É uma pessoa carismática e “agregadora”? Será que isso lhe pode valer ser contratado (mesmo que não seja o melhor para a função)? Há quem garanta que sim

São as pessoas carismáticas, simpáticas e, acima de tudo, a “cola social” que mantêm o escritório unido. E as redes sociais têm um novo nome para elas: “contratação de personalidade”, avança o ABC Everyday.

 

«Este conceito de contratação de personalidade é uma tendência actual online, predominantemente no TikTok, onde os jovens partilham que acreditam ser a personalidade contratada para o seu local de trabalho», explica Edith Hill, da Flinders University.

«Essa tendência muitas vezes mostra pessoas a reencenar a entrada no seu local de trabalho em câmara lenta com uma legenda que diz algo como: “A chegar ao trabalho sabendo que não sou excelente na minha função, mas que elevo o moral no escritório.”»

É a mais recente de uma série de tendências, como o “quiet quitting”, que usa a comédia para explorar o mundo do trabalho. Mas todos tipos de humor têm uma verdade por trás.

Será que os empregadores realmente contratam pessoas pela sua personalidade? E o que diz essa tendência sobre as competências valorizadas no local de trabalho?

O que é uma contratação de personalidade?

Há inúmeros vídeos a exaltar os benefícios das “contratações de personalidade”, mesmo que a tendência seja algo irónica.

«A maioria das pessoas que está por dentro destes temas sabe que algumas tendências no TikTok são simplesmente divertidas», realça Edith Hill. «Muito raramente alguém leva esses temas a sério ou os usa de forma crítica… basicamente estão a iniciar uma conversa sobre como as várias competências diferentes são valorizadas no trabalho e conhecem as suas mais-valias.»

No fundo, todos conhecemos pessoas que agregam valor aos seus locais de trabalho, aumentando o moral e dando-se bem com toda a gente. E Edith Hill diz que essas competências são altamente valiosas em muitos ambientes de trabalho.

Carys Chan, da Griffith Business School, acredita que as contratações de personalidade são um fenómeno real em muitos locais de trabalho. «Acho que a maioria das organizações alinha em contratações de personalidade com boas intenções», acredita.

«Algumas acreditam que podem promover um ambiente de trabalho positivo ou uma dinâmica de equipa, outras crêem que são boas para a marca e reputação da empresa.»

Edith Chan explica que os colaboradores carismáticos são descritos nos locais de trabalho como sendo mais amigáveis e bons em comunicação, e «portanto, capazes de inspirar e energizar os seus colegas e, potencialmente, melhorar a colaboração e a criatividade da equipa».

Carisma vs qualificações

Embora seja importante conviver com os colegas, os locais de trabalho precisam de colaboradores com mais do que apenas carisma.

«O carisma não é tudo. Em primeiro lugar, um profissional carismático pode nem sempre ser o melhor ou ter um bom desempenho», alerta Edith Chan. «Além disso, enfatizar o carisma em detrimento das qualificações pode levar a ignorar competências críticas necessárias para funções específicas. E pode fomentar uma cultura de favoritismo, comportamentos dentro/fora do grupo e minar o moral dos colaboradores.»

Deve contratar-se apenas com base na personalidade?

Aceitar a existência e até mesmo os benefícios de uma contratação de personalidade é uma coisa, mas será que os locais de trabalho deveriam procurá-los activamente e recrutá-los?

«A nível individual, os gestores ou colaboradores devem tentar não julgar e, em vez disso, concentrar-se em atingir os objectivos da equipa ou da organização. As contratações de personalidade ainda podem desempenhar o seu trabalho e devem ser tratadas e respeitadas como qualquer outro colaborador», aconselha Edith Chan.

«Se aquele profissional não estiver a desempenhar bem o seu trabalho, é importante dar feedback de forma construtiva, abordar as preocupações e questões de forma diplomática e tentar garantir que as decisões de contratação sejam tomadas com base nas competências, qualificações e experiência anterior, juntamente com a sua personalidade», conclui a especialista.

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