Há bullying no seu local de trabalho? Veja como identificar os sinais (e o que fazer)

Fenómenos como bullying, assédio e abuso sexual nos locais de trabalho são prejudiciais tanto para os profissionais como para as organizações. Nos EUA, o bullying no trabalho afecta, no longo prazo, até 30% dos trabalhadores. Dois investigadores explicam à Fast Company o que fazer. 

 

Os investigadores e professores universitários Jason Walker e Deborah Circo estudam a violência no local de trabalho, e definem bullying como actos prejudiciais de maus-tratos entre pessoas que vão além da incivilidade e ultrapassam os limites de causar danos intencionalmente.

Comportamentos de bullying variam e podem ir desde insultar verbalmente ou excluir alguém socialmente a sabotar o trabalho do colaboradore, infligir terror psicológico e abuso sexual ou agressão física. A manipulação e a provocação também desempenham um papel na dinâmica do bullying, e o ciberbullying já é considerado uma nova forma de assédio no local de trabalho.

A investigação sugere que os impactos do bullying afectam a saúde e a segurança dos profissionais e o local de trabalho no geral. Por isso, Jason Walker e Deborah Circo sugerem que é necessário tratar o assédio moral no local de trabalho como uma questão de saúde pública, e não de legislação laboral, para proteger as vítimas.

 

Danos no local de trabalho

As vítimas de bullying no local de trabalho sofrem frequentemente repercussões graves, incluindo stress e burnout, com outros problemas de saúde mental diagnosticados.

O bullying pode afectar a saúde física, com sintomas que incluem distúrbios do sono, doenças cardiovasculares, perda de apetite e dores de cabeça e corporais. As vítimas geralmente descrevem incapacidade de concentração, e como passam muito tempo preocupadas com o que vai acontecer a seguir, o seu desempenho no trabalho sai prejudicado. Os impactos negativos podem repercutir-se na vida pessoal e afectar as suas relações com a família e amigos.

Sofrer em silêncio tem a desvantagem de levar a um clima no trabalho ainda mais tóxico, que pode minar o sentimento de segurança das vítimas, com consequências a longo prazo para o seu bem-estar.

 

Traços de personalidade

Muitas vezes, os alvos dos agressores são colaboradores que possuem qualidades altamente valorizadas pelos empregadores: independência, cautela e inovação. Normalmente os visados são motivados, têm uma perspectiva empática e não se envolvem nas “confusões” do escritório ou em comportamentos competitivos. Assumem responsabilidades e o controlo do seu trabalho.

Muitas vezes o bullying envolve um desequilíbrio de poder, onde o agressor age para obter poder e controlo sobre a vítima.

Os investigadores descobriram que os agressores tendem a ter baixa auto-estima, problemas de controlo de raiva e até transtornos de personalidade. Os agressores podem ter como alvo as pessoas com base na sua aparência, comportamento, raça, religião, formação educacional, identidade LGBTQ+ ou por se sentirem ameaçados na sua própria carreira.

Não existe um perfil fechado, mas os homens tendem a exibir mais características associadas ao bullying. Aqueles que possuem tendências ao que os psicólogos chamam de traços da tríade obscura – maquiavelismo, psicopatia e narcisismo – muitas vezes gravitam em torno de empregos que oferecem elevados níveis de liberdade e estruturas hierárquicas.

 

Está a ser vítima de bullying?

Notou um declínio da sua saúde emocional ou física? O seu desempenho no trabalho está a ser afectado? Sente-se isolado por causa da forma como os outros o tratam? Sentir-se constantemente stressado, ansioso ou desmoralizado são sinais de que algo não está bem.

Se concluir que está a ser vítima de bullying, a sua primeira prioridade é manter-se seguro. Defender-se contra o bullying no local de trabalho exige coragem, mas há medidas que pode tomar para difundir, distanciar e documentar o que está a acontecer.

Quando surgir uma situação de bullying, concentre-se em tentar manter as suas emoções sob controlo e evite ser reactivo. Por exemplo, consiga alguma distância psicológica numa situação emocionalmente pesada – afaste-se educadamente, não se envolva e dê-se tempo para acalmar as suas emoções. Afastar-se pode diminuir a intensidade imediata da situação e ajudar a manter o controlo, em vez de permitir que um agressor o force a responder impulsivamente naquele momento, o que pode levá-lo a dizer ou fazer algo do qual se arrependerá.

Faça os possíveis para acalmar a situação. Veja algumas dicas sobre como impedir que uma interacção entre em espiral:

  • Usar uma linguagem educada e firme para pedir que o agressor interrompa a conversa;
  • Pedir ao agressor para sair;
  • Afastar-se da situação se o agressor não quiser sair;
  • Informar imediatamente a chefia.

Se se sentir ameaçado, interrompa a interacção com calma e educação, afastando-se de uma forma não ameaçadora. Por mais difícil que seja, a chave é manter a compostura e o respeito.

 

Como responder a uma situação em curso

Fazer algum planeamento com um amigo ou colega pode ser útil. Ensaie uma situação de bullying e pratique como responderia para se sentir confortável usando o distanciamento emocional. A prática pode ajudá-lo a lidar com um encontro emocionalmente pesado.

Procure apoio e segurança dos seus colegas. Eles podem ajudá-lo nesta caminhada e tornar-se seus aliados se forem solicitados a descrever ou até mesmo testemunhar sobre um episódio de bullying ao qual tenham assistido.

Esforce-se por demonstrar força e confiança em si mesmo. Os agressores costumam atacar pessoas que consideram alvos fáceis. Apresente uma frente forte, acredite em si mesmo e tenha confiança no seu trabalho, esses atributos podem diminuir a probabilidade de ser um alvo.

Quando perceber que há um problema, documente as suas experiências. Seja objectivo: anote a hora e a data, o que aconteceu, quem estava presente, o que foi dito e como se sentiu. Manter um registo ajuda a quantificar o que está a acontecer. A sua organização deve ter políticas e procedimentos para o apoiar caso acredite que está a ser vítima de bullying no trabalho.

Porém, os investigadores deixam uma advertência: tenha em mente que nem sempre os departamentos de Recursos Humanos estão preparados para gerir estas questões e as reclamações podem ser indevidamente tratadas ou simplesmente ignoradas. Por vezes, se for possível, é melhor procurar um novo emprego.

Para enfrentar o problema do bullying e do assédio no local de trabalho com eficácia, é importante que tanto os colaboradores como as organizações reconheçam e abordem activamente estas preocupações. Ao estabelecer políticas contra o bullying e promover linhas de comunicação abertas, os locais de trabalho podem criar espaços mais seguros que fomentam o bem-estar e a produtividade dos seus profissionais.

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