Estudo revela quais os sectores com mais profissionais em risco a nível de saúde mental

A intervenção na saúde mental e prevenção do burnout é prioritária nas empresas, concluiu um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis, indicando que os trabalhadores da saúde, educação e administração pública são os de maior risco.

Neste grupo de maior índice de risco estão igualmente os trabalhadores dos sectores dos transportes, área social e comércio e retalho.

O estudo aponta também para a necessidade de as empresas desenvolveram estratégias de gestão de conflitos e chama a atenção para as empresas trabalharem a questão da liderança.

O trabalho analisou cerca de 2000 trabalhadores de sectores de actividade como a saúde, administração pública, transportes, alojamento e restauração, educação e indústria, entre outras, identificando níveis de risco elevado em termos da saúde mental, com quase 80% dos trabalhadores a apresentarem pelo menos um sintoma de burnout.

«Normalmente, a avaliação do ambiente das empresas é feita de forma segmentada. (…) Este instrumento de avaliação que usamos [EATS – Ecossistemas de Ambientes de Trabalho Saudável] permite fazer uma avaliação integral, no mesmo momento, de todas as áreas e relacioná-las, porque elas influenciam-se mutuamente e estão relacionadas», explicou à Lusa a coordenadora do trabalho, Tânia Gaspar.

Os investigadores avaliaram várias organizações a nível nacional e, depois, fizeram estudos específicos por sectores de actividade, uma vez que o comportamento de alguns sectores de actividade «envolve mais risco do que outros».

Segundo os dados a que a Lusa teve acesso, são três as dimensões que apresentam maior risco: saúde mental e burnout, as lideranças e os recursos, ou, neste caso, a falta deles.

«Muitas vezes quando se fala de burnout parece que é excesso de trabalho, mas, às vezes, não é só o excesso de trabalho. Há vários factores de risco para o burnout. Por exemplo, pode haver exigência extrema a nível do esforço físico e psicológico, emocional ou até cognitivo, mas também [contribuem] as tensões e relações tóxicas com as lideranças e com os próprios colegas de trabalho», explicou.

A psicóloga refere igualmente que para a situação de burnout, que se vai instalando com o tempo, também pode contribuir o facto de a pessoa sentir que o seu trabalho não é reconhecido ou que as suas competências estão mal aproveitadas.

Tânia Gaspar disse que, muitas vezes, estas pessoas chegam ao consultório e as queixas são relativas a problemas de sono: «Efectivamente conseguimos compreender [em consultório] que a pessoa não está a conseguir dormir porque ou alterou o seu padrão de relações interpessoais, está mais hostil, mais intolerante para os outros».

«O facto de cerca de 80% dizer que tem pelo menos um dos destes sintomas – tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo é algo que nos preocupa», sublinhou a especialista, frisando que 63% das pessoas apresentam os três sintomas. Esta situação afecta o profissional em diversas áreas da sua vida, incluindo a saúde física, social e a saúde laboral. «Logo, a própria empresa acaba por ficar afectada», observou.

«A pessoa acaba por ter um desempenho mais debilitado, (…) tende a trabalhar menos e a fazer mais erros, a ter mais stress, a criar mais relações menos positivas também no contexto laboral, afectando o trabalho de equipa», disse a responsável, insistindo: «ter uma pessoa nesta situação também não é positivo para a própria organização e há aqui um trabalho de prevenção a fazer».

Neste estudo, os trabalhadores disseram igualmente que se sentem pouco valorizados, que sentem que não são envolvidos na tomada de decisões, que a liderança está focada na obtenção de resultados e não o suficiente no bem-estar dos profissionais e consideram que, muitas vezes, não têm um sentimento de pertença à entidade empregadora.

«Isto é algo em que a organização também tem que reflectir e pensar que, se calhar, ou não está a fazer algo bem ou não está a comunicar bem aquilo que está a fazer», alertou.

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