Cristina Fonseca, Indico Capital Partners: «Há uma necessidade real de requalificar pessoas e dotá-las de mais competências digitais»

No último dia da edição 2021 do Building the Future, dedicado à Educação, falámos com uma das oradoras, Cristina Fonseca, co-fundadora da Talkdesk e actual Venture Partner da Indico Capital Partners, que defende que é preciso requalificar os profissionais, «não só para fazer face à destruição de emprego, mas também para os tornar capazes de superar os novos desafios das organizações».

Por Sandra M. Pinto

 

Foram mais de uma centena sessões e 200 oradores, que integraram a edição 2021 do Building the Future – considerado o maior evento de transformação digital do ecossistema empresarial português, liderado pela Microsoft e desenvolvido pela imatch -, onde foram debatidos temas que têm vindo a relevar-se cruciais para enfrentar o futuro, ainda incerto, que nos aguarda.

Cristina Fonseca defende que a melhor forma de enfrentar a incerteza «não é reinventar a roda, mas rodear-se de parceiros que já tenham visto os nossos problemas noutros contextos, ouvir histórias inspiradoras e expor os nossos desafios a uma comunidade de pessoas capazes de trazer uma perspectiva diferente para a discussão».

 

Com a pandemia muita coisa mudou. De que forma se deve o ensino adaptar para responder às necessidades actuais do mercado?
A questão é difícil porque o ensino tem, em primeiro lugar, de ser inclusivo. Obviamente que a nossa expectativa, pelo menos no curto prazo, é que o ensino consiga ser transportado para uma realidade digital por força das circunstâncias. O ensino remoto tem de ser uma possibilidade, mas tem também de considerar restrições de acesso a redes, equipamentos, literacia tecnológica e garantir que todos os estudantes têm as condições em casa para poderem estudar e aprender. Sendo dos sectores mais fundamentais da sociedade, é também um dos mais desafiantes hoje.

 

Um futuro digital será construído com a personalização e o recurso a experiências imersivas?
Um futuro digital faz sentido se e enquanto a tecnologia resolver problemas. A tecnologia foi crucial em garantir que conseguimos continuar a trabalhar remotamente, fazendo compras, assistindo a aulas online, entre outros.
Todos nós esperamos que a tecnologia seja não só um solucionador de problemas, mas também seja personalizável. Os exemplos mais simples incluem usar um messenger sem escrita inteligente, ou ir ao youtube, mas sem histórico e recomendações. Funcionalidades de personalização estão já tão enraizadas nas ferramentas tecnológicas que usamos que estas não são tendências de futuro, mas sim de presente.
Claro que a maioria destas funcionalidades nos passam despercebidas e há efectivamente a oportunidade de criar experiências mais imersivas, que de alguma forma aproximem a interação virtual à real.

 

Será inevitável o aparecimento de novos modelos de negócios? Se sim de que tipo e características?
Não sei se iremos ver novos modelos de negócio a surgir porque num negócio há que alinhar incentivos das partes intervenientes. A maior disrupção está em aplicar modelos de negócio diferentes a áreas novas e, sobretudo, novas formas de trabalhar. Áreas como a educação, saúde são duas muito óbvias.

 

Que importância terá o reforço das competências digitais nas novas oportunidades de negócio do futuro?
O último ano veio acelerar a transição digital em todos os sectores, por forma a que dos professores aos funcionários públicos, toda a gente se viu forçada a desempenhar as suas funções de forma mais digital requerendo competência novas.
Por outro lado, as dificuldades que algumas empresas estão a sentir, como é por exemplo o caso da restauração, irão com certeza destruir empregos que dificilmente terão procura nos próximos anos. No entanto, outras empresas, como é o caso das de e-commerce ou departamentos de serviço ao cliente, estão pressionadas e à procura de pessoas com competências digitais.
Nesse sentido, há uma necessidade real de requalificar pessoas e dotá-las de mais competências digitais, não só para fazer face à destruição de emprego, mas também para as tornar capazes de superar os novos desafios das organizações.

 

Qual é hoje o papel desempenhado pela inovação? É ela agora ainda mais importante e essencial?
A inovação é um “ser” que até agora se materializava na visão de fazer diferente ou fazer coisas novas no futuro, noutros casos era um departamento a explorar novas ideias de negócio ou melhorias internas, para algumas empresas seria um evento anual. A inovação hoje em dia traduz-se em ter um radar que constantemente procura novas oportunidades, não ter medo ou resistência em fazer a mesma coisa de formas diferentes e saber mais que nunca que os negócios dependem disso.

 

Num mundo em mudança será necessária uma aproximação de empresas de todos os setores da atividade económica? Por quê?
Como mencionei anteriormente, um mundo em mudança obriga a ajustes constantes e a melhor forma de iterar na direção correta é rodearmo-nos de inspiração, daí a importância da aproximação de outras pessoas e organizações sejam de que sector forem.

 

O que mudou para os clientes em 2020?
A pandemia trouxe clientes mais exigentes e menos pacientes, o que criou pressão nas empresas que têm de reagir cada vez mais rápido.

 

Que novas iniciativas estão a ser implementadas e de que forma iniciativas como o Building the Future podem contribuir?
As organizações estão a tirar do papel muitos projectos que tinham em mente, mas que em alguns casos resistiam em fazer acontecer em muitos casos por falta de incentivo a fazer acontecer.
A pandemia veio colocar uma pressão enorme não só na capacidade de resposta dos hospitais, mas também nas operações logísticas dos retalhistas, na capacidade de processamento dos bancos, nas redes e sistemas de lojas online, para além de desafiar a resiliência de cadeias de hotéis e restaurantes. Um dos papeis de iniciativas como é o caso do Building The Future é o facto de juntar para discussões da actualidade líderes que partilham dores muito semelhantes e que tiveram de reagir (e ainda o estão a fazer) relativamente rápido.
A melhor forma de o fazer não é reinventar a roda, mas rodear-se de parceiros que já tenham visto os nossos problemas noutros contextos, ouvir histórias inspiradoras e expor os nossos desafios a uma comunidade de pessoas capazes de trazer uma perspectiva diferente para a discussão.

 

Perante a incerteza como devemos olhar para 2021?
Com esperança no futuro, com optimismo em relação às oportunidades que agora se criam, e com a curiosidade necessária para navegar um ano que será incerto, em relação ao qual não se consegue planear com muita clareza. 2021 será um ano em que teremos de aprender a estar confortáveis com a incerteza.

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