Gestão estratégica do absentismo: uma abordagem holística

No mundo corporativo, onde a eficiência e a produtividade são pedras basilares, o absentismo surge, muitas vezes, como um desafio complexo que impacta directamente os resultados financeiros.

Por Ana Jaime, head of Business – Human Capital & Benefits | Portugal

 

A visão tradicional na gestão de Recursos Humanos, centrada apenas numa estratégia de controlo e resposta reactiva às ausências, está muito longe de ser suficiente, sobretudo quando falamos de números assim: de acordo com o Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova-IMS em 2019, os portugueses faltaram quase seis dias ao trabalho no ano (5,9), o que resultou num prejuízo de 2,2 mil milhões de euros. A redução da produtividade decorrente deste absentismo, também medida neste estudo, reflecte uma perda equivalente a 12,3 dias de trabalho, o que se traduz num prejuízo de 4,6 mil milhões de euros.

Gerir de forma estratégica o absentismo pode, por isso, passar por uma abordagem holística que integre pilares como a prevenção, o acompanhamento e apoio durante a ausência dos trabalhadores e até a fase de regresso ao trabalho.

 

Prevenção como pilar fundamental

O primeiro passo para uma gestão eficaz do absentismo é a orientação para as suas causas subjacentes e consequente prevenção. A implementação de programas estruturados de bem-estar, benefícios alinhados com as expectativas e necessidades dos colaboradores, flexibilidade de horários, trabalho remoto, espaços de trabalho ergonómicos, iniciativas de saúde mental e saúde financeira no trabalho são não apenas atractivos, mas também ferramentas preventivas muito poderosas.

Como complemento, a prevenção de acidentes, através da constante avaliação de riscos e implementação de medidas de segurança, é vital. Esses esforços não só reduzem a probabilidade de ausências por motivos de saúde ou acidentes de trabalho, como também demonstram a valorização das empresas pelos seus colaboradores.

 

Acompanhamento e apoio durante a ausência

Reconhecer a importância de acompanhar as situações de ausência por motivos de acidente ou doença é crucial. Uma abordagem empática e de apoio, que vá além do mero cumprimento de procedimentos administrativos, pode fazer toda a diferença. Implementar programas de suporte e ter uma comunicação aberta são práticas que ajudam na recuperação do colaborador e fortalecem o seu sentimento de pertença à empresa, além de mitigar os tempos de ausência dentro das equipas.

 

Reintegração: um processo-chave para a sustentabilidade

O processo de reintegração é igualmente fundamental. Preparar o regresso dos colaboradores ao trabalho, adaptando, se necessário, as condições ou responsabilidades laborais, e garantir um retorno gradual, são práticas que beneficiam tanto o trabalhador como a empresa. Acompanhamento contínuo e feedback são cruciais para o sucesso desta fase.

 

O impacto global

Adoptar uma abordagem holística à gestão do absentismo não é apenas benéfico para a empresa, através da redução de custos directos e indirectos associados às ausências, mas também possui um profundo impacto positivo nas pessoas e na sociedade. Colaboradores que se sentem apoiados e valorizados são mais comprometidos, mais produtivos e têm uma relação mais positiva com o trabalho.

Para a sociedade, a promoção de ambientes de trabalho seguros e saudáveis contribui para a diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde e para o bem-estar geral da população.

A gestão estratégica do absentismo, quando encarada sob uma visão holística, representa uma oportunidade para as empresas fortalecerem a sua cultura organizacional, promoverem a saúde e o bem-estar dos colaboradores, e impactarem positivamente a sociedade. O desafio está lançado: encarar a gestão estratégica do absentismo não como um custo, mas como um investimento fundamental, no presente e no futuro das organizações, construindo o caminho para uma cultura corporativa, resiliente, inovadora e sustentável.

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