Lazy girl jobs, a tendência que deve fazer os líderes repensar a forma como gerem as suas pessoas. O alerta é de um CEO: «são apenas empregos saudáveis»
O termo pode parecer depreciativo, mas “Lazy girl jobs” são apenas empregos saudáveis – e a tendência deveria ser um alerta para os líderes, afirma à Fast Company Doug Dennerline, CEO da Betterworks, empresa especialista em gestão de desempenho. E deixa quatro lições-chave.
No TikTok, o termo “lazy girl job” está a ser usado por jovens para descrever empregos com um salário confortável, benefícios razoáveis e horas de trabalho padrão das 9h às 18h. Os utilizadores sugerem que esses empregos podem ser a solução para a cultura do burnout. Em última análise, para Doug Dennerline, CEO da Betterworks, são apenas empregos saudáveis – e acredita que esta tendência é um sinal de que os líderes precisam de repensar a forma como tratam os trabalhadores.
Superficialmente, a expressão pode transmitir falta de ambição ou esforço, mas não podia estar mais longe da verdade. Essa tendência está relacionada com eficiência, flexibilidade e criação de limites saudáveis. Os líderes que a ignorarem irão arrepender-se em breve, alerta o responsável.
Perante uma mudança social significativa, que desafia as noções convencionais de produtividade e employee value proposition (EVP), esta mudança de pensamento poderá revolucionar a forma como as lideranças gerem as suas equipas e concebem os locais de trabalho. Mas é fundamental prestar atenção ao que os colaboradores dizem.
O CEO da Betterworks começa por esclarecer o conceito de “Lazy girl jobs”, que não endossa a letargia ou a falta de ambição, mas defende sim a ideia de limites saudáveis. E se soa familiar é porque essa tendência é muito parecida com o “quiet quitting” que dominou no ano passado, alerta. Os profissionais estão a esforçar-se por transmitir essa mensagem, e deve ser escutada. Tudo se resume à lição mais valiosa da pandemia: gerir pessoas já não é o que costumava ser.
Estamos numa era em que os limites entre o trabalho e a vida se confundiram e é fundamental que os líderes empresariais coloquem a saúde e bem-estar dos colaboradores e das suas famílias acima de tudo. As empresas precisam de aprender a adaptar-se. Agora, mais do que nunca, é fulcral permitir que os colaboradores tenham sucesso de uma forma mais autónoma e autoorientada, e parte disso é integrar o trabalho na vida dos colaboradores e não o oposto.
A tendência do “lazy girl job” desafia parte do pensamento tradicional em torno do trabalho e da employee value proposition (EVP). Um erro comum que os líderes cometem é equiparar comprometimento a longas horas de trabalho. Na verdade, o compromisso tem a ver com resultados, produtividade e cumprimento de metas. Tratar os colaboradores com cuidado e justiça, permitindo-lhes viver uma vida plena fora do trabalho, pode levá-los a dar o melhor de si no trabalho. Quando os profissionais têm tempo para recarregar baterias e explorar outros interesses, o engagement aumenta. E quando realmente entendem os seus objectivos e os atingem de maneira eficaz, a produtividade aumenta.
Enquanto líderes de pessoas, Doug Dennerline defende que esse EVP deve ser repensado e ser focado no que realmente importa. Eis quatro lições-chave que os líderes devem ter em mente:
Resultados acima de tudo
A tendência do “lazy girl job” defende uma cultura voltada para resultados. Enfatiza a importância do que é feito e não no tempo que demora. Mudar o foco para a produtividade e não para o tempo promove um ambiente de trabalho mais eficiente e flexível, onde os colaboradores são avaliados pelo seu desempenho e não pela sua presença no escritório. E, claro, isso significa que as empresas devem ter as ferramentas e os processos adequados para documentar os objectivos e o progresso — e garantir que os resultados estão a ser alcançados.
Limites saudáveis
É fulcral reconhecer que o trabalho faz parte da vida, e não o contrário. A criação de políticas que reflictam esse entendimento pode promover um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Isso significa flexibilidade no horário de trabalho, oportunidades de trabalho remoto e garantia de que as comunicações fora do horário laboral sejam a excepção e não a regra.
Construir confiança e autonomia
Um aspecto crucial desta tendência é capacitar os colaboradores para orientarem o seu trabalho de forma autónoma. Ao confiar neles para gerir o seu tempo e tarefas, cria-se um sentido de propriedade e responsabilidade. Essa autonomia traduz-se em maior satisfação e desempenho no trabalho.
Integrar saúde e bem-estar
Todos os líderes fazem o seu melhor para contratar profissionais inteligentes, motivados e talentosos. É também sua responsabilidade garantir o seu bem-estar. Oferecer apoio à saúde mental, promover o bem-estar físico e cultivar um ambiente de trabalho positivo contribuem para esse objectivo.
Doug Dennerline alerta que as lideranças devem parar e prestar atenção ao que os trabalhadores – principalmente a próxima geração – estão a dizer sobre o que o trabalho deveria ser.
Os millennials e a geração Z não são iguais aos boomers. Têm ambição, mas não são tão movidos pelo dinheiro como a geração boomer. Querem equilíbrio nas suas vidas e não ser os primeiros a chegar ao escritório e os últimos a sair. Querem uma carreira e progredir, mas não à custa do equilíbrio.
“Lazy girl jobs” é uma tendência que encoraja os líderes a olhar além da sabedoria convencional e a criar um local de trabalho que esteja em sintonia com estas gerações e com o mundo moderno. Ao fazê-lo, promovem uma cultura onde os colaboradores se sentem cuidados, onde as suas vidas fora do trabalho são valorizadas e onde podem ter o melhor desempenho.
O CEO da Betterworks incentiva os líderes a encararem esta tendência como uma oportunidade e não uma ameaça. É um apelo à acção para repensar a abordagem à liderança, a relação com os colaboradores e a própria estrutura das organizações. Trata-se de criar um futuro onde o trabalho não seja apenas um meio para atingir um fim, mas uma parte significativa das vidas de cada um.