Financiamento condiciona quantidade e qualidade do empreendedorismo em Portugal, conclui estudo

A dificuldade no acesso a capital é «uma barreira importante» à quantidade e qualidade do empreendedorismo em Portugal, sobretudo ao empreendedorismo de «elevado potencial», conclui um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos a apresentar esta segunda-feira.

 

«O empreendedorismo assume um papel fundamental na criação de emprego e no desenvolvimento económico do país. No entanto, as restrições ao financiamento estão entre os obstáculos mais frequentemente identificados por potenciais empreendedores para a criação de novos negócios», aponta o trabalho, intitulado ‘Financiamento do Empreendedorismo em Portugal’ e coordenado por Miguel A. Ferreira (Nova SBE).

Para estabelecer uma relação de causa efeito entre falta de capital e empreendedorismo, o estudo analisa o programa ‘Montante Único’, um programa público português que permite a qualquer pessoa abrangida pelo subsídio de desemprego receber antecipadamente o valor total dos seus subsídios — num máximo de 47.791 euros — para iniciar um negócio.

O único requisito do programa é que os indivíduos não podem auferir qualquer tipo de rendimentos de trabalho, além dos decorrentes do seu negócio, durante um período de três anos.

A investigação analisou dados do universo de indivíduos desempregados em Portugal entre 2005 e 2016 — cerca de dois milhões de pessoas — dos quais apenas 1,1% (23.530 indivíduos) participaram no programa ‘Montante Único’.

Esta análise permitiu concluir que os participantes do programa «são, em média, mais velhos e mais qualificados — a média dos seus salários pré-desemprego era de 1170 euros brutos», do que resulta que «o programa atrai empreendedores de elevado potencial».

De acordo com o estudo, as restrições financeiras são uma barreira importante para a criação de empreendedorismo, pelo que «o acesso a financiamento resulta num aumento da probabilidade de um indivíduo desempregado se tornar empreendedor».

O alívio das restrições de financiamento é apontado como sendo «sobretudo benéfico na criação de empresas que apresentam maior potencial de crescimento e por parte de empreendedores de elevado potencial».

Do trabalho resulta ainda que «1000 euros adicionais de financiamento aumentam em 11% a probabilidade de um indivíduo se tornar empreendedor em Portugal».

Perante um alívio das restrições financeiras, os empreendedores portugueses tendem a apostar em sectores de actividade como o «comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos», «actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares», «indústrias transformadoras» e «alojamento, restauração e similares».

Quando às empresas criadas através do programa ‘Montante Único’, verifica-se que «são, em média, mais pequenas», apresentando «valores de vendas, activos totais e capitais próprios mais baixos do que as restantes».

No que diz respeito ao regime jurídico adoptado no momento de criar um negócio, verificou-se ser «quatro vezes mais provável que os empreendedores constituam uma sociedade do que uma empresa em nome individual».

«Isto é particularmente relevante em Portugal, uma vez que as sociedades, embora representem apenas 32% das empresas em Portugal, são responsáveis por 76% do emprego e 96% das vendas», refere o estudo.

Analisando os empreendedores que criam sociedades, verifica-se que «os indivíduos com salários mais elevados pré-desemprego têm maior probabilidade de empreenderem, uma vez aliviadas as restrições de financiamento, do que os indivíduos com salários mais reduzidos».

«Em suma, o estudo conclui que, ao aliviar as restrições de liquidez dos indivíduos desempregados, o programa ‘Montante Único’ aumenta a probabilidade de criação de empresas com bom desempenho», refere a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

«De uma forma genérica — acrescenta — o estudo indica consistentemente que as restrições financeiras dificultam principalmente o empreendedorismo de elevado potencial, que é aquele que verdadeiramente impulsiona a criação de emprego e o crescimento económico».

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