Não é bem adivinhar o futuro, mas sabia que o nosso cérebro consegue antecipar potenciais acontecimentos? É a ciência que o diz

Um estudo recentemente publicado na revista Nature revela informação inédita sobre a forma como o cérebro aprende com as experiências vivenciadas e antecipa potenciais acontecimentos futuros. A equipa de investigação estudou o hipocampo e o córtex entorrinal – regiões do cérebro cruciais para a memória e a aprendizagem – em indivíduos submetidos a procedimentos clínicos.

 

O primeiro autor do estudo e investigador do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Universidade de Coimbra, Pawel Tacikowski, refere que «a capacidade de reconhecer padrões e antecipar potenciais eventos futuros é uma parte essencial da aprendizagem humana».

Estudos anteriores recorreram a técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI), para estudar a forma como estes processos ocorrem no cérebro. No entanto, este tipo de métodos não permite uma observação directa da actividade neuronal. Neste estudo inovador, os investigadores conseguiram registar a atividade neuronal de células individuais em tempo real, permitindo uma nova compreensão dos processos de codificação cerebral.

Os participantes no estudo visualizaram uma série de imagens numa sequência específica, sem que lhes tivesse sido dito para memorizarem ou preverem nada. Surpreendentemente, os neurónios do hipocampo e do córtex entorrinal ajustaram gradualmente a sua atividade para reflectir o padrão subjacente, mostrando que o cérebro foi capaz de aprender implicitamente a estrutura da sequência e construir um mapa mental de ‘quando’ e ‘o quê’ se seguiria.

Os investigadores observaram também que os neurónios ativaram o mesmo padrão espontaneamente. Pensa-se que esta atividade de repetição é a forma como o cérebro consolida a aprendizagem.

Os resultados obtidos permitem-nos compreender melhor como o nosso cérebro codifica e memoriza a sequência das experiências vivenciadas, combinando informação sobre “o que” acontece e “quando” acontece, permitindo assim antecipar comportamentos futuros.

Além do primeiro autor, Pawel Tacikowski, são coautores do estudo os investigadores Güldamla Kalender, Davide Ciliberti, e Itzhak Fried. A investigação decorreu na Universidade da Califórnia, Los Angeles (Departamento de Neurocirurgia), no Instituto Karolinska (Departamento de Neurociências) e na Universidade de Coimbra.

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