Há uma solução simples para um grande desafio da Gestão de Pessoas

Atrair e reter talento está entre os grandes desafios da Gestão de Pessoas. O salário, recompensas financeiras outros benefícios podem facilmente ser igualados ou até superados por outras empresas, mas o salário emocional não.

 

Por Sandra Lourenço, HR Manager da ITPeople Innovation

 

No contexto actual da Gestão de Pessoas há um tema recorrente e que neste momento se apresenta como um dos maiores e constantes desafios para os profissionais desta área: a retenção de talento. E porquê? Bem, a resposta pode parecer mais uma banalidade que vemos «espetada» em todas as secções «Acerca de Nós» de qualquer website pela internet fora, contudo não deixa de ser verdade: porque o capital humano é um dos nossos recursos mais valiosos.

Assim, não é surpreendente que os grandes desafios da Gestão de Pessoas estejam centrados em torno de atrair, recrutar e reter talento no seio das organizações. Isto é particularmente notório na área de Tecnologias de Informação (TI), onde atrair e reter são lutas diárias e muito competitivas.

Conheço bem esta realidade, por isso afirmo-o sem qualquer sombra de dúvida. Há inúmeros factores que contribuem para este facto, como a elevada procura e o nível de especialização que é requerido, mas este não é o meu foco, esta é a minha conjuntura. O meu foco é atrair e reter e, perante desafios desta magnitude, as soluções que lhes respondem devem e precisam ser out-of-the-box.

O primeiro passo para conseguirmos responder a estes desafios passa por saber o que os nossos colaboradores estão a pensar, ou seja ouvir o seu feedback. E é necessário fazê-lo de forma sistemática e periódica. Conseguimo-lo através da implementação de procedimentos que garantem momentos específicos para a escuta activa do feedback que colaboradores têm a oferecer sobre diversas áreas da empresa.

Este acompanhamento constante permite então gerar insights preciosos e necessários para traçar estratégias de acção em duas áreas vitais:

– A primeira é a criação de planos de carreira e formação totalmente adaptados às necessidades comunicadas pelos próprios colaboradores.

– A segunda é estabelecer um panorama claro das áreas que precisam de maior atenção dentro da organização e de que forma podemos melhorar para responder às necessidades reais que nos vão sendo apresentadas.

Estes procedimentos são vitais para qualquer programa de retenção de talento, mas não podemos ficar por aqui. É preciso mais, por isso é aqui que deve entrar o pensamento fora-da-caixa. Com o objectivo de potenciar maior envolvimento dos colaboradores com a empresa e criar um elemento diferenciador, estabelecemos uma abordagem única de retenção de talento, baseada na gamificação e na tecnologia de blockchain.

Blockchain é a tecnologia por trás da reconhecida cripto-moeda bitcoin, e foi a base tecnológica que nos permitiu criar a nossa própria cripto-moeda exclusiva para atribuição e utilização interna. Chama-se Talent e no contexto do nosso programa de retenção de talento, os colaboradores podem «amealhar» ‘talents’ ao cumprir missões simples como marcar as férias atempadamente, enviar reports de horas dentro dos prazos ou ainda através desafios pontuais como participar num evento da empresa, responder a um questionário ou até participar nas ações de responsabilidade social promovidas pela empresa.

Isto é a gamificação dos objectivos de Recursos Humanos: missões e desafios transversais, que levam ao cumprimento de objectivos estratégicos e a recompensa atribuída no seu cumprimento. E em que é que os colaboradores podem gastar os seus ‘talents’? Em leilões! Voltando ao nosso exemplo, para que se perceba como funciona: temos leilões mensais e por vezes, leilões surpresa, nos quais os colaboradores podem livremente licitar para ganhar um determinado prémio, se lhes interessar. Leiloamos coisas como iPads, TVs, almoços com o CEO, dias de férias extra e kits de praia. E podemos dizer, o interesse existe e o envolvimento que vemos é crescente.

Ao criar estas dinâmicas, potenciamos maior interactividade entre colegas, equipas e departamentos. Um exemplo caricato que já tivemos disto mesmo foi um grupo de cerca de 20 colaboradores que se juntou para licitar, e ganhar, um prémio de voucher de 150 euros em restauração, com o objectivo de o gastar em cervejas e petiscos para uma noite de convívio.

O que conseguimos com isto é criar um envolvimento maior e mais dinâmico com as iniciativas promovidas de forma constante pela empresa, oferecendo algo que dificilmente será igualado em qualquer outro sítio: salário emocional. Este é um conceito muito relevante para a retenção de talentos e que, curiosamente, tem vindo a ganhar relevância. Para agora, não é o meu foco, mas vale a pena reflectir sobre este tema. Salário, recompensas financeiras outros benefícios podem facilmente ser igualados ou até superados por outras empresas, estas dinâmicas e envolvimento não. E inovar, com divertimento à mistura, é relativamente simples.

Esta foi a fórmula que desenvolvemos e que funciona para nós. Pode não ser igual para todas as organizações, no entanto, seja neste sector ou em qualquer outro, a aposta no capital humano, nomeadamente no seu desenvolvimento e retenção, é a base de crescimento sustentável para qualquer empresa. Porquê? Porque, de facto, o nosso capital humano não é apenas um dos recursos mais valiosos, é o recurso mais valioso.

 

 

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