Luís Martins, administrador da Sogrape: «O nosso propósito é a nossa alma»
A Sogrape nasceu em tempo de guerra, e por isso sempre encarou as crises como oportunidades. Na base do sucesso está a combinação entre a sua essência familiar – que se estende a todos os colaboradores – e um propósito comum, que Luís Martins define como um «movimento rumo a um sonho partilhado que inspira e energiza as pessoas para a acção».
Por Ana Leonor Martins | Fotos Egídio Santos
A definição do propósito foi precisamente um dos temas que o presidente da Sogrape, Fernando da Cunha Guedes, tratou como prioritário quando assumiu o cargo; sistematizar o “porquê”, para robustecer e preparar a empresa para o futuro. Acreditando que tudo aquilo que lhes permitiu o caminho de sucesso ao longo de quase 79 anos de história não garante, por si só, o sucesso nos próximos anos, sabe que a Sogrape tem de se transformar.
Luís Martins é administrador, com responsabilidade pelo pelouro People & Transformation, que visa «criar condições, aos mais diversos níveis, para facilitar o processo de transformação da empresa». Em 2014, como agora, assumiu como uma das prioridades de actuação o investimento na requalificação da área de Gestão de Pessoas. «É uma jornada contínua, com um grau de exigência cada vez maior», reconhece. Ainda neste âmbito, partilha que os desafios para os próximos anos passam por trabalhar o planeamento da sucessão, pela actualização das competências-chave e pela transformação digital dos processos.
Está na Sogrape há quase 21 anos, tendo começado na área de Planeamento e Controlo. Que empresa recorda dessa época?
É verdade, já passaram muitos anos! Recordo-me de ter sido muito bem recebido por todos e de ter sentido que estava a entrar para uma empresa em que as pessoas se davam muito bem. Tenho na memória algumas conversas com colegas das mais diversas áreas e o modo como eles sentiam a Sogrape. Foi muito impactante para mim perceber, naquela data, que mais do que uma empresa, estava a juntar-me a uma família.
Que diferenças fundamentais identifica para a Sogrape de agora? E o que se mantém constante?
Passadas mais de duas décadas, é inevitável que muita coisa tenha mudado. A Sogrape é hoje uma organização mais colaborativa e orientada para o cliente. É impressionante a quantidade de projectos em curso e a capacidade de superação das equipas. Temos vindo a fazer muito nas mais diversas áreas, quase sempre com bastante valor acrescentado.
De qualquer forma, apesar desta enorme evolução, é um orgulho constatar que se mantiveram inalterados os valores da Sogrape, a nossa perspectiva de longo prazo e o espírito familiar que tanto nos caracteriza.
Em 2014 assumiu as funções de administrador, com responsabilidade, entre outras, pela área de Recursos Humanos. Há seis anos, quais eram os principais desafios neste âmbito?
Desde logo, a preocupação com a requalificação da área, com vista a uma maior dedicação aos temas de Desenvolvimento. O departamento de Recursos Humanos (RH) estava muito associado aos assuntos de natureza administrativa e não era prioritária a dedicação a tópicos como o desenvolvimento das pessoas. Isto não significa que nada fosse feito, mas, de facto, o paradigma era outro.
Outro grande desafio passou por colocar os RH na agenda da Gestão, dotando a equipa de mais literacia na matéria e criando predisposição para falar de pessoas, assim como se fala de operações ou de assuntos de cariz comercial ou financeiro. Sabemos que os temas mais conceptuais são muito exigentes em termos de tempo, mas a sua relevância é crescente.
A integração cultural foi outro foco de atenção. Ao longo dos anos, a Sogrape tem vindo a incorporar novos negócios por aquisição, o que resulta numa combinação de distintas culturas, a que se soma o desafio adicional de ser um mix de distintas geografias. Trabalhar a diversidade, garantindo um espírito comum, foi também um importante objectivo.
Finalmente, havia que actualizar a grande maioria dos conceitos fundamentais de Recursos Humanos, como Mapeamento Organizacional, Compensações e Benefícios, Competências, Gestão de Desempenho, Formação e Desenvolvimento, Gestão de Talento e Planeamento de Sucessões, etc. Mais do que um desafio isolado, constituiu um conjunto significativo de desafios.
O que assumiu como sendo prioridades de actuação?
O reforço de competências da área. Foi necessário irmos ao mercado e reforçarmos a área de Desenvolvimento de RH com pessoas muito preparadas, com experiência internacional e também de consultoria, o que nos permitiu dar um salto qualitativo. A partir daí, estávamos prontos para lançar um projecto muito ambicioso ao nível do capital humano, para trabalhar os conceitos fundamentais de RH, especialmente a Gestão do Talento e o Planeamento de Sucessões.
Em paralelo, e actuando ao nível da diversidade cultural e geográfica, com a área de Comunicação e Relações Públicas, empenhámo-nos em definir a Política de Comunicação Interna da Sogrape, para chegarmos de forma eficaz à nossa família alargada espalhada pelo mundo.
E quais são hoje os desafios mais prementes, nomeadamente depois de termos sido confrontados com uma pandemia?
O investimento na requalificação da área de Gestão de Pessoas continua a acontecer. É uma jornada contínua, com um grau de exigência cada vez maior.
Temos hoje uma equipa muito mais capaz e preparada, que tem vindo a entregar muitos projectos críticos, nomeadamente o mapeamento de todas as funções na organização e a sua valoração comparada, o novo Modelo de Grupos Organizacionais, a nova Política Retributiva e o novo Sistema de Gestão de Desempenho.
Ao longo deste período, demos ainda vida a diversas iniciativas com vista a enriquecer a experiência do colaborador na empresa, tais como estágios de vindima, almoços com o presidente, Kits de Nascimento, entre muitas outras.
Em contexto de pandemia, a experiência do colaborador ganhou ainda mais relevância, pois o facto de as pessoas, de um momento para o outro, terem passado a desempenhar a sua função em teletrabalho mudou muito o modo como desenhamos a experiência de trabalho. Ainda mais no caso da Sogrape, onde o carácter familiar se vive diariamente, numa valorização constante do contacto pessoal e dos momentos de alegria e amizade que temos em conjunto.
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