No melhor sítio para trabalhar não basta parecer

Na era das certificações e dos selos que atestam um sem-número de coisas, apetece dizer “À melhor empresa para trabalhar, não basta parecer, deve ser”. O quê? Diversa, inclusiva e promotora de bem-estar para todos. A validação deve chegar pela voz dos próprios colaboradores.

Por Artur Madeira Lopes, head of Talent Acquisition da askblue

 

Quem trabalha na área corporativa sabe que são muitos os selos que podem favorecer a marca de uma organização junto dos públicos a que quer chegar, sejam potenciais clientes ou potenciais colaboradores. O mercado continua a ser competitivo – ainda mais em áreas desafiantes, como as Tecnologias de Informação – e todos acreditam que dispõem das melhores condições para atrair talento qualificado, seja pelos salários e benefícios, seja pelo ambiente geral promovido. Mas será mesmo assim?

Do “parecer” ao “ser” vai um grande caminho. É por isso que cada organização deve interiorizar a máxima de que só será a melhor empresa para trabalhar quando tiver uma cultura forte, natural e genuína que promova o bem-estar de todos. Em primeiro lugar, é preciso que exista abertura para criá-la, promovendo um conjunto de crenças, valores, atitudes e comportamentos que são sustentados através de um esforço colectivo.

Ética, integridade, compromisso para com clientes e colegas, comunicação honesta, directa e aberta, qualidade e fiabilidade na entrega do produto/serviço, oportunidades de desenvolvimento profissional, colaboração e trabalho em equipa são só alguns exemplos do que pode ser a cultura de uma organização – isto é, o que a caracteriza e distingue, cabendo à liderança incorporá-la em todos os momentos. Por isso, há sempre o risco de poder ser afectada, caso a sua definição e manutenção não sejam uma prioridade.

Por um lado, a cultura de uma organização acaba por ser a “cola” de tudo e de todos – dá o tom para o envolvimento e satisfação dos colaboradores, mas também incorpora um conjunto de práticas, comportamentos e até palavras nas políticas internas e no posicionamento externo. Por outro lado, deve ser o espaço onde grassam conceitos como diversidade e inclusão, de forma genuína e não de autocolantes.

De facto, na melhor empresa para trabalhar não haverá necessidade de quotas ou outros instrumentos que obrigam a uma maior representatividade de certos perfis – leiam-se pessoas – na organização. Os verdadeiros grandes empregadores recebem colaboradores de todos os níveis de experiência, origens e crenças. Compreendem o valor de uma equipa diversificada e esforçam-se por contratar uma força de trabalho com muitas perspectivas porque sabem que terão mais probabilidades de produzir ideias interessantes e soluções criativas.

Em muitos casos, quando chegam pessoas de diversas origens e com diferentes backgrounds, a comunicação em todas as vertentes da organização torna-se ainda mais facilitada. E nós, recrutadores, agilizamos processos, pois temos muitas vezes pela frente pessoas com menos tabus em relação a temas como cargos, benefícios, condições salariais.

Ao falarmos em diversidade teremos também de falar, obrigatoriamente, em inclusão e dar especial atenção ao tema das pessoas com deficiência. Por razões familiares, tenho essas preocupações, o que me leva a ter uma voz activa e dinâmica no mercado de trabalho sobre a capacidade de as empresas poderem integrar uma pessoa que poderá dar o seu contributo e ter espaço em qualquer organização – e bem sabemos que não será um selo que a irá salvaguardar. Será, de certo, a capacidade de resposta das organizações em aplicar bem o verbo “incluir”, ao invés do “parecer”, tornando a marca, genuinamente, “diferente”.

Por tudo isto, é a confiança que a organização consegue gerar junto dos colaboradores e da sociedade civil que vai fazer com que seja o melhor sítio para trabalhar. Porque são estes os melhores embaixadores. Não é um selo.

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