Estratégia sem pessoas ou pessoas sem estratégia: é possível escolher?

Provavelmente, já todos aqueles que lideram negócios ou departamentos se colocaram esta questão, em algum momento.

Por Catarina Quintela, director of Corporate Solutions na Porto Business School

 

A resposta a esta questão exige uma reflexão profunda sobre a gestão e implementação de planos e objetivos dentro das organizações. A resposta não é simples e varia de acordo com o contexto. De repente, diríamos que elas são interdependentes e que ambas são elementos essenciais para o sucesso de uma empresa ou organização.

Sabemos que mesmo a estratégia mais bem pensada pode falhar se não houver comprometimento, entendimento ou capacidade de execução por parte das pessoas que a implementam. A falta de compromisso, a comunicação deficiente e a ausência de competências necessárias podem comprometer seriamente os resultados. Poderia funcionar em situações muito específicas, onde processos automatizados e sistemas avançados de IA desempenhariam a maior parte do trabalho, reduzindo a dependência de intervenção humana. Mesmo assim, a supervisão e manutenção humanas permanecem críticas.

Por outro lado, uma equipa motivada, competente e comprometida, sem uma direção clara ou objetivos bem definidos, desperdiça recursos e energia em esforços que não contribuem para um objetivo comum. Isso acaba por conduzir à frustração e à falta de compromisso. Se não sabemos para onde queremos ir, qualquer caminho é válido, mas nunca saberemos se chegamos ao sítio certo. Ambientes inovadores e criativos, onde a experimentação e a descoberta são valorizadas mais do que a eficiência ou a produtividade, poderiam funcionar sem uma estratégia muito clara; no entanto, mesmo nesses casos, algum nível de direção estratégica é geralmente necessário para garantir a viabilidade e a sustentabilidade a longo prazo.

Dito de um outro modo, a escolha entre “estratégia sem pessoas” e “pessoas sem estratégia” é um falso dilema. Na realidade, é consensual que uma organização precisa tanto de uma estratégia quanto de pessoas comprometidas e competentes.

O sucesso passa por alinhar a estratégia com as capacidades e a motivação das pessoas, garantindo que ambas se reforcem mutuamente. Num mundo ideal, que sabemos que não existe, quando nasce uma organização, já deve nascer com estratégia e, portanto, a seleção das pessoas já deverá ser alinhada com o propósito da empresa ou negócio. Mas sabemos também que, na maioria dos casos, os gestores e os líderes herdam as organizações com as pessoas e equipas já selecionadas e é-lhes pedido, a posteriori, a revisão ou atualização da estratégia. Paralelamente, sabemos que as pessoas e competências que trouxeram a empresa e o negócio até determinado ponto podem não ser aquelas que o levam de agora em diante.

Então, quais são as questões que os gestores se devem colocar quando se sentem frustrados com as suas equipas e consideram que não têm a equipa que precisam para implementar a sua estratégia?

Partilhamos alguns exemplos:

Estamos a recrutar e selecionar de acordo com as competências necessárias? Sabemos quais são?

Estou a ser claro quanto ao que é pretendido de cada pessoa?

As minhas expectativas são razoáveis? Podem ser revistas?

De que é que eu não posso abrir mão para implementar a estratégia? E o que pode ser adiado?

Estou a acompanhar, a dar suporte e a dar feedback aos meus reports diretos?

As pessoas têm os recursos necessários?

Qual o custo de oportunidade de não ter as pessoas certas no negócio?

O que acontece à cultura organizacional se mantivermos as “maçãs podres”?

Posso traçar um plano de médio e outro de longo prazo?

As respostas a estas questões serão, necessariamente, muito diversas, mas certamente podem ajudar a traçar um plano de médio e longo prazo.

Estratégia sem pessoas ou pessoas sem estratégia: é possível escolher? Diria que sim, desde que haja a coragem para traçar um plano e segui-lo! Se fosse fácil, não haveria “estratégias que falham e outras que acertam”!

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