Medidas estruturais implicam menos distracção. É preciso coragem para parar, pensar e planear (em vez de empurrar com a barriga)

Por António Saraiva, Business Development manager – ISQ Academy

 

Quando procuramos um sinónimo para o conceito de distracção, confrontamo-nos com falta de atenção, alheamento, abstracção, até mesmo bloqueio ou diminuição na recepção de informação, ou desvio da atenção de uma área de foco. Na realidade, expressões ou conceitos com carga de alguma forma negativa.

Mas será que a distracção é uma mera atitude, um traço comportamental ou, tão simplesmente, uma forma de estar? Até porque ser distraído pode transformar-se numa forma fácil de estar na vida. Aquilo a que se considera uma defesa com vista à redução da ansiedade – muitas vezes, dá algum jeito alhearmo-nos do que está à nossa volta.

A questão é que a distracção pode assumir dimensões que potenciam impactos significativos na nossa vida, em todas as suas componentes: pessoal, profissional e social. E quando vamos para um nível macro registe-se o que se passa, em particular nos sectores da Educação e Saúde. Distraímo-nos de tal forma que não se consegue ter resposta para a falta de professores, assim como da mesma forma faltam médicos e enfermeiros, sobretudo ao nível de valências específicas. Mas são apenas dois exemplos de algo que é transversal.

Queixamo-nos de que não encontramos talento suficiente, que falta mão-de-obra qualificada e até não qualiificada. Desculpamo-nos com o envelhecimento da população e uma demografia só compensada pelos fenómenos migratórios. E, mesmo neste caso, discutem-se muitas vezes teorias, em vez de soluções práticas.

O curioso é que os fenómenos demográficos, o envelhecimento da população, as solicitações globais ao talento, o advento de exigências de novas competências, as transformações do mundo profissional e, até, social, não aconteceram de um dia para o outro. Há muitos anos que se teoriza sobre as tendências de mercado e sobre os fenómenos que impactam na vida de todos nós. Fantástico! Algo muito importante para o mercado editorial que conseguiu vender muitos livros sobre estes temas. Muito bom para muitos speakers que conseguem facturar bem em conferências por todo o mundo. Nada contra e sempre com o benefício de aumentarmos conhecimento.

Mas a questão de fundo é que a distracção está a levar-nos, mais uma vez, para soluções conjunturais e não estruturais. Esta lógica resolve (será que resolve?) o imediato, por via do desespero de causa, e, nestas circunstâncias, como se costuma dizer “empurramos com a barriga” os problemas, já para não falarmos nos custos financeiros que estão sempre associados. Mais uma vez, catapultamos para as gerações vindouras os problemas.

A solução certamente passa por existir a coragem de parar um pouco para pensar e planear. Pensa-se sempre em votos, ou em dinheiro, dependendo de onde se encontra o poder de decisão. Raramente se pensa de forma sustentável. Aposta-se frequentemente em soluções de recurso e, muitas vezes, de forma extremada, dependendo de onde sopra o vento.

Enquanto acharmos que a distracção dá muito jeito para não assumirmos a responsabilidade pelo bem-estar geral e que, até, é um desígnio colectivo estarmos devidamente comprometidos e atentos aos reais problemas, tudo se avolumará, com apenas ganhos pontuais, muitas vezes movidos por interesses. Mas o perigo é real: sem assumirmos acções estruturais, sem planearmos a sua implementação, muito em breve deixaremos de ter respostas conjunturais, pois além de finitas, não são sustentáveis!

Ler Mais