Inovação colaborativa: um paradigma de revolução tecnológica e humana

Por Ana Archer, responsável da Minsait Xtudio em Portugal (Indra Group)

Hoje, enfrentamos uma revolução onde inovação e humanidade se cruzam, não como opostos, mas como parceiros que já não podem – não devem – ser separados. No passado, falámos de tecnologia como uma força imparável e as pessoas – nós – com um papel passivo, de espectador que, de forma mais ou menos rápida, com maior ou menor intervenção, acabou por impor determinados conceitos no dia-a-dia, assumindo comportamentos mainstream.

Mas esta narrativa já está ultrapassada. Agora, já não nos basta criar máquinas mais rápidas ou sistemas mais inteligentes. Precisamos de tecnologia que eleve a experiência humana, que nos transcenda e nos empodere. O futuro da inovação colaborativa não será simplesmente uma extensão do que conhecemos; será uma reinvenção radical de como nos relacionamos com o mundo.

Já não é suficiente desenvolver soluções tecnológicas com foco exclusivo na eficiência. As inovações verdadeiramente disruptivas, serão aquelas que desafiam o pensamento tradicional, e que mudam o paradigma da relação entre pessoas e máquinas. A pergunta já não pode ser “Como é que esta tecnologia pode fazer mais rápido?” mas sim “Como é que esta tecnologia pode mudar a forma como pensamos, sentimos e vivemos?”.

Parece mágico, revelador, futurista e assustador (tudo ao mesmo tempo), mas a inovação disruptiva não é uma rua de sentido único, onde as empresas criam e as pessoas consomem. O futuro será marcado pela democracia tecnológica, onde pessoas, comunidades e tecnologia estão juntos no processo de co-criação. A ideia de “utilizadores finais” deixará de fazer sentido, porque caminhamos para um futuro onde qualquer pessoa com acesso a tecnologia será, simultaneamente, utilizador e criador.

Novos modelos de relação: o factor humano na inovação disruptiva

Temos mais dúvidas do que certezas e, à medida que as organizações tentam evoluir numa era dominada pela inovação centrada no ser humano, surgem barreiras complexas que não podem ser ignoradas.

O caminho para integrar soluções mais empáticas, inclusivas e colaborativas, enfrenta resistências tanto a nível tecnológico como cultural. Nas nossas interacções com os clientes – sem esquecer o dia-a-dia como organizações complexas – é evidente que os desafios não se limitam a questões técnicas, mas envolvem também profundas transformações organizacionais e de negócio. Para muitos, o dilema não é se devem adoptar inovações humanizadas, mas como fazê-lo de forma sustentável, ética e eficaz.

Ao longo das nossas conversas ouvimos, repetidamente, que as empresas estão a tentar, de forma activa, redefinir a maneira como integram tecnologia, mas muitas vezes encontram-se em terreno desconhecido. Enquanto trabalhamos em conjunto com os clientes neste paradigma, existem desafios que temos de superar:

  1. Adaptação cultural e resistência à mudança. Como transformar a mentalidade da organização para que os colaboradores abracem estes novos modelos? Muitos líderes empresariais enfrentam resistência interna ao tentar implementar abordagens mais empáticas e colaborativas. Alterar a cultura organizacional para valorizar a inovação centrada nas pessoas é um processo que requer tempo e transformação profunda.
  2. Co-criação com as pessoas. Envolver as pessoas no desenvolvimento ou evolução de produtos ou serviços é essencial para garantir relevância, mas muitos negócios lutam para encontrar maneiras eficazes de o fazerem sem comprometerem a eficiência. Como integrar as pessoas no processo de inovação sem prejudicar a agilidade e a eficiência operacional?
  3. Diversidade e acessibilidade. Conseguir diversidade e acessibilidade nas equipas de inovação é fundamental para reflectir as necessidades dos diferentes grupos de utilizadores. No entanto, criar e manter essa diversidade é um desafio contínuo. Como garantir que as soluções reflectem a diversidade de experiências, pontos de vista e vivências dos utilizadores?
  4. Medir o impacto humano. Temos maneiras de medir o impacto financeiro, mas medir o impacto humano de uma inovação—como a satisfação emocional ou a inclusão social—é muito mais complexo. Como avaliamos o sucesso da inovação a partir de um ponto de vista humano e não apenas financeiro?

O futuro é humano

A transformação que vivemos está a moldar as nossas vidas, o nosso modo de pensar e até a nossa maneira de sentir. A verdadeira disrupção acontecerá quando deixarmos de ver a tecnologia como um fim em si mesma e a utilizarmos para amplificar o que de mais humano temos: pensarmos nas novas formas de relação e interacção entre pessoas, organizações e tecnologias. Em vez de focar apenas no indivíduo ou na eficiência tecnológica, a inovação relacional considera que o valor real surge das conexões humanas, promovendo relações baseadas na confiança, colaboração e reciprocidade.

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