Flash Talk: A Gestão de Pessoas na medicina veterinária
Tendo como pretexto o XIV Congresso do Hospital Veterinário Montenegro, o director do hospital, Luís Montenegro, explica como o desenvolvimento de competências de gestão de Recursos Humanos na medicina veterinária ganha cada vez mais relevo.
Por Diana Pedro Tavares
Para Luís Montenegro, na Medicina Veterinária, tal como em outras áreas, tão importante como a capacidade técnica, as capacidades humanas e comunicativas são fundamentais para o sucesso. E alerta que Portugal está a perder jovens qualificados nesta área para o estrangeiro.
O XIV Congresso do Hospital Veterinário Montenegro teve um forte enfoque na vertente de Recursos Humanos. Porquê?
A medicina veterinária tem horários de trabalho bastante alargados, com clínicas e hospitais a funcionarem, por vezes, durante 24 horas. Esta realidade leva a uma necessidade de gestão de Recursos Humanos eficiente, o que tem também conduzido à carência de uma maior organização do negócio.
Por isso, temos cada vez mais profissionais, na sua maioria veterinários, a dedicar-se a esta vertente de gestão tanto de negócio, como dos próprios Recursos Humanos, e é neste sentido que o Congresso intervém, apoiando e promovendo a partilha de conhecimentos entre os diversos profissionais.
Com que objectivo promoveram um debate sobre “Trabalhar e viver no século XXI – as competências transversais nos Recursos Humanos”.
Porque esta é uma profissão muito jovem. A veterinária actual é maioritariamente dominada por jovens veterinários, que têm conceitos de vida e de entrega à profissão diferentes dos “veteranos”. Pelo que, esta interacção é muito importante para que tenhamos equipas equilibradas.
Em particular nesta área, que competências considera essenciais?
Hoje em dia, no que às técnicas diz respeito, esta profissão é bastante competente. Contudo, considero que as capacidades humanas e comunicativas são também essenciais para o desempenho desta profissão, pois mesmo que não tenhamos uma excelente capacidade técnica, se não a soubermos comunicar ou se não formos capazes de estabelecer uma ligação com o animal ou o tutor, não teremos sucesso.
Quais precisam ser mais trabalhadas?
Na minha opinião, é a competência técnica “prática”, porque actualmente as nossas instituições de ensino preparam muito bem os jovens do ponto de vista teórico e mesmo de investigação. Contudo, a parte prática é ainda um pouco descurada.
Considera que para profissões relacionadas com saúde, neste caso animal, algumas competências comportamentais assumem maior importância do que competências técnicas?
Acredito que são as duas igualmente importantes e é fundamental que o profissional de saúde tenha ambas bem desenvolvidas. Se dominarmos apenas a competência técnica, mas não formos capazes de comunicar, a técnica de pouco nos serve.
Por outro lado, se apenas soubermos comunicar, mas não formos bons tecnicamente, também não seremos capazes de produzir um trabalho de qualidade com resultados positivos para o doente.
Na área Veterinária, a oferta é adequada à procura? Ou seja, a escassez de talento que se faz sentir, por exemplo na área tecnológica, também é um “problema” na área Veterinária?
Pelo contrário, em Portugal forma-se um número de veterinários excedentário. E o pior é que isto leva a que o país, mesmo depois de investir na sua formação, perca estes jovens para os estrangeiros, que nada apostam na formação e que nos sugam esses jovens, contribuindo para o envelhecimento da sociedade e para a desertificação do país.
Por isso, acho que neste campo algumas medidas de política nacional seriam importantes para que não formássemos estes jovens, com todos os custos que isso acarreta, para depois os perdermos para o mercado externo a custo zero.
O que torna esta área atractiva para trabalhar?
Quem decide seguir esta profissão, geralmente, tem já uma enorme paixão por estas área e pelos animais, porque a veterinária é um caminho muito exigente, tanto em termos de disponibilidade como de esforço.
Para além disso, esta é uma área que vive exclusivamente de recursos privados, não tendo qualquer apoio do Estado, levando a que uma boa gestão seja fundamental para que não exista desperdício de recursos para prestar o melhor serviço aos animais.
Quais as principais conclusões do Congresso em matéria de Gestão de Pessoas?
Que os profissionais desta área mais “dedicados” não são incentivados por prémios monetários, mas sim pela obtenção de resultados positivos e pelo reconhecimento da sua capacidade profissional.
A XIV edição do Congresso do Hospital Veterinário Montenegro, em Santa Maria da Feira, realizou-se nos dias 24 e 25 de Fevereiro, registando um aumento de 10%, com cerca de 2400 participantes acreditados. Outra novidade que mereceu destaque foi a formação dada a socorristas, que teve inscrições esgotadas.
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