Marco Serrão, Galp: Trabalho híbrido ou smartworking?

Marco Serrão, Chief People & Space Officer da Galp, acredita «no smartworking, num modelo adaptado às circunstâncias e prioridades específicas de cada organização, na integração fluida das responsabilidades pessoais e profissionais, num work-life integration que cria sinergias ao longo do dia entre os compromissos do trabalho, família, comunidade e bem-estar pessoal.»

 

«Tenho tido, ao longo da carreira, a felicidade de trabalhar em organizações que permitem flexibilidade e liberdade na gestão do horário, dos desafios e responsabilidades pessoais do dia-a-dia e dos compromissos profissionais.

Esta boa prática ganhou uma expressão muito significativa durante a pandemia de COVID-19, quando as organizações se viram “forçadas” a permitir que os seus colaboradores executassem as funções a partir de casa, criando um “novo” conceito, o trabalho híbrido.

Nos últimos tempos, muitas questões têm sido levantadas acerca dos benefícios do trabalho híbrido, com empresas reconhecidas internacionalmente, como a Amazon, a alterarem as “regras do jogo” e a mandatarem presença no escritório cinco dias por semana. Importa reflectir no porquê desta tendência; é muito fácil criticar a inflexibilidade da Amazon, mas sendo esta uma empresa com uma cultura de obsessão pelos dados, certamente estes lhe dizem algo relevante que originou a mudança da política. Desconhecendo esse detalhe, parece-me importante ressalvar dois pontos:

1) Os benefícios da flexibilidade e liberdade, que estão na génese destas políticas, transformaram-se em inflexibilidade e rigidez, definindo os colaboradores, de uma forma quase unilateral, em que dias lhes apetece trabalhar no escritório (segundas e sextas tendem a ser dias de escritório vazio);

2) A importância para a cultura das organizações da saudável interacção social e dos ocasionais cafés na copa perdem cada vez mais preponderância em prol do multitasking digital, que a investigação demonstra não ser muito produtivo. Não quero com isto dizer que a política totalmente presencial da Amazon, e de outras empresas, seja correcta – aliás, não acredito que o seja porque não permite qualquer flexibilidade e liberdade. Aquilo em que realmente acredito é no smartworking, num modelo adaptado às circunstâncias e prioridades específicas de cada organização, na integração fluida das responsabilidades pessoais e profissionais, num work-life integration que cria sinergias ao longo do dia entre os compromissos do trabalho, família, comunidade e bem-estar pessoal.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Dezembro (nº.168) da Human Resources, no âmbito da LVI edição do seu Barómetro.

A revista está nas bancas. Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

Ler Mais