Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Um (verdadeiro) líder com as mãos no volante
Gran Turismo, do realizador Neill Blomkamp, com Orlando Bloom e David Harbour nos principais papéis, é um filme baseado em factos reais e que aborda questões que nunca perdem a actualidade, como a motivação pessoal e as relações que se estabelecem numa equipa.
Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media
Tudo começa com um jovem viciado em videojogos, em especial no Gran Turismo. Jann Mardenborough tem mesmo jeito para conduzir em modo “simulador” e domina toda a mecânica do seu carro virtual. Sabe desenhar estratégias acertadas para cada prova. A única variável que não consegue controlar é a aprovação dos pais, pois sentem que o filho “não faz mais nada” do que jogar na PlayStation e zangam-se com ele.
O rapaz sente-se motivado em continuar a jogar, pois vê que é capaz de ir superando os diversos níveis de dificuldade. Está focado e os bons resultados surgem. Aparece então uma oportunidade – que é ao mesmo tempo um golpe publicitário. Uma marca real de automóveis, a Nissan, lança um desafio: os jovens podem concorrer ao lugar de pilotos, caso tenham conduzido os seus carros na PlayStation, dando-lhes a hipótese de correrem numa prova “a sério”.
O protagonista da história inscreve-se. É aceite para ir às entrevistas e poder ser seleccionado. Há vários candidatos. As provas de selecção são difíceis. Os responsáveis o que querem é encontrar um piloto que possua um carácter íntegro, que transmita confiança aos colegas de equipa e não alguém “supercompetente”, que só pense em triunfar a qualquer custo.
Nesta fase de “selecção” surge logo uma primeira lição útil para todos: o jovem acaba por ser escolhido, não só por conduzir bem, mas porque sabe explicar aos mecânicos, com bons modos, de que forma se poderia tirar mais rendimento do automóvel. Isso seria decisivo para ser seleccionado! Trata todos de maneira correcta, sem se impor com arrogância. Apresenta problemas, mas sugere possíveis soluções, assentes em dados concretos.
Ao começar a correr “ao vivo”, nem tudo vai logo bem. Porém, vê-se que percebe e que está em crescendo. Fala com o seu mentor e cria uma boa relação com ele. Conversam, trocam ideias e demonstram com gestos de confiança mútua que podem contar um com o outro. Esta é outra lição muito clara: quando rebentam as dificuldades imprevistas, neste caso, um grave acidente, a superação da frustração perante um êxito não alcançado só é ultrapassado com a ajuda de outros.
Não é fácil que uma pessoa sozinha e por si própria vença o receio do fracasso e o turbilhão de emoções e sentimentos negativos que afectam a saúde mental. Neste caso, será precisamente o poder “contar com o outro” que o faz não desistir e retomar uma carreira promissora. Um pormenor do mentor é levar o jovem de novo ao local do acidente, num dia sem corridas. Pára o carro exactamente no sítio do desastre e pede que Jann conclua o percurso até à meta, que fora interrompido meses atrás. Ele quer mostrar-lhe “o que faltava”, demonstrando que continua a confiar nele e inspirando-o a voltar a correr nas provas que ainda faltavam.
O herói avança e “faz História”, bem como os visionários deste desafio, que souberam acertar no processo de selecção que os levou à pessoa certa!
Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 168) da Human Resources, nas bancas.
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