Médis. Saúde mental: Sinais de alerta e prevenção
O tema da saúde mental está cada vez mais representado nas estratégias de saúde e bem-estar das empresas.
A preocupação com a saúde mental dos colaboradores nas empresas ganhou uma nova relevância na sequência da pandemia, que expôs de forma mais evidente os sintomas e os efeitos de factores como o isolamento, o stress, o excesso de trabalho ou um inadequado equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. E, se é verdade que a pandemia tornou mais visíveis as questões relacionadas com a saúde mental, também é um facto que este não é um problema novo.
De acordo com dados recolhidos pela Médis, já em 2020, ainda no início da pandemia, 59% dos colaboradores de empresas em Portugal sofriam de stress laboral e 45% afirmavam que o volume de trabalho aumentou durante a pandemia. Por outro lado, 44% consideravam que a sua produtividade aumentou desde que começaram a trabalhar a partir de casa.
Os problemas relacionados com a saúde mental podem manifestar-se de diversas formas, sendo três aquelas que parecem ser as mais comuns entre os colaboradores das empresas: a ansiedade, que pode ser resultado de excesso de trabalho, busca incessante por resultados, excesso de responsabilidades ou tarefas e prazos desajustados da realidade; o stress, talvez o mais comum, que pode interferir na produtividade e dar origem a problemas físicos de saúde; e ainda o burnout, uma condição de saúde mental relacionada com o trabalho que se caracteriza por sentimento de esgotamento, exaustão e negativismo em relação ao trabalho e redução da eficácia profissional.
Burnout e depressão
O leque de complicações de saúde mental relacionadas com o trabalho é vasto, mas o crescimento de complicações como o burnout ou a depressão são aquilo que está, de facto, a fazer as empresas olharem de forma diferente para o tema. Já em 2018, um inquérito realizado pela Deco alertava: três em cada 10 portugueses estão em risco de burnout.
Quatro anos depois, em Outubro de 2022, um relatório de uma farmacêutica alemã intitulado “STADA Health Report 2022” no qual participaram 30 mil europeus, entre eles, 1 997 portugueses, referia que mais de metade da população em Portugal diz já ter sofrido ou estar perto de sofrer um burnout devido ao estado de elevada tensão emocional e stress provocado por condições de trabalho desgastantes.
O SNS descreve o burnout como um «estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma actividade profissional». Um factor de risco para este síndrome é o desajuste das exigências laborais face aos conhecimentos e/ou capacidades dos trabalhadores. Embora o burnout esteja relacionado com o trabalho, o seu impacto não se limita à produtividade, podendo criar limitações na vida pessoal.
Alguns autores consideram que o burnout se desenvolve ao longo de três etapas: o esgotamento, que como referido anteriormente se caracteriza por uma sensação de exaustão física e emocional; a despersonalização, que leva a que o contacto com o outro seja mais impessoal e sem empatia; e a redução da produtividade, que resulta da perda de interesse pelo trabalho. Como consequência, o colaborador não se sente profissionalmente realizado.
Existem alguns sintomas a que todos devemos estar atentos. A nível físico, este síndrome pode causar problemas gastrointestinais, taquicardia, sensação de falta de ar, tonturas, transpiração excessiva (sudorese), problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga crónica, tensão muscular com dor, insónia, alterações do apetite, sistema imunitário fragilizado. Por outro lado, existem sinais emocionais que também podem ser resultado do burnout, como tristeza, apatia, falta de prazer nas tarefas diárias (anedonia), frustração, irritabilidade, sensação de injustiça e de falta de recompensa, ansiedade, depressão ou baixa autoestima, entre outros sinais. A nível cognitivo, devemos estar atentos a problemas como dificuldade de concentração, lapsos de memória constantes, confusão mental, maior lentidão na execução de tarefas, decréscimo da criatividade, pensamentos persistentes relativamente ao trabalho (ruminações) e necessidade de controlo.
O burnout também se reflecte a nível social, com isolamento ou surgimento de comportamentos conflituosos com familiares, amigos e colegas de trabalho, por exemplo.
Nos casos mais graves, o burnout pode ser a causa para uma depressão, como resultado da ansiedade, da desmotivação ou da perda de um propósito. Isto acontece porque quando a profissão deixa de fazer sentido, uma grande parte da vida da pessoa fica comprometida, com impacto na autoestima.
De acordo com David Neto, presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses, «a depressão é mais incapacitante do que muitas doenças físicas» e, por isso, o melhor que as pessoas devem fazer antes de atingir o pico é procurarem ajuda. «A intervenção psicológica pode ser bastante útil para lidar com problemas do foro da saúde mental. No entanto, também podemos pensar numa lógica preventiva. Se as pessoas estão a passar por reações emocionais adversas que estão a criar um determinado impacto é importante procurarem ajuda de um psicólogo, no sentido de prevenirem o desenvolvimento de situações mais graves», aconselha David Neto.
Do mesmo modo, é importante saber distinguir uma depressão de um estado de tristeza, e esta autoanálise pode não ser uma tarefa fácil. «Uma tristeza saudável implica, por exemplo, que a pessoa ainda consiga trabalhar ou ter relações produtivas com outras pessoas. Por outro lado, existem sintomas menos habituais na tristeza saudável e que se referem mais a um estado depressivo, como os que estão relacionados com fadiga, falta de energia, problemas de sono ou alterações do apetite», explica o psicólogo.
Não desvalorizar a depressão ou qualquer outra doença do foro mental é outro aspecto de particular importância, visto que é isso que acontece na maioria dos casos, pelo menos numa fase inicial. Teresa Bartolomeu, responsável da Oferta de Saúde do Grupo Ageas Portugal, afirma «por não serem consideradas doenças físicas, a Saúde Mental fica habitualmente para segundo plano, colocando em risco a sua prevenção e respectivo tratamento». O mesmo se aplica quando se fala de depressão, mas o que se sabe sobre esta doença, mostra o contrário. «A depressão tem muitos mais custos, é muito mais problemática e não resulta propriamente de actos de vontade, na medida em que uma pessoa não pode decidir não estar deprimida», afirma David Neto.
Reduzir o estigma relacionado com as doenças mentais é outro aspecto importante e que diz respeito a toda a sociedade. É fundamental que tenhamos a noção de que todos podemos vir a ter um problema de saúde mental e que isto «não corresponde a uma falha, a uma definiência ou a uma fragilidade. Salvo algumas exceções, o facto de alguém ter um problema de saúde mental não significa que vá ter esse problema para o resto da vida», refere o psicólogo.
Prevenção
Estilos de vida saudáveis e alimentação adequada estão na base da prevenção das doenças mentais, bem como um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. No podcast da Médis “Faz bem à Saúde”, Tiago Pereira, membro da Direcção da Ordem dos Psicólogos, adverte que, enquanto cidadãos, familiares, amigos, vizinhos, todos devemos estar mais sensíveis às questões de saúde mental e atentos ao que se passa com as pessoas que estão ao nosso redor. O psicólogo afirma que a resposta para estes problemas não deve ser apenas «a ajuda profissional dentro de um gabinete. Ela tem de estar antes», por isso, todos, enquanto pessoas e organizações, temos um papel fundamental nesta matéria.
Do ponto de vista do indivíduo, procurar uma alimentação equilibrada e evitar o sedentarismo podem ser factores-chave no que diz respeito à prevenção. A actividade física, em particular, é reconhecidamente benéfica para prevenir doenças físicas, mas desempenha também um papel fundamental numa saúde mental saudável. As pessoas sentem mais energia ao longo do dia de trabalho, dormem melhor à noite, têm melhor memória e experienciam uma maior sensação de bem-estar e positividade perante si mesmas e as suas vidas.
E há muitas formas de ser activo, mesmo sem praticar nenhum desporto em particular ou ir ao ginásio. Muitos especialistas concordam que uma curta caminhada de 10 minutos já tem efeitos benéficos para o corpo, aumentando o estado de alerta mental, a energia e o humor. No que diz respeito à saúde mental, o exercício físico melhora a autoestima e reduz o stress (causa de muitas doenças mentais) e a ansiedade.
No site da Médis, há um espaço exclusivamente dedicado à Saúde Mental, com conteúdos sobre promoção da saúde mental, detecção precoce e tratamento, bem como ferramentas de autoavaliação na área da saúde mental e bem-estar. Para a marca do Grupo Ageas Portugal, é prioritário fomentar a literacia em Saúde Mental, sobretudo junto das faixas etárias mais jovens, alertando desde cedo para as problemáticas de foro psicológico. E junto, claro, das empresas, porque se as entidades conseguirem dar um melhor acompanhamento aos seus colaboradores e perceberem o seu estado psicológico, que é fundamental estar saúdavel, melhores resultados terão e serão empresas mais felizes.
Em 2023, dando continuidade ao seu compromisso com o bem-estar psicológico para uma melhor saúde, a Médis passou a disponibilizar uma cobertura de Saúde Mental com consultas e hospitalização incluídas, acessível a todos os clientes que tenham um seguro Médis Individual ou Médis Empresa, com cobertura de ambulatório. A cobertura específica dedicada a saúde mental junta-se, assim, a serviços como a Linha Médis ou o Médico Assistente Médis.
Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº.150) da Human Resources, nas bancas.
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