Erros de casting

Por Pedro Rocha e Silva, CEO da Neves de Almeida HR Consulting

 

O ano de 2020 foi um ano exigente para as organizações e, em particular, para os titulares de cargos de gestão, tendo aumentado significativamente os seus níveis de exposição e de pressão.

2021 não será muito diferente e estes são contextos que potenciam o desejo por novos desafios, seja porque o nível de desgaste atingiu proporções para além do razoável, seja porque se avizinham as chamadas reestruturações que implicam invariavelmente alguma dança de lugares.

Temos notado desde há uns meses a esta parte um aumento daquilo a que designamos como job seekers, ou seja, executivos que procuram um novo desafio, posicionando-se nos diferentes canais de recrutamento (networking, Executive Search, anúncios).

É nestes contextos que mais se sucedem os erros de casting, sendo que refiro aos erros que os executivos cometem ao escolher a organização para onde se mudam, e não o contrário (que também sucede).

É quando estamos com uma forte e declarada vontade de mudar que mais erramos, para além de adensarmos erros na organização onde já não nos revemos e onde (não fisicamente) vamos deixando de estar.

É aqui que gostaria de lançar o conceito dos drivers motivacionais.

Falamos em compreender o nos que impele à ação. Quais são os valores que estão por detrás das nossas atitudes e comportamentos? Que valores são essenciais para nos sentirmos motivados? Estão estes valores presentes no contexto profissional atual?

O conhecimento dos drivers motivacionais de cada colaborador é cada vez mais vital nas organizações, mas é em primeira instância fundamental para o próprio executivo naquilo que se prende com a gestão da sua própria carreira.

Ter esses drivers motivacionais sempre presentes revela-se crítico na decisão de aceitar/procurar desafios internos, mas ainda mais crítico quando estamos perante uma decisão de procurar um novo desafio fora da organização onde estamos.

O que nos motiva? O que nos faz querer acordar de manhã para ir trabalhar? O que nos faz brilhar os olhos? É a sensação de poder? É o gosto pela atividade que desenvolvemos? É o dinheiro? É o cargo? É a reputação da empresa? A autonomia de fazer coisas? O ter acesso a boas práticas e a colegas que nos desafiem permanentemente?

É absolutamente crítica esta auto-reflexão e, nos momentos de decisão, reunir informação sobre o desafio que nos propõem e perceber de que modo endereça ou não aqueles aspetos que são determinantes para cada um.

Será o resultado dessa análise que deverá determinar a decisão.

Mas o que vemos frequentemente suceder? A tomada de decisão com base nos fatores “tradicionais”, ou seja, remuneração e cargo.

E o que invariavelmente vamos assistindo é ao reconhecimento dos erros, passado pouco tempo.

O que acham que acontece com profissionais que valorizam autonomia e capacidade de fazer acontecer e aceitam um desafio de uma grande organização, com processos pesados e alguma cultura hierárquica? Obviamente desmotivação e baixa performance.

O que acontece a quem valoriza o acesso a conhecimento e boas práticas e aceita um convite de uma empresa menos estruturada, menos sofisticada em termos de práticas e que lhe oferece um cargo pomposo e um melhor salário? O mesmo.

Pensar nestes temas exige muito trabalho de recolha de informação e de análise, mas é esse trabalho que poderá minimizar os erros de casting, com consequências nefastas seja para a pessoa, seja para as duas empresas (a que deixou e a que integrou).

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