Não costuma dizer olá aos colegas? Cuidado, neste país isso já é infringir a lei laboral
Segundo um tribunal de Inglaterra, não dizer olá a um colega pode violar as leis laborais, relata o The Telegraph.
A decisão vem no seguimento de um processo de despedimento sem justa causa de uma gestora de recrutamento, após se ter queixado de que o seu director-geral se recusou a cumprimentá-la.
Em Setembro de 2023, por três vezes Nadine Hanson cumprimentou o chefe Andrew Gilchrist quando chegou ao trabalho mas foi deliberadamente ignorada de todas as vezes, contou ao tribunal de trabalho em Leeds. Aparentemente, Gilchrist estava aborrecido com a colaboradora porque pensou que ela estava atrasada, quando, na verdade, estava numa consulta médica.
Nadine Hanson ganhou a acção e a juíza do trabalho Sarah Davies concluiu que o comportamento do superior foi “irracional”. «Esta conduta por parte do director do novo empregador é calculada ou pode minar a confiança. Embora possa não ser, por si só, uma violação fundamental do contrato, foi capaz de contribuir para tal violação.»
Andrew Gilchrist tinha acabado de assumir o cargo de director-geral da Interaction Recruitment que, na altura, contava com 30 escritórios em Inglaterra. A empresa adquiriu outra empresa de recrutamento, não citada no processo, onde Nadine Hanson era gestora de Operações Regionais do Norte.
Gilchrist viajou para Scunthorpe, no condado de Lincolnshire, para se reunir com Nadine Hanson e dois colaboradores. O tribunal, em Leeds, concluiu que, após uma reunião de apresentação que durou menos de uma hora, o chefe fez um “julgamento instantâneo” injustificado da colaboradora de que ela não estava a fazer a sua parte.
Dias depois, fez uma visita inesperada aos escritórios da empresa e chegou antes de Nadine Hanson, que estava numa consulta médica.
«Foi um dia agitado porque conseguiram que vários candidatos viessem e fossem entrevistados. Havia cerca de oito candidatos a preencher formulários quando [ela] chegou. A evidência [da Sra. Hanson] é que ela disse bom dia ao Sr. Gilchrist três vezes, mas ele ignorou-a», referiu a decisão do tribunal.
Gilchrist alegou em tribunal que “não se conseguia lembrar” se disse olá porque estava ocupado, mas disse acreditar ter dito “olá a todos”. O tribunal considerou as suas provas “pouco convincentes”.
Andrew Gilchrist disse então a Hanson para ir para uma sala de reuniões, tendo empurrado o telefone dela enquanto tentava mostrar-lhe o comprovativo da consulta. «Ele disse: “Se não quiser ficar aqui, sugiro que vá embora”». Ao que «Ela respondeu que “depois de 20 anos a trabalhar para a empresa, a única forma de sair é se me despedir”», lê-se no relatório do tribunal.
Segundo o tribunal, uma hora após essa reunião, Andrew Gilchrist enviou um e-mail aos dois subordinados directos de Nadine Hanson dando-lhes um aumento salarial.
A gestora disse que sentiu-se “humilhada” porque não foi informada. Em Outubro de 2023, entregou o seu aviso prévio de oito semanas, dizendo que se sentia “desvalorizada”. Devido à forma como foi tratada pela chefia durante esse período, obteve uma baixa médica por ansiedade, porém Andrew Gilchrist reteve o subsídio de doença porque considerou que ela estava a fingir.
A juíza Davies decidiu a favor das alegações de despedimento sem justa causa e dedução não autorizada do salário. E alegou que era “implausível” que o Sr. Gilchrist não tenha ouvido a saudação da Sra. Hanson e que a tenha ignorado “deliberadamente” antes de a “criticar directamente”.
«Quando ela lhe disse que a única forma de avançar seria se fosse despedida, ele concluiu que ela não tinha futuro no negócio», revelou a juíza. «Por isso ofereceu aumentos salariais aos seus colaboradores no espaço de uma hora e sem discutir o assunto com ela.»
«A situação não era assim tão urgente… Ele simplesmente não queria mais [a Sra. Hanson] ali», rematou. Nadine Hanson receberá uma indemnização da Interaction Recruitment, com valor a ser determinado posteriormente.