Quer aumentar o sentido de propósito e o bem-estar na sua organização? Comece por “pixelizar” o trabalho

A transformação do trabalho por via da Inteligência Artificial (IA) tem a promessa de reduzir custos, mas também o potencial de elevar o sentido de propósito e a ligação humana dos profissionais com o seu trabalho, avança a Forbes.

 

No centro desta transformação está a ideia de “pixelizar” o trabalho – dividindo-o nos seus resultados, tarefas e competências, e depois reagrupando-o de forma a optimizar tanto os objectivos empresariais como a realização humana. Isto envolve compreender as capacidades inerentes e aprendidas dos profissionais, bem como as suas motivações e aspirações, e depois combiná-las com o trabalho que lhes permitirá contribuir significativamente enquanto crescem e se desenvolvem.

«Para que as organizações encorajem o desempenho e o bem-estar das pessoas, e para que esses temas sejam completamente integrados, chegou a hora de redesenhar o trabalho», afirma Sam Schlimper, directora-geral da Randstad Enterprise.

A pixelização do trabalho não se trata apenas de unir humanos e IA, mas de repensar a natureza dos empregos e a relação entre as pessoas e a tecnologia. Historicamente, os empregos têm sido definidos como um conjunto de tarefas, muitas das quais não eram inerentemente significativas ou gratificantes para os profissionais. A IA apresenta a oportunidade de automatizar muitas dessas tarefas rotineiras, libertando as pessoas para se concentrarem em trabalhos criativos e estratégicos de maior valor.

O trabalho humano tornar-se-á mais complexo

No entanto, esta transição também apresenta desafios. Quando a IA assume tarefas facilmente automatizadas, o que resta aos humanos é um trabalho mais complexo e intelectualmente desafiador, alerta Sam Schlimper. «Isso é exactamente o que deveríamos fazer, mas o que significa isso do ponto de vista do bem-estar e como apoiamos as pessoas?»

O papel fundamental dos profissionais de Recursos Humanos

Enfrentar estes desafios exigirá um esforço concertado do departamento de Recursos Humanos para redesenhar as práticas de trabalho e apoiar os colaboradores durante a transição. Nichol Bradford, executivo residente de Inteligência Artificial e Humana na SHRM, explica: «Um trabalho é basicamente um conjunto de tarefas: aquelas que um profissional quer fazer e as outras de que não gosta. É o que a Microsoft chama de “rácio alegria versus trabalho”. A chave é automatizar as coisas que realmente não se gosta de fazer.»

O desafio é o facto de os empregos serem encarados como um conjunto de tarefas em vez de criações ligadas a resultados. Por isso, torna-se necessário mudar a forma de pensar ou será fácil ficar preso à escola de pensamento “A IA vem roubar-nos os empregos”. Os Recursos Humanos têm de formar os colaboradores, fomentar abertura à mudança e permitir sucessos individuais que se traduzirão colectivamente numa maturidade organizacional de IA.

Uma pesquisa da BetterUp sublinha a importância do role-modelling. As equipas com líderes que adoptam a IA estão inevitavelmente mais bem preparadas para adoptar novas ferramentas e práticas baseadas na IA do que as equipas com gestores mais relutantes em explorar o potencial da IA.

«Muitas organizações estão conscientes de que precisam de impulsionar a adopção da IA entre a sua força de trabalho, mas não têm uma estratégia para tal. Isso é um desafio não por causa das ferramentas, mas devido ao ritmo da mudança humana», explica Gabriella Rosen Kellerman, directora de inovação da BetterUp.

«Na nossa pesquisa, encontrámos uma mentalidade específica que diferencia os profissionais prontos e dispostos a adoptar a IA daqueles que não o estão. Chamamos a isso “mentalidade piloto” e consiste numa combinação de acção e optimismo. Os pilotos têm 75% mais probabilidade de usar IA do que os seus homólogos, os pessimistas passageiros.»

A BetterUp Labs descobriu que os líderes com “mentalidade piloto” têm três vezes mais probabilidade de ter equipas com essa mentalidade; e que os gestores são o factor mais importante que influencia mindsets, cultura ou outras influências externas.

«As organizações devem capacitar os gestores para priorizar as competências humanas de gestão, como o reconhecimento e a motivação, skills que inspiram acção e optimismo, e aprender a transferir para a IA tarefas menos humanas, como gestão de prazos», acrescenta Gabriella Kellerman.

Elevar a experiência humana do trabalho

Em última análise, o objectivo é elevar a experiência humana de trabalho. Ao pixelizar o trabalho nos seus componentes essenciais e depois reconfigurá-lo de forma a aproveitar os respectivos pontos fortes dos seres humanos e da IA, as organizações podem desbloquear um potencial anteriormente inexplorado tanto para o desempenho empresarial como para o bem-estar dos colaboradores.

Para dar vida a esta visão, os líderes de RH devem ir além de mudanças nas políticas e benefícios e mergulhar verdadeiramente na reformulação de funções e dos fluxos de trabalho. Shivani Parekh, sócia da Kearney e responsável de Comunicação, Media e Tecnologia, afirma: «As empresas precisam de desbloquear o “cérebro inteiro” da organização. Isto significa combinar o poder da intuição e da emoção humanas com o potencial da IA, não apenas para redesenhar empregos, mas para colaborar transversalmente, tomar decisões e gerar melhores resultados.»

A convergência de capacidades poderosas da IA e uma crescente crise de bem-estar dos colaboradores criou uma plataforma pronta para a mudança. As organizações que aproveitarem com sucesso a IA para melhorar a experiência humana de trabalho prosperarão nos próximos anos, as que não conseguirem adaptar-se correm sérios riscos de obsolescência.

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