Igualdade de género como uma causa de todos, não só das mulheres

O encontro anual da PWN Lisbon, dedicado à liderança com impacto, reuniu especialistas de várias áreas numa reflexão sobre o papel dos líderes, os desafios dos avanços tecnológicos e da longevidade, a importância da comunicação e da participação de todos no combate às desigualdades, e a reconexão com a Natureza.

 

Por Tânia Reis | Fotos Guillermo Vidal

 

Foi na Estufa Fria que a PWN Lisbon celebrou mais um Dream Day, desta feita focado nas lideranças (invisíveis) com impacto. A abrir, Tiago Forjaz, fundador e managing partner da The Epic Talent Society, levou os presentes numa «viagem que contempla o passado, presente e futuro da liderança», referindo algumas mulheres “invisíveis” que marcaram a História. Recordou a matemática Ada Lovelace, considerada a primeira programadora do mundo; Lise Meitner, física que descobriu a fissão nuclear; e a química Joselind Franklin, que descobriu a estrutura do ADN. Mas referiu ainda Jacinda Arden, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, a activista sueca Greta Thunberg e a artista japonesa Yayoi Kusam. E deixou a pergunta: «Porque não medir o impacto» causado pelos lugares “invisíveis” ocupados pelas mulheres? «Nenhuma destas mulheres pediu licença ou teve de fingir que queria algo mais.»

Para Tiago Forjaz, a liderança é o amor que se sente quando se dá, e «o amor que as mulheres trazem ao mundo faz toda a diferença. A missão da PWN é essa, há 13 anos: medir o impacto» e dar suporte à liderança feminina. Até porque «as mulheres funcionam como a mão invisível que equilibra tudo, com a capacidade de ver para além do óbvio».

 

O líder enquanto promotor de pensamento positivo
O primeiro keynote speaker a subir ao palco foi Luís Portela, presidente da Fundação Bial, com o tema “Liderar é servir”. Partilhando o seu percurso de vida, contou que assumiu a liderança da Bial aos 27 anos e, durante quatro anos, não tirou um único dia de férias, trabalhava aos fins-de-semana e era o primeiro a chegar e o último a sair. Depois percebeu que «o mais importante não era saber muito, mas sim rodear-se de pessoas que soubessem muito», para poder construir uma equipa forte. Realçou que as linhas estratégicas da Bial – qualidade, inovação e internacionalização – sempre assentaram nas pessoas, não só a nível técnico, mas de carácter, que foram influenciando de forma positiva o trabalho da organização.

Para Luís Portela, o principal objectivo das lideranças é «criar condições para que as pessoas possam trabalhar, procurando identificar e satisfazer necessidades, não vontades», e, «numa perspectiva de que a vida é de alguma forma um toma lá, dá cá, nas empresas verifica-se o mesmo».

Considerando que cada um de nós é emissor e receptor de pensamento e, ao contrário de outras forças de energia, forças de sinal semelhante atraem-se e de sinal contrário repelem-se. Ou seja, quando pensamos positivo geramos e atraímos pensamento positivo e vice-versa. E para Luís Portela, o papel do líder é esse, criar o ambiente para que o pensamento positivo prospere. «O líder deve ser rigoroso, primeiro consigo, depois com os outros, mas tolerante. Deve ser exigente, consigo e com os outros, mas sempre solidário» e «servir o propósito da organização, com dedicação e competência».

 

A chave da comunicação
No programa do evento, seguiu-se o painel “Comunicar com impacto”, que juntou Céline Abecassis-Moedas, professora na Universidade Católica Portuguesa, e Inês Meneses, radialista e comunicadora, numa conversa intimista moderada por Rita Nabeiro, CEO da Adega Mayor e board member da PWN Lisbon.

O debate começou pelo impacto da inteligência artificial (IA), com Céline Abecassis-Moedas a partilhar que acredita que o papel das pessoas e das universidades vai mudar e será fulcral desenvolver o espírito crítico para receber informação e discernir o que é “fake” ou não. E dá o exemplo de uma escola que dividiu uma turma em dois e um dos grupos fez o exame normalmente enquanto o outro pôde recorrer ao ChatGPT. Ainda que se pudesse deduzir que as melhores notas foram as dos exames com recurso à ferramenta da IA, tal não se verificou, pois os alunos não tiveram o cuidado de verificar a informação.

Além de se ensinar como tirar o melhor partido da IA, foi realçada a importância de se ensinar a empatia. Para Inês Meneses, mais do que servir (aludindo à intervenção de Luís Portela), «liderar pode ser um sentir que, sem querer, desagua em empatia», e é essa a sua missão enquanto comunicadora “invisível” na rádio.

Ainda que Céline Abecassis-Moedas defenda que o papel das universidades é passar conhecimento técnico, reconhece que cada vez mais as soft skills fazem parte dos programas académicos. Para Inês Meneses, uma dessas soft skills é o saber escutar, mas também a empatia, reitera. Por isso acredita que a disponibilidade para dar é a chave da comunicação.

Rita Nabeiro trouxe à conversa o desafio da longevidade, que Céline Abecassis-Moedas corroborou com o facto de, nos últimos 50 anos, o ser humano ter ganhado 30 anos de vida, mas «a vida não se ajustou a isso», e defende que é necessário pensar na vida após os 55 anos, deixando a sugestão de um MBA para esse público. E partilhou um dado interessante. «Hoje, nos EUA, 50% das decisões de compra B2C [Business to Consumer] são tomadas por pessoas com mais de 50 anos, mas os orçamentos de marketing dedicados a este público são apenas 5%.» Portanto, há aqui um nicho de oportunidade que deve ser aproveitado pelas empresas. Inês Menezes concordou que o discurso tem de mudar, até mesmo devido ao impacto e responsabilidade das palavras, sejam elas ditas ou escritas, que permitem que as pessoas se identifiquem.

Para terminar, Rita Nabeiro questionou como se podem criar pontes para construir uma sociedade mais equitativa e justa para as mulheres. A professora universitária saudou o facto de, na sala, estar um grande número de homens, pois «a diversidade só pode ser alcançada com o seu envolvimento». Já para a radialista, o caminho será longo e, «para lá chegarmos, vai ter de haver uma ferida para depois haver uma cura».

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Dezembro (nº. 168) da Human Resources.

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