Já ouviu falar em “catfishing de carreira”? É uma nova tendência (protagonizada pela Geração Z)
Perante um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, a Geração Z está a responder de forma atípica a situações invulgares. Às rondas intermináveis de entrevistas, tempos de resposta longos e um processo de recrutamento frustrante, alguns jovens da Geração Z decidiram ignorar os seus empregadores, reporta a Fortune.
Cerca de um terço (34%) da Geração Z está a optar por fazer o que é conhecido como “catfishing de carreira”, ou seja, um candidato bem-sucedido aceita um emprego e depois nunca mais aparece. De acordo com um inquérito a mil trabalhadores do Reino Unido, realizado pela CV Genius, este tipo de “catfishing” é uma das muitas estratégias que os profissionais estão a utilizar para ganhar mais autonomia no trabalho, incluindo “coffee badging” e “quiet vacationing”.
No entanto, os candidatos da Geração Z não sozinhos nesta nova tendência. Cerca de 74% dos empregadores admitem que o ghosting já é uma faceta do panorama do recrutamento, segundo um inquérito da Indeed de 2023.
Actualmente, a Geração Z está a enfrentar uma batalha árdua para conseguir um cargo de nível básico, a tempo inteiro. Os graduados de 2025 deverão candidatar-se a mais empregos do que a turma do ano passado, que enviou, em média, mais 24% de candidaturas no Verão passado do que os do ano anterior. Além disso, a turma de 2024 candidatou-se a mais 64% de empregos do que a de 2023, segundo a plataforma de emprego Handshake. Para agravar a situação, o número de vagas de emprego diminuiu em relação aos níveis de 2023, gerando mais stress e maior competição pelas vagas anunciadas.
Tudo isto num mercado de responsáveis de recrutamento e líderes executivos que não estão a brincar; apenas 12% dos executivos de nível intermédio consideram que os recém-licenciados estão preparados para se juntarem à força de trabalho, indica um estudo da General Assembly. Cerca de um em cada quatro diz que não contrataria os recém-chegados ao mercado de trabalho de hoje.
Para Jourdan Hathaway, directora de negócios da General Assembly, «o pipeline de trabalhadores de nível básico está danificado. Por definição, é uma posição que exige investimento num jovem adulto. As empresas devem repensar a forma como seleccionam, formam e integram os colaboradores», explicou.
Um cenário tão competitivo como o actual pode estar a forçar os jovens da Geração Z a aceitar o primeiro emprego que surge, para depois se arrependerem e não aparecerem no primeiro dia.
Não “pôr os pés” no trabalho pode ser insustentável a longo prazo. Tal como muitos jovens trabalhadores antes deles, a Geração Z conquistou uma má reputação junto dos empregadores. Os recrutadores apelidaram-nos a geração mais difícil de trabalhar, segundo um estudo da Resume Genius.
No geral, a Geração Z não deve assumir toda a culpa. Ultimamente, o ghosting tem-se tornado mais comum. Três em cada quatro colaboradores no Reino Unido dizem que cortaram abruptamente a comunicação com um potencial empregador em 2023, indica um inquérito do site de emprego Indeed.
As gerações mais jovens são mais propensas a envolver-se em tais comportamentos como forma de “se sentirem no comando das suas carreiras”, revela o relatório. Um em cada quatro (24%) dos Millennials fez “catfishing de carreira”, assim como 11% da Geração X e 7% dos Baby Boomers.
Quanto às “saídas silenciosas”, mais de um terço (38%) da Geração Z terá deixado um emprego sem se demitir formalmente, em comparação com 26% dos Millennials, 15% da Geração X e 10% dos Baby Boomers.
Contudo, os próprios empregadores têm um papel na comunicação bidireccional — ou na falta dela — entre o contratado e o contratante. Quase 80% dos responsáveis de recrutamento admitiram que deixaram de responder aos candidatos durante o processo de candidatura, revela inquérito a 625 gestores de contratação da Resume Genius.
A Geração Z diz que o seu ghosting é uma reacção ao comportamento da empresa. De acordo com a Monster, mais de um terço dos candidatos que o fez propositadamente dizem que foi porque um recrutador foi rude ou os enganou sobre uma vaga. Os candidatos sem diplomas dizem que recorrem mais ao ghosting quando um responsável de contratação demora muito tempo a responder.
A situação chegou ao ponto em que 75% dos candidatos — e 74% dos empregadores — admitem que o ghosting faz parte do panorama da contratação, segundo inquéritos separados a mais de 4500 candidatos a emprego e empregadores da Indeed.
Em parte, é provável que a IA esteja a contribuir para isso. Principalmente porque se foi integrando no processo de contratação, tornando-se um seleccionador que rejeita currículos sem sequer conhecer os candidatos. Este fenómeno alimenta possivelmente a tendência de ambos os lados para “o silêncio” ou contentar-se com algo que não seja o match adequado, o que pode levar a uma mesa vazia no primeiro dia.