Hovione: A importância do bem-estar em tempos de incerteza
O início desta década está a revelar-se um desafio contínuo para as organizações.
Primeiro, com a pandemia e o confinamento forçado, é de assinalar o isolamento e as alterações sociais e emocionais que daí resultaram. Depois, terminada a pandemia, destaca-se a guerra na Europa, que criou um contexto de enorme incerteza, com impacto na actividade das empresas, na economia e, inevitavelmente, no dia-a- -dia das pessoas.
A par das alterações profundas ocorridas ao longo destes três anos, impôs-se outro factor de pressão sobre as organizações: a falta de profissionais, que afecta todos os níveis, dos quadros mais qualificados, cientistas, engenheiros, economistas, juristas, aos operários, motoristas, empregados da segurança ou da limpeza. Apesar da inflação estar a baixar e das taxas de juro continuarem a subir arrefecendo a economia, na verdade o mercado de trabalho mantém-se muitíssimo competitivo. Perante este cenário, a Hovione tem correspondido fazendo um esforço notável na criação de melhores condições, financeiras e não financeiras, para reforçar a capacidade de atracção e recrutamento e a retenção do talento.
Em entrevista à Human Resources Portugal, Catarina Tendeiro, HR senior director da Hovione, entende que, neste contexto, «a promoção do bem-estar numa organização começa pela disponibilidade de os seus dirigentes estarem interessados e disponíveis para ouvir as pessoas, entender as suas inquietações e conseguir responder a cada um de acordo com as suas necessidades específicas. Ouvir todos, entender e responder a cada um faz a diferença: melhora a vida da empresa, reforça a ligação entre as pessoas, consolida os laços».
Qual a estratégia da Hovione para assegurar e potenciar o bem-estar dos colaboradores?
A abordagem da Hovione à área de recursos humanos é feita à imagem do que a empresa faz em todos os outros níveis da organização. Somos uma empresa que se diferencia e que procura sempre estar ao nível das melhores práticas globais, adoptando as melhores soluções em todas as áreas: seja na investigação e de senvolvimento de medicamentos, seja na logística, na área financeira ou nos recursos humanos.
Para isso, esforçamo-nos por estar sempre alinhados – um passo à frente – com as práticas que melhor defendem e promovem a saúde e bem-estar. Não facilitamos, antes reflectimos e ousamos.
No que respeita concretamente à abordagem dos recursos humanos, estamos focados em três níveis verticais: workplace, saúde e saúde mental. Ou seja, asseguramos as melhores condições físicas no dia-a-dia, do espaço aos horários, e estamos atentos à satisfação e bem-estar das pessoas, ouvindo-as e procurando estar sempre disponíveis para responder às questões que surjam.
Pensar o bem-estar dos colaboradores tornou-se ainda mais importante nos últimos anos, com todas as disrupções que têm vindo a ocorrer no contexto social, económico e geopolítico?
Tudo o que tem acontecido nesta década, desde a pandemia à guerra na Europa, tem impacto nas pessoas, com consequências emocionais que criam atrito e desgaste psicológico.
Estou convencida que, neste cenário, é dever de uma empresa, nossa responsabilidade – encontrar respostas capazes de transmitir confiança e previsibilidade. Para o conseguir, é fundamental entender o que quer e precisa cada pessoa, conhecer as suas inquietações, para, depois, ser capaz de oferecer e planear as respostas adequadas a cada colaborador.
Ou seja, é importante ouvir todos e responder a cada um. É ir ao encontro do nosso lema, in it for life, na sua plenitude e garantir que as pessoas estão juntas, umas para as outras.
De que forma a área de actividade da empresa (saúde) se torna uma mais-valia para que a Hovione tenha uma abordagem diferenciadora neste âmbito?
Na Hovione temos sempre presente a necessidade de que cada um, seja qual for a sua actividade e nível de responsabilidade, saiba que no seu dia-a-dia está a trabalhar para melhorar a saúde e salvar vidas a milhões de pessoas em todo o mundo. Esse é, aliás, um aspecto que muitas vezes nos é transmitido pelas pessoas, que sentem que há um propósito no seu trabalho diário e que essa é uma motivação importante nas suas vidas.
Que programas/iniciativas têm ao longo do ano relacionados com a área do bem-estar?
Nestes últimos dois anos temos investido em preparar as lideranças para identificar sinais de alarme e aumentámos a comunicação relativamente aos canais de apoio a todos os colaboradores em questões de saude mental e gestão financeira.
No dia-a-dia nas instalações, os colaboradores dispõem de serviços de restauração com ementas diversificadas e saudáveis, com campanhas de sensibização para as melhores escolhas alimentares e com disponibilidade de take-away. Temos ainda fruta à disposição diariamente, acesso grátis a café e chá e incentivamos pausas durante o dia de trabalho. Especificamente na promoção da saúde, temos ainda serviços médicos e de enfermagem, mas também yoga, consultas de nutrição e psicólogo. A organização inclui ainda um Clube Social com uma agenda cultural e recreativa rica e que organiza provas desportivas, excursões, convívios, e celebrações várias aumentando assim os momentos de partilha fora do trabalho.
É possível medir o impacto que estes programas/ iniciativas têm nos colaboradores?
No nosso employee survey anual conseguimos apurar quais os níveis de satisfação com estas actividades, escutamos feedback e implementamos as melhorias necessárias. Temos uma estratégia de escuta activa com um grande sucesso na implementação de acções não só nesta área, de bem-estar, mas noutras com impacto na satisfação geral dos nosso colaboradores.
O sucesso da empresa traduz o bem-estar das pessoas, o impacto das medidas é constatado no dia-a-dia, nos objectivos alcançados. Como, também, na forma como as pessoas se manifestam, quando nos dizem que estão satisfeitas e realizadas, ou quando se mostram orgulhosas por estarem a colaborar no desenvolvimento e produção de medicamentos que salvam e melhoram vidas.
De que forma relaciona o bem-estar dos colaboradores com a sua produtividade?
A produtividade que seja consciente do bem-estar passa exactamente pela sensibilização para o auto- conhecimento. Se o próprio colaborador conhecer os seus limites e o que tem de fazer para ser mais produtivo, todos temos a ganhar com isso. As nossas lideranças têm um papel fundamental na divulgação e implementação dessas boas práticas. O resultado deste modelo de organização é termos pessoas que estão bem de saúde e que se sentem realizadas e motivadas para aquilo que fazem. No caso da Hovione, isso é algo que se sente, se vê e se vive no dia-a-dia da empresa.
O que mudou na forma de pensar o bem-estar dos colaboradores com a introdução dos novos modelos de trabalho?
A flexibilidade impõe-se a todas as organizações, embora com o devido enquadramento, isto é, sistematização. Desde o pós-pandemia que verificamos que há pessoas que valorizam a possibilidade de fazer teletrabalho, outros que preferem fazê-lo só em alguns dias da semana e os que preferem a presença no posto de trabalho exactamente como acontecia antes.
Na Hovione a flexibilidade de trabalhar remotamente está associada à natureza da função desempenhada, sendo possivel uma flexibilidade para trabalhar remotamente até quatro dias por semana. Do nosso lado, de quem organiza e planeia o trabalho, o fundamental é sermos capazes de responder às diferentes aspirações de forma equilibrada.
Que desafios existem no planeamento e na implementação de programas de well-being em qualquer modelo de trabalho?
Hoje, e com as tecnologias disponíveis, é possivel organizar momentos que privilegiam o bem-estar, tanto remota como presencialmente. As actividades que são organizadas a nível de equipa são normalmente mais eficazes porque acabam por ir mais directamente aos objectivos daquele grupo, por isso os nossos líderes tem a possibilidade de organizar momentos dedicados ao bem-estar, até porque conseguem melhor gerir as disponibilidades.
Até que ponto programas de well-being podem ser personalizados, ou seja, atendendo às necessidades específicas de cada colaborador?
É fundamental. Ouvir todos, entender e responder a cada um faz a diferença: melhora a vida da empresa, reforça a ligação entre as pessoas, consolida os laços. Uma oferta alargada de soluções que ajudem os nossos colaboradores a sentirem-se bem no seu local de trabalho é o que estamos sempre a aperfeiçoar.
Esta personalização é uma tendência que poderá intensificar-se num futuro próximo?
Sim, cada vez mais as empresas vão ter de organizar e pensar a saúde e o bem-estar nas suas políticas de recursos humanos, com abordagens personalizadas.
Vamos ter cada vez mais necessidade de saber lidar com pessoas mais exigentes e informadas, a quem vamos ter de responder de forma satisfatória, antecipando anseios, mas, sobretudo, ouvindo e respondendo às suas necessidades individuais. No entanto, há que não perder o sentido do colectivo, ter uma oferta personalizada sempre com um fio condutor que seja claro e entendido pelos colaboradores e que reforce o sentido de pertença. Temos como exemplo o voluntariado, a Hovione incentiva a que os seus colaboradores ajudem e dêem de volta à sociedade, disponibilizando horas para voluntariado. Ajudar os outros é para muitas pessoas, felizmente, um importante critério para o seu bem-estar.
Quais as tendências de mercado para o well-being da população interna das empresas, nomeadamente no sector da saúde?
Os anos atribulados que temos vivido traduzem-se em desafios novos, que obrigam as organizações, em particular as direcções de recursos humanos, a responder a situações que não estão nos livros e que testam a capacidade de inovar e encontrar a melhores respostas. O principal desafio passa, como já referi, por saber estar atento às pessoas e ao que as envolve.
Como referi, no sector da saúde é importante fazer sentir a todos que no seu dia-a-dia estão a trabalhar para melhorar e salvar vidas. A nossa experiência diz-nos que esse propósito faz a diferença na forma como cada um se emprenha no seu trabalho diário.
Para o futuro, como olham para esta área do ponto de vista global e que tipo de programas gostariam de vir a implementar?
Como disse, queremos estar sempre à frente, com as melhores práticas. O desafio global é passarmos de um único modelo, com todos no escritório ao mesmo tempo, para a coabitação de vários modelos, com as pessoas a poderem trabalhar em horários flexíveis. Neste ponto é também importante ter em conta que a Hovione está presente em três continentes, Europa, Ásia e América do Norte, e que no nosso dia-a-dia é necessário conciliar diferentes fusos horários para que as pessoas se possam encontrar.
Gostariamos que, independentemente do modelo de trabalho, todos os nossos colaboradores encontrassem na Hovione, em todo o mundo, uma forma de equilibrar a relação entre a vida profissional e pessoal, ainda que como sabemos esse equilíbrio tem uma definição diferente para cada um de nós.
Este artigo faz parte do Especial “Well-Being” na edição de Setembro (n.º 153) da Human Resources, nas bancas.
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