Já ouviu falar de “O Pub The Old Oak”? Está nomeado para Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares e esconde ensinamentos úteis às empresas

Na lista das nomeações aos Óscares para a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro”, o filme inglês do veterano Ken Loach “O Pub The Old Oak” poderá vir a ser uma revelação, com algumas lições para o mundo empresarial sobre liderança e motivação.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

A história de “O Pub The Old Oak”, que conta com Dave Turner e Ebla Mari nos principais papéis, decorre numa pequena localidade inglesa, onde outrora a maioria da população vivia da exploração mineira, mas que, na actualidade, está desempregada devido ao encerramento das minas e ao apelo das grandes cidades. Num velho pub, reúnem-se as forças vivas, falando de tudo o que se passa, como a chegada de refugiados sírios, que provoca choques com os moradores locais. Estes sentem-se injustiçados, já que para os recém-chegados tudo são “facilidades” para arranjar habitação, escola e apoio sanitário, enquanto as suas carências mais urgentes continuam a não ser resolvidas.

Mas, atenção, o filme não gira à volta do tema único da imigração, vai muito além disso, revelando algumas lições para o mundo empresarial: a liderança e a motivação.

Ao longo da narrativa torna-se claro que a situação é difícil para todos, desde os imigrantes sírios sem emprego e desenraizados, até aos residentes habituais, jovens e velhos, com diferentes expectativas. O desafio consiste em: como integrar as diferentes pessoas de forma a ultrapassarem em conjunto as dificuldades reais? Por onde começar?

A resposta será dupla, e tudo começa ao criar-se um grupo coeso em redor de um líder e, depois, ao ir-se motivando as pessoas a segui-lo. Parece fácil, mas não é…

Pouco a pouco, vê-se como o responsável do pub vai interagindo com uma refugiada e a respectiva assistente social. Essas relações fortalecem-se em conversas onde trocam ideias, em almoços informais e na colaboração em actividades de apoio social, permitindo que esse grupo se conheça, reflicta e identifique uma iniciativa concreta que seja mesmo útil. Então, lançam mãos à obra com um objectivo firme e uma motivação que os leva a não desistir, vivendo na prática a célebre expressão “quando há um ‘porquê’ aguenta- se qualquer ‘como’…”. Ou seja, quando se tem uma razão, uma meta a atingir e pela qual lutar, é mais fácil ultrapassar os obstáculos de “como” lá chegar.

Além disso, essa motivação dá asas à criatividade dessas pessoas para saberem descobrir o que há de melhor em cada um e como entusiasmá-los a aderir ao projecto, levando-os a colaborarem de acordo com as suas capacidades. A motivação inspira ainda os elementos do grupo a saber explicar a ideia através de palavras e gestos que sejam mesmo adequados a cada pessoa. Para isso, ganham experiência em saber “ler os sinais”, aproveitando até as situações difíceis para que se tornem em ocasiões transformadoras, em pontos de inflexão pessoal, de mudança e acerto de rumos, atitudes que orientem as decisões na direcção correcta.

Por fim, há uma outra lição muito forte: a força da conversa leal, franca, bem preparada, no timing e no local mais confortável para o outro escutar, poder reflectir e depois agir. Quando o pub corre o risco de encerrar e é preciso resolver um problema “de fundo”, envolvendo a alteração do comportamento de uma pessoa e que ela adquira um outro sentido da vida, isso só será possível quando o líder sabe ser frontal, mas correcto, mantendo um tom em que é claro que pretende é ajudar. Então, tudo se ultrapassa e todos saem a ganhar.

 

https://www.imdb.com/title/tt19883634/

 

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro (nº. 157) da Human Resources, nas bancas.

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