A lei não obriga, mas estas empresas apoiam os colaboradores em teletrabalho
A palavra teletrabalho entrou de rompante em muitas casas e em muitas empresas. Modelo de trabalho pouco praticado em Portugal, tornou-se a regra com a pandemia COVID-19. Com a sua implementação muitas dúvidas foram surgindo, nomeadamente quais as obrigações das empresas neste âmbito. Mas a lei nem sempre é (só) aquilo que prevalece para as empresas. Fomos conhecer o caso da Leroy Merlin, da Blip e da JLL Portugal.
Por Sandra M. Pinto
Com a pandemia causada pela COVID-19 as empresas viram-se obrigadas a colocar grande parte dos seus colaboradores em teletrabalho. Esta foi uma das medidas impostas pelo Governo para parar a propagação do vírus na comunidade. Com esta decisão foram muitas as organizações que se viram a braços com uma série de novos problemas e dificuldades, uma vez que muitas não estavam, de todo, preparadas para implementar este novo modelo de trabalho.
Com o correr dos meses e muitas adaptações depois, grande parte refere que o teletrabalho resultou em verdadeiros casos de sucesso onde a produtividade não foi afectada. Mas e os colaboradores em teletrabalho, de que forma se viram eles apoiados pelas suas empresas? Não tendo o Governo emitido nenhuma lei que obrigasse as organizações a prestar apoios aos colaboradores a trabalhar desde casa, muitas optaram por, decisão própria, apoiar e auxiliar, na medida do possível, todos os que tiveram de ficar em teletrabalho.
A organização enquanto elemento facilitador do teletrabalho
Tendo sido considerada como fornecedora de bens essenciais, a Leroy Merlin manteve-se sempre a laborar, com presença física nas lojas e entrepostos. «O teletrabalho foi mais uma realidade para os serviços centrais», relembra Ana Herrero, Líder de Desafio Humano na empresa em Portugal, «esta realidade bem como a dispersão geográfica dos nossos
serviços, levam a que desde sempre tenhamos implementado uma série de ferramentas e iniciativas que nos permitem ter uma ligação constante e um diálogo diário entre a Leroy Merlin e os seus colaboradores». Ana Herrero dá vários exemplos: «desde logo, a nossa rede social interna, o Workplace, na qual partilhamos informações e onde é possível os colaboradores interagirem e trocarem opiniões sobre os temas do dia a dia, bem como partilhar boas práticas e curiosidades; temos também a newsletter interna SOMA NEWS, que resume semanalmente as novidades da Leroy Merlin em Portugal, incluindo histórias inspiradoras e mensagens importantes para os nossos colaboradores; a nossa televisão interna é igualmente uma ferramenta importante de união e transmissão da nossa cultura organizacional, incluindo mensagens do Grupo ADEO divulgadas nos diferentes mercados onde a Leroy Merlin está presente, estando disponível nos espaços comuns reservados a trabalhadores nas nossas lojas e escritórios».
Para fazer face a esta nova realidade, a organização teve que adaptar algumas ferramentas e desenvolver outras. Assim, para optimizar a comunicação foi desenvolvido um site dedicado ao tema da pandemia onde é colocada toda a informação actualizada disponível, foi criado um canal de escuta de colaboradores, o LM à Escuta, foram realizados vários vídeos com actualizações regulares da situação, o Minuto LM, mas também com a explicação pelos líderes da empresa dos impactos económicos e do porquê das várias decisões tomadas. Ana Herrero acrescenta a disponibilização de quick guides para os managers, para os apoiar na gestão das equipas em tempos de crise, complementando com sessões de coaching e aconselhamento.
«Em termos de formação, acelerámos a digitalização dos nossos conteúdos, de forma a manter dinâmicas importantes do negócio (por exemplo a transformações de lojas) e também para manter as pessoas ligadas», sublinha Ana Herrero, «tivemos vários conteúdos formativos orientados à gestão de crise (gestão emocional, comunicação em tempos de crise, gestão de equipas à distância, entre outros), as talks INSPIRING FRIDAYS e vários webinars». A Leroy Merlin procurou animar as equipas para manter alguns rituais de conexão, sobretudo para quem está em trabalho remoto, realizando reuniões de equipa regulares, não só de trabalho, como também de team building e pequenos-almoços virtuais. Na opinião de Ana Herrero «estas ferramentas foram importantes no contexto de teletrabalho para manter a união e cultura da nossa empresa, tanto para os trabalhadores em teletrabalho como para os trabalhadores em trabalho presencial», acrescentando que este contexto «nos mostrou que as regras e as práticas de cada empresa têm de cumprir um processo evolutivo: hoje já comunicamos internamente de forma diferente do que fazíamos há um ano, e assim será daqui em diante».
No caso da Blip, a aposta nas pessoas sempre foi e será, uma das prioridades da organização, como refere Patrícia Carneiro, Senior HR Business Partner da tecnológica portuguesa. «O facto de estarmos a trabalhar de casa não veio alterar esta posição», assegura, «além de uma aposta na flexibilidade de horário que permite ao colaborador um maior equilíbrio da sua vida familiar/trabalho, tivemos uma especial atenção em continuar a proporcionar as melhores condições de trabalho».
Um dos exemplos dados por Patrícia Carneiro foi a atribuição de um subsídio para aquisição de material de escritório, como secretárias, cadeiras ergonómicas, entre outros. «Além disso,», acrescenta, «os colaboradores podem pedir à empresa um conjunto de outros equipamentos e acessórios, como por exemplo ratos ou monitores, tudo no sentido de lhes proporcionar as melhores condições possíveis para efetuarem o seu trabalho».
«Ainda antes das medidas que foram implementadas no âmbito da pandemia e que determinam a obrigatoriedade de teletrabalho para todos os que têm funções compatíveis com esse formato, já a JLL tinha uma política que permitia aos seus colaboradores trabalharem um dia por semana a partir de casa» refere Alice Matos, Head of Human Resources JLL Portugal. Desde 2019 que a empresa tina reunidas as condições, nomeadamente as tecnológicas e de planeamento e organização das equipas, para trabalhar remotamente, ainda que num regime de rotatividade, assegura.
Com a pandemia, para além das adaptações que foram necessárias fazer ao nível de Hardware / Software / Gestão de equipas à distância, etc., a JLL Portugal tem procurado conhecer a realidade de cada um, perceber as principais dificuldades e necessidades para responder em conformidade, sempre que tal resposta esteja ao alcance da organização. «Somos conhecidos pelo nosso bom ambiente de trabalho, do qual decorre um grande grau de confiança nos nossos profissionais e com isso um maior grau de flexibilidade na gestão do tempo de cada um», afirma a responsável, «isso tem possibilitado e facilitado em muito a forma como cada um consegue adaptar as suas circunstâncias pessoais às suas responsabilidades profissionais. E a verdade é que tem corrido tão bem que o ano passado tivemos o terceiro melhor ano de sempre».
Compensações financeiras
Pelas características específicas da Leroy Merlin e a divisão dos seus trabalhadores entre teletrabalho e trabalho presencial, surgiram necessidades específicas e diferenciadas. «Criámos uma compensação financeira especial para os colaboradores que estão em casa em situação de assistência à família, uma vez que as escolas estão encerradas, compensando uma parte e durante um período de tempo, eventuais reduções dos valores salariais usufruídos mensalmente», afirma Ana Herrero. Para os restantes colaboradores em teletrabalho, «garantimos todas as condições para realizar o trabalho a partir de casa, através da disponibilização de equipamentos, como portáteis e headsets». Além disso, «todos os nossos colaboradores têm um smartphone atribuído pela Leroy Merlin com acesso à web, permitindo que utilizem os dados móveis da empresa para todas as necessidades profissionais», acrescenta a Líder de Desafio Humano.
Sobre esta questão, Patrícia Carneiro esclarece que na Blip, «além do subsídio de 250€ para os colaboradores poderem comprar material de escritório, a empresa decidiu recentemente atribuir um subsídio adicional de 400€ para apoiar os colaboradores noutros gastos adicionais, como, por exemplo, eletricidade e gás que, por norma, são superiores nestes meses de Inverno».
No caso da JLL Portugal, em 2020 uma das iniciativas que «nos orgulhámos de lançar foi o apoio a alguns colaboradores com filhos em idade escolar e que precisavam de equipamento tecnológico», relembra Alice Matos, esclarecendo que «este ano, o plano é reforçar este apoio, com a doação de quatro vezes mais computadores, estando ainda em delineamento as outras medidas que vamos pôr em marcha para melhor conseguirmos responder às necessidades das pessoas».
Benefícios a pensar no bem-estar dos colaboradores
Estas empresas não se limitaram a ajudar financeiramente os seus colaboradores. Na Leroy Merlin, e perante o contexto excepcional que vivemos, foi lançada a Operação Retribuir, «uma campanha de descontos em loja, para os nossos colaboradores e profissionais de saúde por todo o empenho e dedicação que têm tido durante a pandemia», revela Ana Herrero. No âmbito da política de Impacto Positivo e de Empregador Responsável da Leroy Merlin, no final de 2020 a empresa decidiu atribuir um valor simbólico a cada colaborador, via cartão presente Auchan, para aplicarem em bens ao serviço do seu bem-estar e/ou melhoria da sua casa. «Também ao nível do apoio individual, criámos linhas de atendimento telefónico para aconselhamento e bem-estar psicológico e disponibilizámos consultas de medicina curativa em formato online para todos os nossos colaboradores», relembra Ana Herrero, acrescentado que «os colaboradores muito impactados pela pandemia podem também recorrer ao Fundo de Solidariedade Adeo, particularmente criado pelo Grupo Adeo para este contexto».
Mais recentemente, a Leroy Merlin criou uma nova política de smart working, nesta fase dirigida aos colaboradores dos Serviços Internos, muito focada na optimização das rotinas de trabalho, tendo em conta o contexto actual, muito baseado no teletrabalho. «Integrámos as aprendizagens que fizemos desde o primeiro confinamento e fizemos uma reflexão mais profunda sobre smart ways of working, no sentido de melhorar a produtividade de todos na gestão diária do trabalho, mas contribuindo também para um maior worklife balance», revela Ana Herrero. A responsável revela que «no futuro serão naturalmente avaliadas novas formas de trabalho, como a possibilidade de trabalho remoto e/ou teletrabalho sempre que a função o permitir, independentemente do contexto», aseegurando que a «A Leroy Merlin é e será uma empresa cada vez mais digital e continuaremos a procurar respostas inovadoras para dar aos nossos colaboradores as melhores condições
possíveis no seu dia a dia».
«Temos uma política de flexibilidade que permite aos colaboradores organizarem o seu dia de trabalho, por forma a equilibrar melhor a sua vida familiar e o trabalho», afirma Patrícia Carneiro, Senior HR Business Partner da Blip. Adicionalmente, a responsável refere que foi criado o Employee Assistance Programme, «um serviço gratuito de apoio e assistência profissional em várias áreas, como a psicológica e social, disponível para todos os trabalhadores e seu agregado familiar».
A isto Patrícia Carneiro acrescenta o «excelente seguro de saúde, também ele gratuito para o colaborador e seu agregado familiar, que poderá ajudar a diminuir possíveis despesas de saúde que os colaboradores e sua família tenham ou possam vir a ter, sendo que estamos também a dinamizar um conjunto de acções de formação na área de wellbeing, gestão de stress e comunicação remota». A Blip valoriza um ambiente de trabalho muito familiar e informal, pelo que o facto de «estarmos em casa não é exceção». «Continuamos a encorajar o contacto entre as pessoas, as equipas e actividades de “employee experience”, como convívios virtuais, aulas de ioga, de pilates, iniciativas de união e partilha ou jogos», enumera Patrícia Carneiro. A Senior HR Business Partner conclui acrescentando que «implementámos uma nova política de férias flexíveis que permite aos nossos colaboradores gozarem até 30 dias de férias por ano, de acordo com a sua antiguidade na empresa, para aumentar ainda mais as oportunidades de descanso».
A saúde e o bem estar das pessoas é um dos pilares fundamentais da estratégia de gestão de pessoas na JLL, não só localmente como também a nível global. Nesse sentido, foram lançadas iniciativas 2020 para fazer face ao possível (e muito provável) desgaste emocional, físico e económico dos colaboradores, afirma Alice Matos. «Temos uma equipa de profissionais 100% dedicada ao tema e que disponibilizam semanalmente conteúdos actualizados nestes temas, em formatos tão distintos como webinars, live workshops com oradores internos e/ou convidados externos, parcerias com institutos de mindfulness e ioga e respectivas plataformas online, acesso a milhares de cursos na plataforma linkedin learning, e acesso 24h a profissionais da área da psicologia que podem atender os colaboradores da JLL em caso de necessidade (disponível para alguns países)», adianta a Head of Human Resources JLL Portugal.
Em Portugal foi também implementado um programa local, que resultou da auscultação da equipa e que está focado maioritariamente no bem estar emocional e físico. «Temos sessões bi-semanais de PT exclusivo para a JLL Portugal e sessões semanais para trocar “2 dedos de conversa” enquanto tomamos café (para replicar a dinâmica que tínhamos normalmente no escritório), chamadas “JLL Café”», sublinha Alice Matos. A organização também tem apostado na comunicação constante com todos, com a realização de um Town Hall semanal, em que o host é o CEO Pedro Lancastre, com oradores que vão mudando todas as semanas com o objectivo de ir partilhando informação útil com todos – negócio, iniciativas de formação, iniciativas de wellbeing, entradas, aniversários entre outros. «Esta foi uma iniciativa que já tínhamos lançado em Março do ano passado e é uma das mais apreciadas por todos», revela Alice Matos, concluindo que «vamos continuar a apostar em iniciativas que nos permitam estar próximos das nossas pessoas, apesar de afastados fisicamente, Remotely Together».