Este ano houve muita uva. Mas será que vai ser um ano de bom vinho? Os produtores já o desvendaram
Com o fim das vindimas, é tempo de perspectivar as características das novas colheitas. Os produtores dos vinhos Flor do Côa (Douro), Camaleão e Musgo (Vinhos Verdes), e Pica Pica e Na Mouche (Dão) revelam o que se pode esperar.
Com o fim de um importante momento do mundo vínico, a vindima, chegou a hora de fazer um balanço da colheita e o que se pode esperar dos néctares que chegarão em breve ao mercado.
Os produtores da gama do Douro Flor do Côa, produzido pela Costa Boal Family Estates, os verdes Camaleão e Musgo, da J. Cabral Almeida, e dos vinhos do Dão Pica Pica e Na Mouche, com origem na Quinta de Lemos,são unânimes a caracterizar o último ano vínico como atípico, muito devido às alterações climáticas. No entanto, asseguram a boa qualidade dos vinhos, que chegarão em breve às lojas.
Na vindima da Costa Boal (Douro), da Quinta de Lemos (Dão) e da J. Cabral Almeida (Vinhos Verdes) a tradição ainda é o que era e, também, pelas características das vinhas destes produtores, a colheita é realizada manualmente. «Isto permite uma selecção e um cuidado com a fruta que tornam o trabalho na adega mais fácil, melhorando a qualidade dos mostos e, consequentemente, dos vinhos elaborados», salienta João Cabral de Almeida.
Na última colheita há várias castas que se destacam nas três regiões. No Douro, António Costa Boal não tem dúvida: «As brancas são fenomenais, porque dão para trabalhar antes da chuva, castas como a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinto Cão e Sousão».
Nos vinhos verdes, João Cabral de Almeida, as famosas castas desta Região – Alvarinho e Loureiro – voltaram a ser as protagonistas «num ano de desafios constantes». Já no Dão as castas Jaen e Tinta Roriz são as que prometem, como refere Hugo Chaves: «Pois são aquelas que são vindimadas mais cedo e num ano, como este, com muita chuva, são também aquelas que vão originar um melhor vinho».
Assim, os produtores esperam que o fruto destas vindimas seja: vinhos de qualidade. Na J. Cabral Almeida a expectativa é que estes sejam «frescos, equilibrados e com boa capacidade de evolução». Da Quinta de Lemos, os vinhos serão «elegantes, com muito bom comportamento a nível aromático». Na Costa Boal «apesar de ter sido um ano atípico não reduziu à qualidade certa, temos bastante qualidade».
A verdade é que as alterações climáticas impõem grandes desafios ao sector vitivinícola, nomeadamente a antecipação das vindimas, que, de ano para ano, começam mais cedo. No entanto, os produtores mantêm uma atenção constante na vinha e acompanham de perto todas as mudanças.
«Há castas precoces, que precisam de ser vindimadas mais cedo, e as que podem permanecer mais tempo na vinha. Para fazermos o planeamento, temos de saber contar com todo o tipo de meteorologia, e depois fazer um rigoroso controlo das castas, com vista a garantir a qualidade do produto final», explica António Costa Boal.
«Fenómenos extremos, como ‘escaldões’ e chuvas abundantes em alturas que não é suposto chover, tornam-se cada vez mais frequentes, fazendo que o trabalho seja cada vez mais desafiante ano após ano», refere João Cabral de Almeida, acrescentando que estes fenómenos têm impacto nas «maturações da uva, fazendo com que as diferenças entre anos e castas sejam cada vez mais evidentes, tornando obrigatória uma adaptação rápida tanto na viticultura como na enologia»
A antecipação das vindimas é algo que se tem verificado de ano para ano em todas as regiões, mas à qual os produtores se têm conseguido adaptar e já tomam medidas no âmbito da sustentabilidade para tentar minimizar os impactos. «Há dez anos que trabalhamos com agricultura biodinâmica, que eu considero que não funciona muito bem na região do Dão, por isso essa parte da propriedade foi agora passada para um sistema biológico, mas temos de ir fazendo experiências e perceber como conseguimos ser mais sustentáveis neste tipo de produção», revela Hugo Chaves.
Na propriedade da Costa Boal está a ser realizada «a aplicação de micronutrientes por via foliar, para a vinha ter um maior desenvolvimento quando faltar água. Basicamente, a planta consegue ter nutrientes armazenados para manter a qualidade do produto final».
Já João Cabral de Almeida afirma que a «compra de uvas em zonas geográficas cada vez mais perto dos nossos centros de vinificação», contribui para «reduzir a pegada ecológica dos transportes e ‘ajudar’ a economia local a desenvolver-se».