Música para intraempreendedores: Should I stay, or should I go?
O regresso ao trabalho. Com energia redobrada ou síndrome de pós-férias? Este é um timing crucial para todos nós, profissionais. Enquanto alguns voltam revigorados e prontos para enfrentar novos desafios, renovando os seus votos de compromisso, outros, pelo oposto, com doses baixas de motivação e já a antecipar “mais do mesmo”, podem manifestar a sua intenção de saída da organização.
Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer da ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs
As férias (ainda se lembram, nem que seja vagamente?) representam uma oportunidade de desconectar, relaxar e recarregar as energias. Regressar ao trabalho pode ser entendido como uma oportunidade de renovação, traduzida num entusiasmo renovado para enfrentar novos desafios. Este estado de espírito pode ser particularmente benéfico para os intraempreendedores, ávidos pela novidade e movidos pela curiosidade.
Naturalmente, o ambiente de trabalho desempenha um papel crucial na manutenção dessa energia. Uma cultura organizacional que valoriza a inovação, que oferece desafios estimulantes e que reconhece as contribuições dos colaboradores pode transformar essa energia em acções concretas. Os intraempreendedores que se sentem apoiados e motivados são mais propensos a canalizar a sua criatividade e proactividade para iniciativas que agreguem valor à organização. Até porque o resultado desta soma (colaboradores satisfeitos + empresa satisfeita) é duplamente positivo. Há quem lhe chame win-win. Setembro, mês das novas oportunidades!
Ou, numa perspectiva menos optimista, aí vem Setembro, vai começar tudo outra vez… nunca mais é sábado, ou feriado, ou Natal. Nem o 5 de Outubro ajuda, este ano! Quem já partiu de férias amargurado e com um sentimento de desânimo, desmotivação, falta de foco e insatisfação (apenas para nomear alguns temas), quando volta, provavelmente vai encontrar exactamente o mesmo cenário. Quando este regresso é percebido como um fardo, a predisposição para trabalhar e o foco diminuem e a estagnação criativa instala-se.
As causas da síndrome de pós-férias são variadas, mas muitas vezes estão ligadas a um ambiente de trabalho pouco estimulante, à falta de reconhecimento, ou à percepção de que não há oportunidades reais de crescimento. Para os intraempreendedores, essa sensação de estagnação pode ser particularmente frustrante, levando-os a questionar se devem permanecer na organização ou procurar novas oportunidades.
Sei do que falo, e quando confrontada com o referido contexto, ao invés de pensar para mim “tens de aguentar”, optei por identificar quais seriam as alternativas viáveis. Pode ser muito difícil tomar a decisão de “ir”, mas “ficar” parece ser sobejamente mais angustiante. Esta é apenas a minha perspectiva. Por várias vezes, escolhi “ir” e o tempo veio a revelar-se generoso com novas possibilidades para explorar. Se não tivesse ido, a história seria outra.
A metáfora da música “Should I Stay or Should I Go” ilustra bem o dilema enfrentado pelos colaboradores de uma organização. Do ponto de vista individual, quando estes se deparam com um ambiente que não alimenta as suas ambições ou que não valoriza as suas iniciativas, a pergunta torna-se inevitável. Neste cenário, a liderança da organização desempenha também um papel fundamental. Os líderes que conseguem identificar e abordar as necessidades dos seus colaboradores intraempreendedores podem ser decisivos para inverter uma intenção de saída, promovendo um ambiente de trabalho mais envolvente e estimulante. Ou até mesmo entender que, paradoxalmente, por vezes, a saída pode ser a melhor opção para ambas as partes. “If you don’t want me, set me free”, também diz a letra.
Por tudo isto, é crítico manter o espírito intraempreendedor vivo, especialmente após um período de férias. Do lado dos colaboradores, procurando e explorando oportunidades que lhes tragam satisfação e desafios. Por parte das organizações, por exemplo, oferecendo incentivos (que não têm de ser apenas financeiros), reconhecendo as conquistas dos colaboradores e proporcionando oportunidades de desenvolvimento, não só verticais, mas também horizontais – estas são algumas estratégias eficazes para se manter a motivação alta e prevenir a intenção de saída. Que Setembro seja um mês de clareza e de escolhas, signifique isso “ficar” ou “ir”. “So you gotta let me know.” Bom regresso ao trabalho!
Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº. 165) da Human Resources.
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