Felicidade organizacional: Conversa aberta na primeira pessoa

Afinal, a “Felicidade” é o destino ou o caminho?

 

Por Abbadhia Vieira, actriz corporativa, doutoranda em Gelotologia e directora na Happiness Mentality e Teatro Empresarial Motivador (TEM)

 

Recentemente, recebi um e-mail com um título intrigante: “Felicidade Organizacional”. O endereço pareceu-me suspeito e ainda tive dúvidas em abri-lo. Contudo, decidi dar uma chance àquele e-mail e, felizmente, fui recompensado com um texto inspirador e de pura reflexão: «Olá! Sou a Felicidade Organizacional, E tenho muito prazer em conhecê- -la. Sim, embora a senhora saiba o meu nome e eu não saiba nada sobre si, tenho a sensação de que não me conhece muito bem. Por isso, achei importante escrever esta “carta aberta” – embora seja um e-mail, porque vivemos numa era tecnológica.

Já vi e vivi bastante, mas hoje em dia devo confessar que, mesmo sendo uma celebridade de certa forma, sinto-me incomodada com o universo de pessoas que fala de mim na terceira pessoa. Falam de mim sempre de uma maneira tão complexa. As pessoas colocam-me num pedestal, como se eu fosse um conceito abstracto e inatingível. No entanto, a verdade é que sou muito mais simples do que isso. Estou presente no dia-a-dia de cada um e nos pequenos momentos de alegria e satisfação.

Ao observar o seu dia-a-dia, principalmente no trabalho, achei pertinente falar de maneira mais didáctica e detalhada sobre a forma como entendo as coisas e sobre o “modus operandi” da rotina empresarial.

Nesse sentido, questiono-me sobre o que a senhora deseja no final de um dia produtivo, divertido (dentro do possível) e sem excesso de horas de trabalho? Deseja, provavelmente, sentar-se num local agradável, reflectir sobre os sucessos e aprendizagens daquele dia, partilhar algumas ideias e planos para o futuro com os seus amigos ou colegas. Além disso, é claro que também espera ter a sensação de que está, cada vez mais, perto dos seus objectivos profissionais, sem implicações para a sua saúde mental e física.

Logicamente, tudo isto tem uma justa remuneração como recompensa, o que permitirá um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Além do mais, há sempre o desejo de novos dias desafiantes num ambiente onde as falhas podem ser encaradas como transitórias ou degraus para os acertos. Ah! E não menos importante, o desejo que a grande maioria do seu grupo de trabalho esteja alinhada com essa mentalidade.

Pensemos, então, numa lista de 12 tópicos essenciais para alcançar essa felicidade no trabalho:

• Dia produtivo;

• Dia divertido;

• Remuneração justa;

• Sem excesso de horas de trabalho;

• Abordagem reflexiva sobre os sucessos e as aprendizagens;

• Planeamento para o futuro;

• Partilha com amigos e colegas;

• Alcance de metas pessoais;

• Saúde mental;

• Ambiente tolerável ao erro;

• Saúde física;

• Equilíbrio entre vida pessoal e profissional;

• Aceitar os desafios como desafios e não como maldições ou boicotes de terceiros;

• Engagement de pessoas com a mesma mentalidade.

Entre estes tópicos, posso assegurar que apenas alguns dependem, exclusivamente, da mentalidade e da maneira como vai agir diante destas situações. É precisamente aqui que, às vezes, sou confundida com a minha irmã gémea, não idêntica: a infelicidade.

Talvez o que ainda não perceberam é que sou a mesma coisa para todas as pessoas. Não sou diferente para cada um, como às vezes pensam. A felicidade é um estado de espírito, e não um destino pré-determinado. Está ao alcance de todos, mas depende de cada um para cultivá-la e alimentá-la.

FELICIDADE = LOOP

• O desejo de ser feliz;

• Necessidades satisfeitas;

• Expectativas mais baixas do que as realizações;

• Comparações feitas a partir de métricas próprias com a sua evolução individual;

• Alta capacidade de regeneração quanto às frustrações.

 

INFELICIDADE = LOOP

• Indiferente ao desejo de ser feliz ou medo dele;

• Necessidades insatisfeitas;

• Expectativas mais elevadas do que as realizações;

• Comparações com outras pessoas;

• Baixa capacidade de regeneração quanto às frustrações.

Na procura pela felicidade, o que difere são as necessidades de cada um, nomeadamente sobre o que é necessário ou mais importante. Destacam-se ainda os níveis de comparação que divergem em função das pessoas. Por vezes, as pessoas não têm conhecimento do tamanho dos desafios e das conquistas dos outros e, mesmo assim, têm a tendência para fazer comparações. Por um lado, há divergências na forma como as expectativas são criadas, dado que uma parte opta por uma ascensão sustentada e a outra pretende uma ascensão meteórica. Por outro, também existem diferenças na capacidade de regeneração, entre as quais a resiliência e re-estruturação do caminho.

Nas organizações, acham que podem encontrar-me em modelos refinados de formação, palavras difíceis, métodos e fórmulas prontas, reuniões contínuas e exaustivas ou em horas e horas de palestras sobre mim. Além destas ocasiões, também podem encontrar-me em team buildings, relatórios, campanhas, prémios e reconhecimentos. Por isso, peço desculpa, mas não estou por lá. São tentativas válidas, mas sugiro apostar mais neste olhar introspectivo e pessoal. O problema, definitivamente, nunca está no outro. Às vezes, apesar dos esforços e das boas intenções, acabam por encontrar a minha irmã gémea. É, por isso, que existe a decepção.

Acho importante dizer que algumas pessoas ao redor do mundo realizaram estudos e fizeram pesquisas relevantes sobre mim. Quero dizer que é tudo verdade! Por exemplo, Sophie Scott, da University College London (UCL), disse que o riso é um sinal subconsciente de que estamos num estado de relaxamento e segurança, o que permite uma associação livre de ideias e mais criatividade. Quando os membros de uma equipa riem em conjunto, significa que, em princípio, baixaram a guarda.

Outro estudo da Universidade de Warwick, em Inglaterra, constatou que funcionários felizes são 12% mais produtivos e vendem 31% mais do que aqueles que se sentem infelizes. Eu e minha irmã falamos muito sobre isso!

Dou, ainda, outro exemplo. A Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, revelou que o humor no trabalho pode reduzir o stress até 30%, além de aumentar a criatividade em 15%. Ou seja, há caminhos e mapas que já fizeram para me encontrar.

O doutor Rajagopal Raghunathan, da Indian School of Business, também fez uma compilação interessante e uma analogia sobre mim com balões cheios e os seus furos.

Sem contar com Martin Seligman, Sonja Lyubomirsky, Madalena Carey, Mihaly Csikszentmihalyi, Daniel Gilbert, Clóvis de Barros Filho e as publicações na Harvard Business Review e no Journal of Positive Psychology. Poderia passar muito tempo a citar nomes relevantes de pessoas que têm incansáveis pistas para me encontrar, mas não o vou fazer.

Se procurar ou investigar, regularmente, os pontos que mencionei, poderá ver que sou simples, descomplicada e pode ser que me encontre mais vezes para colocarmos a conversa em dia.

Alguns argumentam que a “Felicidade” é o caminho e não o destino, mas sinto-me mais confortável em dizer que sou o destino em vários pontos do caminho.

Vemo-nos em breve, se a senhora quiser!

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