Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. “Leva-me para a lua” E mais além
As histórias que contam factos reais apresentam exemplos que podem ser inspiradores, pois interpelam-nos de imediato: e se fosse comigo? “Fly Me to the Moon”, de Greg Berlanti, com Scarlett Johansson e Channing Tatum nos principais papéis, é um bom exemplo.
Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media
Em 1961, John F. Kennedy lança o desafio da “ida à Lua”. O projecto avança com o desenvolvimento da NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço), mas os custos disparam e os fracassos também. A guerra do Vietname vai consumindo cada vez mais vidas e recursos, levando a opinião pública americana a questionar se vale a pena desperdiçar tanto dinheiro numa iniciativa criada para ganhar a corrida à União Soviética na chegada do primeiro Homem à Lua e mostrar assim o valor e o prestígio de uma nação.
Os anos voam e, em 1969, a equipa do presidente Nixon vai adoptar a estratégia de recorrer a uma agência de publicidade para conquistar o público a aderir a esse sonho, já tão próximo de alcançar. O objectivo é explicar a NASA e o que esta organização significa para cada pessoa, revelando o que realmente está em jogo. Contratam-se de modo “confidencial” duas profissionais: uma rapariga “criativa” e a sua assistente. Elas possuem visões do mundo opostas – em especial, a nível político –, mas respeitam-se e isso fortalece a sua amizade. Confiam mesmo uma na outra.
Ao longo do filme, vamos vendo como surgem reportagens, notícias e campanhas que vão tornando compreensível à população o alcance e o valor deste projecto. Elas sabem como “relacionar” diferentes aspectos e factores, de forma a interessar o público. Tudo corre bem, mas as duas publicitárias sabem que nem tudo o que se mostra é exactamente o que se passa. Não mentem; porém, a verdade também não é tal como a exibem. Continuam o seu trabalho, e um dia têm a ideia de transmitir em directo a chegada à Lua.
Isso seria o máximo! Todos concordam, mas as dificuldades técnicas são muitas, e os próprios colaboradores da NASA não gostam de tanta exposição mediática, sendo que algo poderia correr mal. De forma secreta, resolve-se preparar uma recriação do evento e transmiti-la como se fosse real. Para as duas raparigas não há “problemas de consciência”, mas para o responsável da NASA isso é mentir – ele é honesto e a verdade, é para ele crucial. Numa outra ocasião, só convencera um senador a apoiar o financiamento do projecto quando explicara, de forma verdadeira, aquilo em que acreditava, sem o enganar com “palavras bonitas”.
De repente, toda a estratégia de comunicação fica num impasse. Tudo só se resolve quando a “criativa” e o responsável da NASA falam de modo franco e sincero sobre o que se passa. Esclarecem verdadeiramente a dimensão da questão. Então, ao conhecer-se “todo” o problema, vão surgindo soluções concretas para que a transmissão real desde a Lua fosse possível, em tempo real. Isso une-os e vai atrair outros a colaborarem nessa tarefa. A grande lição do filme é que quando se procura ser mesmo honesto e leal, a motivação e o empenho ganham asas, pois sabe-se que se luta por algo digno e maior que o interesse pessoal imediato.
O happy end da viagem à Lua e da sua transmissão “ao vivo” revela que, de facto, o verdadeiro sentido da vida é quando a pessoa procura ir além de si própria, dando o melhor de si aos outros e aos projectos em que se envolve. Isso conduz tanto à felicidade a nível pessoal como à realização profissional.
Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº. 166) da Human Resources, nas bancas.
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