E se o surf pudesse ajudar pessoas desempregadas? É o que este programa se propõe fazer
A Associação Surf Social Wave realiza a sexta edição do Programa Cascais Surf para a Empregabilidade, com 11 participantes, todos em situação de desemprego. Numa edição semi-presencial devido à pandemia de COVID-19, vai reunir participantes de vários locais do país. Em entrevista à Human Resources, António Pedro de Sá Leal, presidente da entidade promotora da iniciativa, explica o projecto.
Por Sandra M. Pinto
Criado em 2019, o Programa Cascais Surf para a Empregabilidade consiste num processo de empoderamento pessoal e profissional e não representa custos para os participantes. «O nosso objectivo a prazo é criar um programa que possa ser relevante para aqueles que nele participam promovendo o desenvolvimento de competências para a empregabilidade», garante António Pedro de Sá Leal, presidente / lifedreamer da Associação Surf Social Wave.
Quando e como surgiu o programa?
O Programa Cascais Surf para a Empregabilidade surge no início de 2019 neste modelo actual, resulta da construção de um processo DCTM© (Desconstrução, Construção, Tools, Mentoria) que a Associação Surf Social Wave desenvolveu em 2018 resultado das aprendizagens do primeiro ano de trabalho.
Qual a filosofia em que assenta?
“Sê a mudança que queres ver no mundo” uma frase de Gandhi que nos inspira diariamente.
A que necessidades veio ele dar resposta?
Sobretudo à falta de soluções dirigidas à empregabilidade que não assentassem apenas em aquisição de conhecimentos técnicos. O Programa Surf para a Empregabilidade procura trabalhar numa óptica 360º com os participantes.
Que objectivos se propõem alcançar?
O nosso objectivo a prazo é criar um programa que possa ser relevante para aqueles que nele participam promovendo o desenvolvimento de competências para a empregabilidade de pessoas em situação de desemprego, em mudança de carreira ou NEET.
Com o início da sexta edição têm esses objectivo sido alcançados?
O nosso percurso é de aprendizagem e melhoria constante, até ao momento das cerca de 60 pessoas que passaram pelo nosso programa, 70% encontra-se em situação de emprego, seja por conta de outrem ou desenvolvendo o seu próprio negócio. Dito isto consideramos que temos atingido os nossos objectivos até agora e reconhecemos também que temos um programa com valor mas ainda com espaço de evolução.
Quantos participantes têm nesta edição e de onde são oriundos?
Em cada edição recebemos entre dez e doze participantes, sendo que na sexta edição recebemos onze participantes de vários locais do país, nomeadamente, da Póvoa do Varzim, da Vagueira, de Alcanena, da Ericeira, de Almada, de Oeiras e sobretudo de Cascais tornando este o programa o mais “nacional” até ao momento. A média de idades dos nossos programas é de 33 anos, sendo 40% de mulheres e 60% de homens de nacionalidades diferentes (alemães, argentinos, brasileiros, uruguaios e, obviamente, portugueses).
De que forma e através de que acções se desenvolve o programa?
O programa dura seis semanas em modo presencial e actualmente em modo semi-presencial quatro semanas. Durante este período os participantes surfam duas vezes por semana, fazem Yoga e meditação, tem sessões de coaching individual e de grupo. Tem igualmente sessões em diferentes áreas, como economia, finanças e contabilidade, marketing e comunicação, gestão e planeamento, desenvolvimento de projecto, ferramentas digitais, empreendedorismo e procura activa de emprego. Contam ainda com a presença de vários oradores cuja história de vida é verdadeiramente inspiradora. Os nossos formadores vão desde professores da Nova SBE, a especialistas nas respectivas áreas, deste modo conseguimos passar uma visão mais académica, mas também uma visão mais prática e objectiva nas diferentes áreas.
O programa decorre na Nova School of Business and Economics em Cascais (quando presencial – actualmente online).
No fim do programa temos um momento a que chamamos Deep into the Ocean que tem como objectivo fechar o ciclo de aprendizagem e dar um kick-off para a passagem à acção. Depois seguem-se dezasseis semanas de mentoria onde procuramos responder às necessidades dos participantes e para aqueles que procuram uma nova colocação no mercado de trabalho o apoio dos nossos parceiros Randstad e da CM Cascais.
O surf é a ferramenta base. Que mais valias apresenta este desporto?
O surf é uma grande ferramenta de desenvolvimento e empoderamento pessoal, actua como um desbloqueador de emoções. Quando surfamos enfrentamos múltiplos desafios. Muitas vezes o mar está mau e nós entramos na mesma, outras vezes o mar está grande e mesmo com medo arriscamos a entrar, outras vezes o mar está perfeito e não conseguimos apanhar ondas, ou apanhamos, mas caímos. Temos de ser resilientes, temos de ultrapassar os nossos receios, temos de ser cautelosos e responsáveis, temos de respeitar o mar. Há igualmente momentos inesquecíveis em que surfamos a onda na nossa vida e que vamos recordar para sempre. O medo que se transforma na sensação de realizarmos algo que nos parecia impossível. Isto é o que surf nos traz e que podemos transferir para a nossa vida profissional, pessoal e social.
Quais as capacidades desenvolvidas?
De uma forma simples, resiliência, capacidade de lidar com desafios, vitorias e derrotas, plasticidade cerebral, reconhecimento de limitações e qualidades. Estas capacidades (softskills) são transferidas para a nossa vida profissional de uma forma natural, o que torna o surf uma ferramenta muito poderosa, desde que devidamente enquadrada (coaching, sessões com oradores, entre outras).
Qual a taxa de sucesso do programa?
O programa tem até ao momento uma taxa de sucesso de 70%, tendo trazido para o mercado novos projectos na área do surf, mas também na área do turismo, da restauração, das artes e do impacto social. Pelo programa passaram já cerca de 60 pessoas.
O que distingue os participantes do programa Cascais Surf para a Empregabilidade?
Os participantes do Programa Cascais Surf para a Empregabilidade passam por uma selecção levada a cabo pelos nossos parceiros da Randstad, que nos ajudam a identificar pessoas que têm vontade de estar no momento e sobretudo que procuram em ir mais longe, são pessoas dedicadas e dispostas a arriscar para encontrar o seu caminho profissional ou pessoal de sucesso.
Numa altura como a que estamos a viver quais os maiores desafios que se vos colocam?
O primeiro desafio com que nos vimos confrontados foi perceber como poderíamos responder à nossa missão. Em 24 horas o país ficou confinado e com ele a possibilidade de levar a cabo um programa presencial quer no espaço da Nova SBE quer no espaço da praia, onde o surf está ancorado.
Decidimos, no espaço de uma semana, redesenhar o programa para um modelo online, reduzindo de seis para quatro semanas e tentando perceber como poderíamos desenvolver um programa Surf para a Empregabilidade sem Surf e para além disso sem a possibilidade de estar frente a frente com os nossos participantes, algo que nos ajuda no desenvolvimento do processo. O resultado desta remodelação acabou por ser muito melhor do que esperávamos e conseguimos ter um grupo extraordinário que, no fim do Programa, ainda teve a possibilidade fazer uma aula de surf em conjunto.
Para respondermos a este desafio foi fundamental o apoio dos nossos parceiros que connosco percorreram esta onda, nomeadamente a Câmara Municipal de Cascais, a Nova SBE, a Randstad, a Way Beyond, o Sushi at Home, a Despomar, a Federação Portuguesa de Surf, o Clube Lombos Praia, o Power X by IC, a ASSW Surf Academy e a Surfrider Foundation Lisboa.
A decisão de levar a cabo este programa prendeu-se em primeiro lugar com a convicção que não devemos de esperar para que a crise passe e em segundo lugar porque queremos servir as pessoas a quem se destina o nosso projecto, ou seja, as pessoas sem emprego.
Quando surgiu a Associação Surf Social Wave?
A Associação Surf Social surgiu em Agosto de 2016 de uma ideia do nosso actual presidente/Lifedreamer, António Pedro de Sá Leal, que quando decidiu fechar a sua empresa ligada ao surf Alfarroba Ideias e Eventos, considerou era chegado o momento de dar de volta, e nesse sentido desenvolveu o projecto desta Associação juntamente com outras oito pessoas de diferentes áreas de actividade. Formalmente a Associação foi criada em Abril de 2017.
Em que alicerces assenta a vossa actividade?
Somos uma associação sem fins lucrativos, cujo financiamento é híbrido. Por um lado, temos apoio financeiro da Câmara Municipal de Cascais, do Sushi at Home, da Despomar, da Way Beyond e de outros parceiros, por outro temos uma escola de surf ASSW Surf Academy, cujas receitas revertem para o nosso projecto e organizamos ainda o Campeonato Nacional de Bodysurf. Para além disto estamos em fase de desenvolvimento de um spinoff para empresas que queiram desafiar-se e ir mais longe utilizando o processo DCTM©.
Que ensinamentos e valores transmite o surf?
O surf é um elemento absolutamente diferenciador na vida dos surfistas, nele podemos encontrar um espaço de equilíbrio, harmonia e sintonia com o planeta e connosco.