Gerir equipas no futebol e nas empresas: Haverá assim tantas diferenças?
No final de contas – nas empresas e nas equipas desportivas – são as pessoas que podem encontrar novas soluções e são elas as principais geradoras de competitividade.
Por Sérgio Guerreiro, Leadership trainer | Mental coach
A volta que o mundo começou a dar no ano de 2020 dispensa qualquer apresentação. Diria mesmo que o que tem sucedido no último ano é um verdadeiro caso de estudo no que respeita à gestão da mudança que, incontornavelmente, tem provocado inúmeras alterações em todos os quadrantes da nossa sociedade.
Muitas organizações têm vindo a fazer autênticas revoluções no seu modelo de negócio. E, naturalmente, a forma como as pessoas são geridas é, mais do que nunca, uma questão central na actual conjuntura.
Fruto da minha experiência de trabalho nos ambientes desportivo e corporativo, gosto de estabelecer paralelismos entre estes dois contextos, especificamente na forma como as pessoas são consideradas nesta equação. Pois, vejamos:
Muitas organizações têm sido forçadas a ajustar as suas estruturas de custos, ao mesmo tempo que se têm reinventado na forma como garantem as suas receitas. Em vários casos, isso tem implicado uma travagem nas contratações, levando a que se dê maior atenção ao potencial humano que já existe dentro “de casa”.
Mas este conceito de potencial é algo que sempre esteve latente no contexto desportivo, já que os treinadores tendem a olhar para os atletas, não apenas na perspectiva da sua performance actual, mas, sobretudo, naquilo que poderá ser o seu desempenho futuro e o que daí poderão acrescentar à equipa. Ou seja, no desporto, as pessoas (atletas) estão mesmo no centro da estratégia da organização.
Hoje, muitos clubes começam a dar preferência a treinadores com um perfil de liderança talhado para o desenvolvimento de novos talentos e, consequente, desbloqueio do potencial dos atletas, porque os tempos não estão para contratações milionárias como acontecia num passado recente. Dito de outra forma, os clubes começam, cada vez mais, a olhar para dentro e para os seus escalões de formação numa perspectiva estratégica de desenvolvimento dos atletas das suas academias. Deste modo, potenciam-se novos valores, rentabilizam-se os investimentos feitos na formação, e esses novos talentos podem gerar receitas muito significativas num futuro próximo.
Os clubes portugueses têm-nos mostrado vários exemplos disto, e o mais recente caso é o facto de o actual campeão português de futebol ser constituído, em grande parte, por muitos desses jovens talentos que foram resgatados para a equipa principal. Uma vez mais, destaca-se o mérito de um treinador que – embora com pouca experiência na função – conseguiu mostrar competências de liderança e aplicá-las ao serviço do desenvolvimento de jovens atletas, extraindo deles o melhor.
E este é um dos principais paralelismos entre o desporto e o mundo corporativo que eu gostaria de destacar. Entendo que, nas organizações, os líderes devem actuar também como verdadeiros treinadores de pessoas, com genuína vontade para potenciar as suas equipas, dando-lhes oportunidades e desafios que elevem a sua performance. Esta realidade não deveria ser nova no que respeita à liderança, mas hoje, mais do que nunca, é fundamental colocar o treino e o desenvolvimento das equipas como uma prática recorrente nas organizações.
A capacidade para treinar e desenvolver as pessoas é um dos requisitos que deve fazer parte do portefólio de competências dos líderes, porque, na hora da verdade, são as equipas (e não o treinador) que têm de fazer golos.
Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº.126) da Human Resources.
Caso prefira comprar online, está disponível em versão papel e versão digital.