Formação: a força para as empresas em momento de crise

Situações extremas exigem medidas extremas. Quando é preciso cortar custos nas organizações, a aprendizagem e o desenvolvimento são, tradicionalmente, das primeiras áreas visadas, mas estas decisões não podem estar mais erradas.

Por Pedro Monteiro, Sales manager da GoodHabitz

 

Então em tempos de crise vamos deixar de investir numa das áreas mais importantes para a produtividade e lucro da empresa? Isso só vai servir para agravar o problema. Há outras formas de diminuir custos sem deixar de investir em formação. Por exemplo, diminuir o tempo de formação em sala, investindo mais na formação digital.

Para compreender melhor este tema, é preciso perceber bem o impacto que a formação tem nas organizações e pensar nas razões que justificam o contínuo investimento nas pessoas dentro de uma empresa, através da aprendizagem corporativa.

Para começar, quanto maior for o investimento feito nesta área, maior será a probabilidade de a empresa ver resultados. Cerca de 42% das organizações vê um aumento nos seus lucros após investir na formação. Segundo o mesmo estudo realizado pela IBM, cada euro investido na formação online resulta em 30€ de produtividade. A aprendizagem digital em algumas situações, e nomeadamente neste contexto, ainda pode ser mais eficaz, porque os colaboradores conseguem desempenhar as suas tarefas mais rapidamente e aplicar as suas novas competências imediatamente, sem que tenham de sair do seu posto de trabalho durante muito tempo. Este lucro deriva de diversos indicadores.

A aprendizagem e desenvolvimento promoverão um aumento do engagement (já considerado um KPI de negócio nos EUA), envolvimento e motivação dos colaboradores no trabalho que é (e deve ser) uma das bases da estratégia de RH das organizações de hoje. Segundo a AON, colaboradores empenhados acrescentam mais valor às organizações e têm maior probabilidade de permanecerem na empresa, falarem de forma positiva sobre o seu trabalho e esforçarem-se para alcançarem o sucesso, o que leva a uma maior produtividade e menor rotatividade. Outros indicadores que são sempre impactados com a formação e um maior engagement são a satisfação do cliente e, consequentemente, o aumento de vendas.

Este é ainda um investimento do presente, mas também para o futuro, uma vez que as gerações mais jovens encaram cada vez mais o desenvolvimento pessoal como uma prioridade. Quando têm de decidir sobre um potencial empregador, 53% (estudo Goodhabitz) põem a “formação e desenvolvimento” no topo da sua lista de factores decisivos. Isto significa que as organizações que oferecem programas de aprendizagem e desenvolvimento têm uma maior probabilidade de atrair jovens talentosos e ambiciosos, e de os reter. À medida que a área de people analytics vai evoluindo, podemos falar com mais certezas sobre a relação (e correlações se quisermos) inequívoca entre a formação e o seu impacto em indicadores de negócio.

No outro dia falava com uma directora de Recursos Humanos de uma empresa brasileira, que comentava como conseguia as verbas de que precisava para a formação junto da sua administração, e deu-me um exemplo muito claro. Trata-se de uma empresa no sector hospitalar que tem uma escola profissional, que permite aos alunos integrarem a empresa quando acabam o curso. Eles compararam a taxa de rotatividade de alunos da escola com os outros colaboradores que não tinham passado por essa formação e a diferença era muito grande, e claro, isso reflecte-se numa diferença enorme em termos de retorno financeiro.

Penso que esta área de people analytics é sem dúvida uma área em que os gestores de formação devem apostar para saberem apresentar os resultados do seu trabalho, e assim justificar o investimento na formação. No que respeita ao investimento em formação, há que ter ainda em conta pessoas neurodivergentes – com dislexia ou autismo, por exemplo – que representam uma fatia importante da nossa população activa. Para incluir este talento nas estratégias organizacionais e assegurar um ambiente de aprendizagem seguro e acessível a todos, as organizações têm de ver a aprendizagem e desenvolvimento como algo que é mesmo necessário e não opcional. Prova disso é o estudo da SAP que conclui que as equipas com colegas neurodivergentes criam produtos mais inovadores e têm mais competências de gestão e empatia. Estas equipas conseguem ser ainda 30% mais produtivas. Ao incluírem pessoas neurodivergentes, as empresas criam ambientes de aprendizagem mais inovadores, inclusivos e compreensivos, que englobam um maior espectro das experiências e perspectivas humanas. Por último, não só traz uma maior diversidade de competências, como pode também permite inverter a actual escassez de mão-de-obra.

Por outro lado, os tempos de crise levam sempre a mudanças significativas, sejam elas económicas, sociais ou de saúde. Assistimos a isso há algum tempo. As empresas têm feito um esforço para se adaptar ao contexto atual de forma a manterem-se competitivas. Ora, os colaboradores mais bem qualificados são aqueles que se conseguem adaptar mais facilmente a novos contextos e objectivos. Além de que a formação é também uma forma de os colaboradores se manterem positivos e motivados durante um período de crise. Esta promove uma sensação de realização e propósito, e claro, há formações específicas de bem-estar, que foi uma das áreas em que tivemos mais procura desde o início da pandemia.

Por tudo isto, em altura de crise é importante agir em vez de reagir. A economia europeia enfrenta actualmente um momento menos pujante, contudo, este período será seguido por um momento de crescimento, para o qual as organizações têm já de estar preparadas. Se a prioridade em tempo de crise for desinvestir na aprendizagem e desenvolvimento, provavelmente ficarão para trás quando a economia voltar em força e não terão uma boa capacidade de resposta em contexto de crise. A formação e o desenvolvimento deve ser algo contínuo, nunca pode parar! Isto é mais verdade do que nunca no contexto atual de mudança constante.

A aprendizagem e desenvolvimento permitirão não só manter vantagem competitiva no momento actual – caso as empresas tenham a coragem de agir e investir nesta – como ganhar vantagem competitiva para o futuro – colhendo os frutos que plantaram antes.

Ler Mais