Nenhum elefante resiste a um líder com boas práticas

Nuno Moreira da Cruz, dean de Executive Education na Católica Lisbon School of Business and Economics, encerrou a XXVIII Conferência Human Resources, com uma reflexão sobre o papel da liderança na gestão dos elefantes na sala.

 

Com uma abordagem directa e inspiradora, o orador de encerramento da conferência explorou como os líderes podem enfrentar problemas ocultos e criar equipas mais eficazes e resilientes. Nuno Moreira da Cruz abordou a questão dos elefantes na sala com uma mensagem central na sua intervenção: tudo depende da liderança.

Logo no início, fez uma declaração clara e assertiva: «Se os líderes forem fortes e não forem tóxicos, não há elefantes que resistam.» O conceito de elefante na sala é para si essencialmente um sintoma de uma liderança ineficaz. «Quando há um elefante na sala, ou o líder não o viu, ou viu-o e não quer falar sobre ele.» Segundo o orador, se o líder não viu o problema, pode ser porque está «numa torre de marfim e não percebe o que se passa», ou porque quem está abaixo de si tem medo de o alertar para a sua existência. Ambos os casos apontam para uma fraqueza na liderança.

Mas há outra possibilidade: o líder reconhece o problema e escolhe ignorá-lo. Moreira da Cruz explicou que isso pode ocorrer por várias razões: «Ou porque ele próprio colocou o elefante lá» – talvez num projecto mal gerido do qual é responsável –, ou porque discutir o problema «pode incomodar alguém acima dele». Esta cultura de silêncio é o que gera ambientes tóxicos.

O dean apresentou a sua visão clara sobre o que constitui a essência da liderança. «Um líder só tem duas funções principais: gerir pessoas e atingir os objectivos de negócio.» Para Nuno Moreira da Cruz, qualquer liderança que não consiga equilibrar estas duas responsabilidades está «a ocupar um espaço desnecessário». Além disso, apontou que muitas vezes, quem falha nesta missão só permanece no cargo porque «quem está acima é igual a ele».

Durante a intervenção, destacou ainda dois perfis problemáticos: o Nice Guy e o líder orientado apenas para os resultados. O Nice Guy é o líder que se preocupa demasiado com o bem-estar da equipa, mas não entrega resultados. «Ele é perigoso porque destrói a equipa», uma vez que acaba por promover uma cultura de complacência. Por outro lado, existem líderes que se focam exclusivamente nos resultados, negligenciando as pessoas, o que gera «ambientes de medo e stress».

Nuno Moreira da Cruz aproveitou também para destacar outro perfil de liderança, comum em multinacionais, que ele considera igualmente prejudicial: «líderes manipuladores, que prometem promoções que nunca acontecem». Estes líderes, observou ele, mantêm-se à tona mudando de função frequentemente, «deixando equipas destruídas para quem vem a seguir».

 

As cinco práticas essenciais de liderança

Com base na sua vasta experiência, Nuno Moreira da Cruz partilhou as cinco práticas que considera essenciais para uma liderança eficaz. A primeira é a integridade: «É essencial que um líder declare os seus valores e os viva todos os dias.» Não basta ter um conjunto de valores, é preciso demonstrá-los através de acções consistentes. A segunda prática é a visão. «Todos os líderes devem ter uma visão clara para a sua equipa, mesmo que a empresa não tenha», defendeu, frisando que esta visão deve ser comunicada de forma clara e inspiradora.

A terceira prática é a capacidade de questionar e inovar. «Líderes que se deixam questionar são mais propensos a tomar boas decisões», afirmou, sublinhando que o líder deve estar aberto ao feedback da sua equipa e encorajar um ambiente de aprendizagem constante. A quarta prática essencial é dar espaço à equipa para brilhar. «Sempre que dei espaço às minhas equipas, fui surpreendido positivamente», partilhou, reforçando que a confiança mútua dentro da equipa é um pilar fundamental da liderança eficaz.

Por fim, o orador defendeu que se deve «liderar com o coração». Isto significa, segundo ele, reconhecer que «lideramos seres humanos, não apenas profissionais». Para Moreira da Cruz, uma liderança que valorize a empatia e a compreensão das necessidades individuais dos colaboradores não só melhora o ambiente de trabalho, como também cria uma equipa mais coesa e motivada. «Quando lideramos com empatia, ganhamos seguidores, não apenas subordinados.»

 

Um exercício contínuo

Ao longo da sua intervenção, Nuno Moreira da Cruz destacou repetidamente que a liderança não é um conjunto de acções isoladas, mas um processo contínuo. «Liderança é treino, disciplina e detalhe», afirmou, reforçando que a consistência é essencial. «Não basta ser bom numa reunião e depois esquecer-se de dar os bons dias no elevador.» A liderança eficaz está presente em todos os momentos, grandes e pequenos, do quotidiano de um líder.

Para garantir que estas práticas produzem resultados, defendeu a necessidade de associar a liderança a políticas concretas de medição de desempenho. «Tudo isto só funciona se for medido e ligado a políticas de compensação», alertou, frisando que a liderança não deve ser vista como algo abstracto, mas sim como uma componente fundamental da gestão que deve ser acompanhada de métricas e recompensas claras.

Os elefantes na sala só podem ser removidos com uma liderança forte, empática e orientada tanto para os resultados como para o bem-estar das pessoas, que crie uma cultura de transparência, confiança e responsabilidade dentro das organizações. Com líderes que praticam os valores que defendem, dão espaço às suas equipas para crescer e lideram com o coração, será possível enfrentar qualquer desafio, por maior que seja o elefante que possa surgir. «Com estas práticas, nenhum elefante resistirá», garantiu.

Ler Mais