Estórias com Propósito | Rita Piçarra: Reformada aos 44

No dia 17 de Julho de 2023, deixei os escritórios da Microsoft Portugal pela última vez. No meu e-mail de despedida lia-se: «Todos temos duas vidas, a segunda começa quando nos apercebemos de que temos apenas uma.» Confúcio.

 

Por Rita Piçarra

 

A citação de Confúcio ajudou-me a tomar uma decisão difícil: iniciar uma nova fase, retirar-me e deixar a empresa onde passei a maior parte da minha vida profissional.

Planeei a minha carreira e a minha independência financeira durante mais de 20 anos e, quando o momento finalmente chegou e anunciei a minha retirada do mundo corporativo, deparei-me com um desafio, algo que não tinha antecipado. A realidade é que quando chegamos à reforma, ou nos retiramos do mundo corporativo, seja ela porque atingimos a nossa independência financeira – como fiz aos 44 anos –, ou porque chegamos aos 66 anos e quatro meses, é necessário encontrar um novo propósito, um novo objectivo de vida, para nos sentirmos úteis para a sociedade e, claro, não cairmos em depressão, como acontece com muitas pessoas que passam por esta etapa.

Trabalhei com uma psiquiatra para encontrar o meu novo propósito, perceber o que ainda me deixa com um sorriso na cara. Rapidamente entendi que o meu novo propósito passaria por ajudar pessoas, que é, de facto, algo que sempre gostei de fazer. Não sabia exactamente como, onde, se seria através de voluntariado, ou a dar aulas numa universidade de terceira idade. Teria de perceber o percurso.

O voluntariado seria, sem dúvida, uma opção, já que não seria a primeira vez que o faria. Já fiz acções de voluntariado várias, desde plantar árvores a ajudar crianças nas favelas do Brasil, passando por ensinar código com o programa Mindcraft na Malásia, até ajudar jovens desfavorecidas a estarem prontas para entrevistas de emprego.

Porém, após a minha história se ter tornado viral, percebi que o meu novo propósito era incentivar as pessoas a tomar as rédeas da sua vida, procurar a sua ambição, alcançar os seus sonhos e aumentar a sua literacia financeira.

Estas experiências de voluntariado proporcionaram uma vasta gama de competências e ensinamentos valiosos. Ao plantar árvores na serra de Sintra, aprendi imenso sobre sustentabilidade ambiental e trabalho em equipa. Ao ajudar crianças nas favelas do Brasil, aprimorei soft skills como a empatia e a resiliência, e desenvolvi a minha capacidade de comunicação.

Ensinar código com o programa Minecraft na Malásia permitiu-me aperfeiçoar as minhas habilidades para o ensino e reforçar a minha adaptabilidade e pensamento criativo. Para além de tudo isto, ajudar jovens desfavorecidas a estarem prontas para entrevistas de emprego ensinou- -me muito sobre empoderamento, mentoring e capacitação. Estas competências são amovíveis e essenciais para diversas áreas da nossa vida pessoal e profissional, enriquecendo-nos enquanto indivíduos e contribuindo para um mundo mais empático, inclusivo e justo.

Depressa percebi que, se quisesse chegar a mais pessoas e ter mais alcance, o próximo passo lógico seria escrever um livro, na esperança de conseguir ajudar e inspirar ao longo de várias páginas, com dicas práticas e conselhos pessoais.

O livro “A Vida Não Pode Esperar” é um lembrete de que o tempo é um bem precioso e que devemos aproveitar cada momento. Sugere que as oportunidades e experiências não devem ser adiadas, pois a vida é imprevisível e o futuro não é garantido. É um convite a agir em relação aos nossos sonhos, à nossa ambição, valorizando o presente tentando sempre encontrar o equilíbrio entre a nossa vida profissional e pessoal.

Acredito firmemente que todos os dias nos presenteiam com uma nova oportunidade de impactar a vida de alguém, de fazer a diferença na sociedade e no mundo que nos rodeia. A vida é uma dádiva preciosa, e cada dia é uma oportunidade para a vivermos plenamente.

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº. 159) da Human Resources.

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