Foco: o ingrediente secreto do sucesso

Gerir uma empresa exige um conjunto de competências complexas que se vão desenvolvendo ao longo do tempo. Desde a formação académica à experiência de liderança, um gestor tem de aprender a reunir os indicadores certos para minimizar o risco e tomar a melhor decisão.

 

Por Ricardo Parreira, CEO da PHC Software

Tudo se interliga, contudo, um dos factores potenciadores do seu desempenho deve-se à habilidade de como trabalhar o seu foco.

O foco é incontornável como ferramenta de gestão e a sua importância é inegável. Não é por acaso que a necessidade de o trabalhar está a ganhar tantos adeptos. Em “The Mind of the Leader”, para dar um exemplo, de Hougaard e Carter, referem que 67% dos líderes assumem que os seus cérebros estão permanentemente desordenados, com falta de prioridades claras. Mais grave: 71% dos líderes distraem-se da tarefa que têm em mãos, algumas vezes ou na maioria do tempo. Esta é uma distracção que mina tanto a produtividade como, a prazo, as condições para o sucesso empresarial. Uma distracção que, contas feitas, nos rouba tempo precioso na orientação dos nossos negócios e da nossa vida.

As consequências da falta de foco nas empresas não ficam por aqui. Pensamentos desorganizados e incapacidade de atenção são a base de fronteiras pouco definidas entre a esfera profissional e a esfera pessoal, com níveis elevados e constantes de stresse, cansaço, procrastinação e rendimento abaixo da capacidade intelectual. Tudo isso tem reflexos na saúde pessoal e familiar, já que à medida de que desenvolvem rotinas de poucas horas de sono, má alimentação e sedentarismo os efeitos vão-se acumulando.

É incrível a forma como algo tão simples e que, à primeira vista, poderia parecer tão pouco importante, como o foco implica tanto a nossa vida – e a de uma empresa.  Não é por acaso que a desconcentração assume uma dimensão tão elevada entre gestores.

Contrariar a tendência, ganhando a capacidade de atenção diária ao presente e um foco impermeável assume-se como um desafio repleto de obstáculos. Todos os dias somos invadidos por incontáveis solicitações de atenção. Das notificações das apps no smartphone ao scroll interminável de conteúdo em plataformas como o Facebook ou o LinkedIn, que se juntam, naturalmente, às exigências da empresa e da família. A cada minuto, mais de 400 horas de vídeo são acrescentadas ao YouTube, criam-se mais 120 contas no LinkedIn e enviam-se 156 milhões de emails. Como sobreviver a esta luta pela atenção?

A catadupa da era digital faz com que o mundo gire mais rapidamente do que nunca. A nossa ansiedade social, de estar a par de tudo sem perder a conectividade total, que até foi apelidado de FOMO (Fear of Missing Out, ou, em português, o medo de ficar de fora), coloca-nos um obstáculo à produtividade. Fisicamente, a nossa atenção é limitada, em virtude da gestão pelo cérebro.

As leituras da especialidade dizem-nos que quanto mais estímulos exteriores, maior o nosso nível de alerta e menor a capacidade de atenção à tarefa que requer o nosso foco. É algo idêntico, imagine-se, a uma multidão de pessoas à nossa volta, a gritar pelo nosso nome, enquanto queremos delinear as prioridades para o próximo semestre. Desafiador, no mínimo. Contudo, se pararmos para ouvir cada uma dessas pessoas em vez de prosseguir trabalho, iremos apenas gastar energia sem conseguir cumprir o que seria realmente importante.

Para garantir o nosso foco, precisamos de reflectir e priorizar – encontrar as estratégias certas para contrariar as solicitações permanentes de atenção e os impulsos do nosso cérebro.

O que se entende por isto do foco? Não é mais do que a nossa capacidade distribuirmos a atenção de forma intencional, que, como a especialista em psicologia cognitiva Anne Treisman, “determina o que vemos”. Nesse sentido, o foco é uma capacidade neuronal para concentrarmo-nos apenas num alvo, ignorando ao mesmo tempo os restantes. Ter foco é perseguir um objectivo, planeá-lo, ser organizado e conseguir a persistência necessária para o concretizar – algo que se reflecte directamente na capacidade de gerir bem. É como “dizer que não às centenas de outras boas ideias que existem” – dizia Steve Jobs.

No fundo, o foco é uma ferramenta para saber escolher e tratar do essencial. E à medida que a atenção e o foco se desenvolvem, as vantagens na gestão das empresas são notórias. Tal como os treinos de um atleta, o desempenho profissional e pessoal melhora o seu rendimento. Mais perto dos objectivos, evitando desvios.

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