Liderar: a arte de estar disponível

Por Nuno Moreira da Cruz, director executivo do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon School of Business & Economics

Tenho para mim que a demonstração de disponibilidade é uma das características fundamentais de um líder. Mais ainda nos tempos atuais em que as incertezas são muitas, o famoso mundo VUCA (volatility, uncertainty, complexity, and ambiguity) em que os ambientes empresariais hoje se desenvolvem. A importância desta característica de liderança é ainda mais relevante em ambientes profissionais e culturais (onde Portugal se insere) onde se associa profissionalismo a quem tem uma agenda “carregada” e sempre muito ocupada. As lideranças tendem a querer demonstrar que “têm muito para fazer”, e uma agenda “cheia” é ridiculamente associada em muitas sociedades a “grandes profissionais”.

Nada mais longe da verdade . É evidente que o tempo escasseia para tudo o muito que há para fazer, mas isso apenas significa que se exige das lideranças serem, acima de tudo, fantásticos (as) gestores do tempo. E ter presente o que realmente é prioritário.

E o que é prioritário é a gestão das pessoas que connosco colaboram. Os membros da nossa equipa têm sempre de sentir que o líder “está sempre lá” e quando “está comigo” é como se o mundo parasse, nada mais existe. Tive a sorte, como já referi em artigos anteriores, de ter tido na vida líderes inspiradores muito cedo na minha carreira – líderes que quando estavam comigo…estavam comigo. Nada mais havia. Naqueles 5 ou 50 minutos eu era o centro do mundo.

“Do less. Be more” é uma das principais conclusões de um estudo realizado pela Bain, onde a necessidade de estar “presente” (a que chamam centeredness) é claramente identificada como uma das características fundamentais de um líder. “Presente” não só obviamente no sentido físico, mas sim a presença “autêntica” (sobretudo através da capacidade de escuta) que transmite o conforto da sensação “estou aqui para ti”. Fazer com que a equipa sinta isto é uma arte de liderança, só ao alcance daqueles que verdadeiramente aspiram a ser líderes inspiradores.

Dicas para melhor gerir o tempo e estar “presente” estão por todo o lado no espaço digital. Mas de pouco servem se, genuinamente, um líder não sentir que isto é mesmo assim. Há que esquecer, sobretudo em culturas como a nossa, que a permanente manifestação de disponibilidade pode ser interpretada como “pouco profissional, tenho pouco para fazer”. Se se continuar assustado por esse fantasma, a manifestação de disponibilidade de que os liderados tanto necessitam nunca existirá.

É preocupação que não faz sentido. Recordo-me de um conselho que me deu um dos tais líderes que mencionava anteriormente: “sempre que quiseres que algo aconteça só tens duas hipóteses – ou fazes tu mesmo ou pede à pessoa mais ocupada da organização. Essas sempre encontram tempo”. Algo muito injusto, mas que, estou certo, reconhecerão na vida das vossas empresas.

E para terminar, uma dica (esta seguramente ausente do espaço virtual) para muitos líderes, e ainda numa ótica de gestão do tempo: sempre que algum dos vossos colaboradores vos pedir para falar convosco porque têm três temas para comentar…peçam que comece pelo terceiro. Seguramente um tema pessoal e muito provavelmente a única razão que pediu para reunir convosco.

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