quando as pessoas são solicitadas internamente a mudarem-se para outra área», explicou a perita em carreiras Vicki Salemi.
Uma pesquisa da Gartner considerou este conceito uma das nove “Tendências do Futuro do Trabalho para 2023”. «Não temos talento suficiente para os cargos disponíveis», esclareceu Emily Rose McRae, dos Recursos Humanos da Gartner, salientando que «o relatório indica que temos o menor número de candidatos em meses, pelo que não estamos numa situação em que facilmente encontramos muito talento».
No entanto, existem outras razões que sustentam esta teoria, como o facto de ser vista como «uma estratégia para contornar despedimentos», alertou Vicki Salemi ao acrescentar a hipótese de a empresa perceber «que o talento do colaborador está a ser subutilizado».
Ainda que possam existir vantagens nestes movimentos internos, como a aquisição de novas competências, há o risco de os colaboradores não ficarem satisfeitos com a mudança, dado que começam a desempenhar funções que não correspondem às suas competências.
Despedimento silencioso (“quiet firing”)
Em vez de simplesmente despedir os colaboradores, esta prática baseia-se em fazer com que o trabalhador se sinta tão mal que é ele próprio quem toma a decisão de deixar a empresa. «Sem querer, muitos gestores estão a despedir silenciosamente os membros da sua equipa porque não colaboram com a sua evolução nem os valorizam», escreveu o director de investigação e estratégia para a gestão do local de trabalho da Gallup, Ben Wigert, num artigo sobre o tema.
Perante uma pressão descontrolada, os colaboradores acabam por levar a cabo «acções específicas e fazer mudanças mentais que os ajudam a sentir-se mais empenhados no trabalho», reflectiu a psicoterapeuta Lesley Alderman ao Washington Post, referindo-se a atitudes que têm como objectivo tornar o trabalho mais agradável.
Para os empregadores que não pretendem sofrer esta tendência, não devem «promover silenciosamente os colaboradores», recomenda Bonnie Chiurazzi, director de insights de mercado na Glassdoor. «Não esperem que os trabalhadores façam mais trabalho pela mesma quantia de dinheiro. Em vez disso, promovam-nos e façam questão de que todos saibam.»
Valorizar os trabalhadores que se mantêm leais à empresa e não desistem em tempos incertos faz com que continuem a apoiar o empregador e estejam conscientes de que o seu trabalho é apreciado.
Desistência silenciosa (“quiet quitting”)
Esta foi uma tendência crescente no ano passado que, de acordo com o novo “Relatório de Melhores Práticas de Compensação da Payscale 2023”, não está a desaparecer como resultado de vários factores, entre eles a elevada inflação actual de mais de 6%, que faz com que as pessoas não vão além das suas funções.
«Num cenário de inflação, os colaboradores que ficaram estão a ser convidados a assumir cada vez mais trabalho para o que parece ser menos remunerado se não tiverem um aumento ou promoção», frisou Bonnie Chiurazzi ao defender que esta «tendência persistirá até que os empregadores estejam prontos para aumentar o volume de feedback dos trabalhadores e se dediquem realmente a estas conversas».
O descontentamento dos profissionais está na origem desta abordagem que, cada vez em maior escala, leva a que não façam mais do que o que lhes é exigido. Cerca de um terço «dos trabalhadores sente falta de transparência com o seu actual empregador», apontou Chiurazzi ao sublinhar que também cerca de um terço não está satisfeito «com a forma como o seu empregador envolve os trabalhadores» e ainda cerca de outro terço está descontente com «a forma como os empregadores dão seguimento ao feedback dos trabalhadores».