Muitos trabalhadores estão a tirar a sexta-feira livre… sem a chefia saber

O que antes era o último “sprint” para o fim-de-semana está a tornar-se um dia “pessoal” para alguns trabalhadores remotos, reporta o Business Insider. A tendência tem sido apelidada de “quiet fridays” ou “gentle fridays”, uma actualização radical das “casual fridays” da era pré-pandemia.

Algumas empresas instituíram políticas para proibir reuniões às sextas-feiras e desencorajar o envio de e-mails. Em vários países, como Portugal, está a ser testada e implementada a opção da semana de trabalho de quatro dias, uma medida que visa proporcionar maior conciliação vida pessoal e profissional.

Mas o sonho de uma semana de trabalho de quatro dias não está disponível para todos. No ano passado, a Grécia promulgou uma lei que permite a semana de trabalho de seis dias em determinados sectores, uma medida para combater a redução da população e a falta de trabalhadores qualificados.

Agora, os trabalhadores remotos cansados estão a reservar algumas sexta-feiras para si próprios, principalmente porque o mindset do trabalho árduo dos anos 2010 foi eclipsado pela ascensão do movimento anti-trabalho. Desde a pandemia, o burnout disparou, a lealdade corporativa está a diminuir à medida que os despedimentos em massa permanecem, e os trabalhadores estão a dar prioridade ao autocuidado em vez de impressionar o chefe com longas horas de trabalho. As idas ao escritório podem estar a aumentar, mas sexta-feira continua a ser, de longe, o dia menos popular para essas deslocações.

Uma pesquisa no Reddit e no TikTok revelará uma série de truques virais para enganar a chefia e fazê-la pensar que está activamente online, desde apps para mexer o rato e manter o ecrã ligado. Embora pareça que os trabalhadores estão online e a trabalhar arduamente, as evidências sugerem que muitos desligaram os seus computadores portáteis e “fecharam a loja”.

Em 2024, a cadeia de restaurantes OpenTable registou um aumento de 44% de reservas entre o meio-dia e as 17h às sextas-feiras. «As mudanças na cultura de trabalho estão definitivamente a ter impacto nos hábitos alimentares», disse Debby Soo, CEO da OpenTable. Também as marcações de consultas às sextas-feiras aumentaram ligeiramente desde 2021 e vários tipos como acupuntura e exames físicos anuais são mais comuns a este dia.

A ActivTrak, empresa de software de análise de força de trabalho e produtividade, descobriu que, às sextas-feiras, as pessoas estão de facto a terminar o seu horário de trabalho mais cedo. Numa análise de 71 mil trabalhadores em mais de 800 empresas, descobriu-se que, no final de 2024, os trabalhadores saíam do trabalho cerca de uma hora mais cedo em todos os dias da semana do que no início de 2021. A queda mais acentuada foi às sextas-feiras, com os trabalhadores a saírem às 15h42, cerca de 80 minutos mais cedo do que há quatro anos.

Algumas pessoas podem sair mais cedo às sextas-feiras porque as suas empresas as incentivam a desligar. A Buffer, empresa de software de gestão de redes sociais, adoptou uma semana de trabalho de quatro dias em 2020. Começou como uma experiência, mas revelou-se tão positiva que a empresa manteve a prática, diz Hailley Griffis, directora de Comunicação e Conteúdos. Após o ajuste inicial de incluir mais reuniões nos primeiros quatro dias da semana, o horário agora «ajuda realmente a reduzir a quantidade de stress e ansiedade», garante. «Seria muito difícil para mim voltar a trabalhar cinco dias por semana, em termos de gestão de energia.»

A Stok, consultora de sustentabilidade, começou a oferecer “quiet fridays” a cada duas semanas em 2020. O objectivo é não ter e-mails ou reuniões nesse dia e, em vez disso, permitir que os colaboradores se concentrem em projectos ou tirem o dia para si, explica Madeleine Drake, directora de Pessoas e Cultura. «Cada um de nós tem consciência, autonomia e espírito colaborativo para perceber o que é melhor todos os dias», diz, acrescentando que cerca de 90% dos colaboradores da empresa costumam participar.

Mas é cada vez mais difícil conseguir trabalhos flexíveis. Os anúncios de emprego que oferecem semanas de trabalho de quatro dias diminuíram 42% desde o final de 2022, segundo dados da Indeed, e os que oferecem sextas-feiras flexíveis desceram 18,5%.

É provável que os colaboradores estejam “mais interessados ​​do que nunca” em sextas-feiras flexíveis e semanas de trabalho mais curtas, diz Kyle M.K., consultor de estratégia de talento da Indeed. «Mas a implementação está provavelmente a abrandar», em parte devido às pressões económicas e à incerteza do mercado de trabalho, acrescenta. Existe uma desconexão entre o que os colaboradores querem e o que os empregadores estão a oferecer, apesar das crescentes evidências de que semanas de trabalho mais curtas melhoram a produtividade e níveis de satisfação e que os trabalhadores estão realmente a “fazer menos” às sextas-feiras. «Acredito que os empregadores começarão a ver um declínio na capacidade de atrair os melhores talentos e a ver a sua rotatividade aumentar se não se focarem no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, no burnout e no nível de stress dos seus colaboradores», alerta.

O fosso de confiança entre chefias e trabalhadores está a aumentar. Uma sondagem de 2024 da PwC descobriu que 86% dos executivos acreditam que a confiança dos colaboradores é elevada, mas apenas 67% dos trabalhadores dizem ter uma elevada confiança no seu empregador.

O emprego é um contrato, onde ambas as partes devem ter uma comunicação clara para manter a confiança, diz Shaun Hansen, professor de gestão na Western Oregon University. Se for instruído ou estiver implícito que deve trabalhar às sextas-feiras, então é esse o acordo. Mas os empregadores podem construir confiança comunicando melhor as suas expectativas e adoptando acordos mais flexíveis, diz Hansen. Isto pode significar analisar funções e admitir que nem todo o trabalho tem de se enquadrar num horário de 40 horas, das 9 às 6, para ser bem executado. «Se tem um trabalho que pode terminar numa quinta-feira à noite, mas o seu empregador insiste que esteja lá na sexta-feira, isso não só o coloca numa situação ética difícil, como também fará com que provavelmente procure um emprego melhor com mais flexibilidade.»

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