Flash Talk: Juntar Direito e Gestão

Tem a ambição de desenvolver um currículo no Direito, mas ligado à Gestão e ao mundo das empresas? A Universidade Católica do Porto tem uma oferta formativa que junta os dois mundos – uma dupla licenciatura em Direito e Gestão. 

 

 

A primeira edição do duplo curso está no terceiro ano. Terá os primeiros licenciados a chegar ao mercado de trabalho nos próximos dois anos e é certificada pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Mas como surgiu esta oferta de ensino? Que contributo quer a universidade dar ao mercado de trabalho?

Agostinho Guedes (AG) e Ana Lourenço (AL) são os coordenadores desta nova dupla licenciatura. Em entrevista à Human Resources Portugal, revelam como o projecto surgiu, como os dois mundos se juntam nos estudos e as oportunidades que os candidatos podem adquirir com esta escolha.

Como surgiu a ideia de criar esta dupla licenciatura em Direito e Gestão?

AG – Partiu do presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, Manuel Afonso Vaz. Em finais de 2013, depois de ouvir os directores da Católica Porto Business School e da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, convidou dois docentes de cada uma destas para constituírem uma comissão, para analisar a viabilidade de uma oferta formativa que permitisse obter duas licenciaturas, uma em Direito e outra em Gestão.

Havendo já uma história deste tipo de formações noutros países culturalmente próximos de Portugal, não havia razão para não fazer o mesmo aqui.

A que necessidades vem dar resposta?

Pretende responder a necessidades efectivas do mercado de trabalho, relativas a profissionais que complementem conhecimentos sólidos em Direito com os conhecimentos sólidos da Gestão.

Permitirá, assim formar profissionais preparados para trabalhar em equipas transversais, em que a sensibilidade, a análise, a articulação e integração de matérias e a mais ampla identificação de obstáculos e/ou oportunidades, aliadas a uma melhor capacidade de comunicação e negociação, serão evidentes mais-valias traduzidas em ganhos de eficiência na tomada de decisão.

Assim, um duplo licenciado em Direito e Gestão apresenta-se com a formação ideal para o exercício da advocacia dita “empresarial”, da consultoria fiscal e financeira, da análise, planeamento e estruturação de operações, da contratação e negociação, da auditoria financeira, da regulação, dos serviços corporativos e das relações institucionais.

Porque optaram por uma dupla licenciatura?

AG – A escolha impôs-se naturalmente em virtude de só esta solução garantir o acesso dos licenciados às profissões regulamentadas, nomeadamente, as profissões jurídicas. Uma licenciatura “mista” poderia vir a colocar problemas no acesso à advocacia e às magistraturas (entre outras profissões), o que certamente tornaria o curso menos atraente para os candidatos.

Com esta solução, os graduados obtêm a formação correspondente a um licenciado em Direito e a um licenciado em Gestão e, consequentemente, dois diplomas de licenciatura.

E porquê estas duas áreas em particular?

AG – Tratam-se de duas áreas em que, intuitivamente, se percebe existir uma enorme complementaridade. Aliás, pelas variadas ofertas existentes noutros países, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, que vão desde a combinação entre licenciatura em Direito e mestrado em Gestão (como acontece nos EUA) a licenciaturas mistas (comuns na Grã-Bretanha) até às licenciaturas duplas (como acontece em Espanha).

Esta complementaridade foi amplamente confirmada pelos estudos de mercado levados a cabo pela comissão encarregada de estudar esta formação. Por outro lado, a realidade demonstra muita procura de formação em Gestão por parte dos juristas e alguma procura de formação em Direito por parte dos profissionais da Economia e da Gestão.

A quem se dirige, distinguindo assim os dois percursos, a licenciatura individual e a dupla? Para que funções qualifica?

AG – Naturalmente, continuamos a ter alunos que pretendem apenas uma formação em Gestão ou uma formação em Direito, porque entendem que o futuro deles exige apenas uma ou outra. Quem pretende exercer uma carreira jurídica não centrada na área dos negócios não tenderá a procurar esta formação, o mesmo acontecendo com quem pretende trabalhar em áreas da Gestão menos confluentes com o Direito.

Também se dirige para aquelas pessoas que se sentem atraídas por ambas as áreas e que ainda não decidiram por qual optar, pretendendo manter as opções em aberto. Nada impede que um aluno da dupla licenciatura opte por fazer apenas uma das duas, depois de sentir o apelo da verdadeira vocação.

Esta formação qualifica os licenciados para qualquer função na área do Direito ou da Gestão, tendo o seu campo de eleição nas funções ligadas às áreas dos negócios ou da administração pública.

Como está a ser a aceitação?

AG – Dos candidatos está a ser muito boa. Todos os anos as candidaturas têm aumentado. Do lado do mercado ainda não temos dados históricos uma vez que a licenciatura ainda vai no terceiro ano de existência e ainda não temos licenciados. Porém, sentimos muitas expectativas por parte do mercado relativamente a estes licenciados.

E para os alunos e para o mercado, quais as vantagens?

AL – O domínio das linguagens, conhecimentos, técnicas e práticas das duas áreas constitui um perfil muito rico e flexível, apto a adaptar-se às exigências e incerteza do futuro mundo do trabalho.

Para além de ser uma dupla licenciatura, pode esperar-se mais inovação neste curso, nomeadamente ao nível dos conteúdos ou metodologias?

AL – O programa integra disciplinas novas. É o caso de disciplinas como Grupos e Redes Empresariais e Contratos Financeiros, que juntam conhecimentos de Direito e de Gestão, e de Negociação e Liderança e Motivação, onde métodos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal como o trabalho em equipa e o “role play” preparam os alunos para as exigências do mundo do trabalho.

Faz, também, parte do programa a formação em English for Law and Business, dada a necessidade da comunicação com profissionais de todo o mundo que, hoje, qualquer profissão exige.

Que acordos/ protocolos já conseguiram para o curso, em termos de programas de mobilidade internacional, ou até mesmo de estágios curriculares que os alunos poderão fazer?

AL – Dado que o aluno do programa de dupla licenciatura é aluno das duas Escolas parceiras, beneficia da rede de cada uma das Escolas; tendo, portanto, acesso a um vasto campo de oportunidades de desenvolvimento, seja em escolas estrangeiras, sociedades de advogados, consultoras, auditorias, empresas dos sectores dos serviços e industriais, etc.

Um dos temas na ordem do dia é que o ensino tem que se reinventar de forma a dar resposta às necessidades do mercado. Esta é uma forma de o fazer?

AL – Uma formação excessivamente reactiva às necessidades actuais do mercado corre o risco de não se adaptar facilmente às rápidas e incertas necessidades futuras. É por isso que apostamos no desenvolvimento de pessoas capazes de falar e compreender diversas linguagens, culturas académicas e profissionais e quadros conceptuais e que – em autonomia e ao longo da vida – sejam capazes de reflectir e antecipar os desafios pessoais, familiares e profissionais.

Por Diana Pedro Tavares 

 

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