MIT. Como fazer melhores amigos no trabalho
As amizades no local de trabalho podem enriquecer as nossas vidas e tornar-nos melhores líderes e trabalhadores, se fizermos um esforço para cultivarmos relações verdadeiramente saudáveis.
Por Gianpiero Petriglieri, MIT Sloan Management Review
Não me lembro do momento em que eu e o Francesco começámos a referir-nos à nossa amizade como um local. Mas na rotina das rotações da faculdade de Medicina, há quase 30 anos, um canteiro de flores entre um parque de estacionamento e o edifício que albergava as enfermarias de medicina interna tornou-se “a amizade”. Era assim que a nossa amizade parecia na altura: um pedaço de natureza desalinhado entre o local de trabalho e as idas e vindas da vida quotidiana. “Vem à amizade!”, dizia um de nós quando o outro estava agitado ou desocupado. Saíamos, sentávamo-nos ali durante algum tempo e depois voltávamos ao trabalho um pouco mais atentos, mais corajosos e, alguns diriam, mais irritantes por isso.
Pesquisas há muito estabeleceram que a amizade floresce quando pessoas com interesses semelhantes passam tempo juntas, partilham tarefas significativas e intensas, enfrentam a incerteza e precisam da ajuda uma da outra. O nosso local de trabalho, meu e do Francesco, preenchia todos os requisitos, e rapidamente a nossa amizade deixou de se limitar a ele. Na amizade, saltávamos entre a análise de um procedimento que acabáramos de ver e a dissecação de romances falhados, partilhando sonhos profissionais e fazendo planos para o fim-de- -semana. Foi a primeira de uma série de amizades profissionais sem as quais não estaria a escrever este ensaio, não faria o trabalho que faço, nem seria quem sou. Foi também o início de uma busca para compreender a amizade no trabalho e o que é necessário para que essas amizades funcionem.
O local de trabalho pode ser um terreno fértil para o nascimento de amizades, devido à proximidade que a formação de amizades exige. Mas cultivar amizades no trabalho pode ser problemático. O filósofo George Santayana escreveu que os amigos são as pessoas «com as quais se pode ser humano» – ou seja, uma pessoa complexa e conflituosa, não apenas o ocupante competente de um cargo. Por definição, a amizade desafia as normas de instrumentalidade e impessoalidade em vigor em muitos locais de trabalho. Por essa mesma razão, se for cultivada correctamente, pode ser uma potente influência humanizante, para nós e para os nossos colegas.
Não é de admirar que, à medida que o trabalho se torna mais tecnológico e os locais de trabalho mais remotos, tenha havido um interesse renovado pela amizade. O trabalho híbrido pode tornar-nos mais produtivos, mas também corre o risco de nos tornar menos conectados. Priva-nos dos encontros fortuitos e do tempo ocioso com os colegas de trabalho que poderiam transformar-se em amizades que mudam uma vida. A maioria das exortações ao regresso ao escritório centra-se na sua sociabilidade. Apresentam-no como um local onde é possível forjar laços mais profundos do que aqueles que podemos criar no Slack ou no Zoom. Esses laços, argumentam os académicos, fomentam a resiliência e a criatividade de que precisamos para prosperar num mundo de trabalho turbulento.
As experiências das pessoas, porém, são mais variadas. Nem todos acreditam que fazer amizade com colegas de trabalho é sensato. Alguns receiam que a amizade interfira com o bom-senso profissional. Outros preferem manter as suas vidas pessoais e profissionais separadas. Da mesma forma, pesquisas destacam tanto os benefícios como os inconvenientes das amizades no trabalho. Mostram que podem ajudar-nos a sentirmo-nos mais seguros, mais corajosos e mais livres no trabalho – mas também podem fazer-nos sentir divididos, cautelosos e constrangidos (ver esquema “Compreender os três elementos da amizade no trabalho”, na página seguinte).
Obter esses benefícios e evitar esses fardos depende da nossa capacidade de forjar amizades saudáveis. Para isso, é útil encarar as amizades no trabalho como uma parte bem- -vinda da natureza, como eu e o meu velho amigo fizemos em tempos. Mas as melhores amizades crescem para além de um jardim secreto desgrenhado onde nos refugiamos. Tornam-se terrenos cuidadosamente cultivados que nos sustentam no trabalho.
Para que servem os amigos
Eu e o Francesco ainda somos amigos, apesar de as nossas carreiras já não se cruzarem. Quando seguimos direcções diferentes para as nossas especializações, tive mais dificuldade em gostar do trabalho. Sentia falta do conforto, da camaradagem e até da competição. Também achei mais fácil iniciar a transição da medicina para a gestão académica. Actualmente, ele ajuda as pessoas a sobreviverem a doenças físicas; eu ajudo-as a sobreviverem ao mal-estar intangível do local de trabalho. A amizade, ao que parece, protege-nos de ambos.
Ter amigos mantém-nos mais saudáveis. Num parecer de 2023, densamente referenciado, sobre uma “epidemia de solidão e isolamento”, o director de Saúde Pública dos EUA, Vivek Murthy, calculou que as consequências para a saúde custam às empresas norte-americanas 145 mil milhões de euros por ano. A amizade reduz o risco de doenças fatais e prolonga a esperança de vida. Em todas as espécies que formam laços semelhantes – os humanos não são os únicos –, a amizade confere vantagens. Os indivíduos que têm amigos têm maior probabilidade de viverem mais tempo e de se reproduzirem.
Se tivermos amigos no trabalho, «é menos provável que queiramos ir embora; queremos aparecer. Provavelmente, conseguimos mais», explicou-me Julianna Pillemer, professora da Universidade de Nova Iorque que estuda as amizades no trabalho. As relações íntimas são cruciais para o bem-estar e o sucesso, observou, mas descobriu que «as pessoas têm opiniões polarizadas. Querem realmente fazer amigos no trabalho ou dirão: “Não vou lá.”»
A razão, explicou Julianna Pillemer, é que “ir lá” exige cruzar uma linha ou, mais precisamente, apagar a linha entre o pessoal e o profissional. As preocupações com o ganho mútuo, a realização de objectivos e o retorno do investimento têm de ser postas de lado, assim como as diferenças de poder. Na melhor das hipóteses, a amizade é voluntária e recíproca, sem ser transaccional.
As amizades mais saudáveis, no trabalho, podem ser um peso fundamental para os líderes, mantendo-os centrados quando a sua posição ameaça isolá-los e a lisonja ou o ego os cegam. «Os meus amigos são um estabilizador», disse-me o empresário tecnológico Fred Mazzella, explicando-me como os amigos o ajudaram na sua viagem de criador de startup anónimo a líder tecnológico de sucesso e a defensor do empreendedorismo com grande visibilidade.
Leia o artigo na íntegra na edição de Maio (nº.161) da Human Resources, nas bancas.
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