O canivete suíço corporativo
Por Karly Ribeiro, co-fundadora e head of People & Culture da sheerME
Não há muitos anos, as empresas viviam particularmente para os seus produtos e serviços mas, com o advento da informação ao minuto e da pluralidade de visões, foi-se construindo – e ainda bem – novas visões: organizações mais sustentáveis, atentas às comunidades e com um olhar para a sociedade mais interventivo, conscientes de que (já) não são meros espectadores.
Hoje, as empresas e marcas influenciam directamente a sociedade e o ambiente em que estão inseridas, pelo que a ligação que constroem com a sua comunidade pode ser decisiva para o seu sucesso, reputação e retenção de talento. A esta mudança de paradigma, junta-se a responsabilidade social corporativa que é, como gosto de chamar, o canivete suíço das empresas.
Tal como esta pequena ferramenta de bolso é útil em inúmeras vertentes, pode e deve ser aplicada em variadas situações, até porque, no seu propósito final, a responsabilidade social está a mudar a vida de pessoas que também precisam de ferramentas para uma vida digna e inclusiva. Não pode depender apenas de apoios sociais do estado ou de ímpetos natalícios: cabe a nós, sector privado, também fomentar uma cultura de cariz social e para o ano todo, sempre no bolso, para fazer parte da solução, tal como um canivete suíço. Ah, e coincidentemente: a Suíça é um caso mundial de responsabilidade social e são as empresas suíças que mais investiram neste sector. Três quartos das empresas suíças aumentaram o seu investimento em sustentabilidade em 2022, de acordo com a média global.
As novas gerações de consumidores já não procuram apenas qualidade nos produtos e serviços que utilizam, nem os trabalhadores desejam somente um emprego qualquer. Ambos procuram marcas com um propósito, valores e ética que possam consumir e/ou onde possam trabalhar. Segundo a Nielsen, 66% dos consumidores inquiridos estão dispostos a pagar mais por produtos de empresas alinhadas com a responsabilidade social – sendo que a percentagem aumenta para 73% no caso da camada mais jovem. Paralelamente, a Harvard Business Review revela que 82% dos funcionários preferem trabalhar em entidades com este mesmo compromisso.
Quando uma empresa se envolve em iniciativas sociais, reforça a sua relevância e enfatiza que ambiciona mais do que o lucro. Esta atitude é reconhecida pelos clientes, fornecedores, colaboradores, parceiros e a comunidade em geral, com os quais é estabelecido um ciclo de confiança e lealdade que beneficia a organização a longo prazo. As empresas que apoiam a sua comunidade fomentam o seu compromisso com o bem-estar social, ambiental e económico da região onde operam e mostram que são mais do que meros agentes económicos. A prática de responsabilidade social corporativa deixou de ser só uma questão de valores e passou a constituir também uma estratégia indispensável para reter talento e fidelizar clientes.
A reputação de uma empresa é crucial para a construção e manutenção da sua imagem, principalmente num mundo competitivo, no qual informações erradas espalham-se facilmente. Porém, marcas que demonstram ética, transparência e responsabilidade social e que investem na sua comunidade estão muito mais aptas para se protegerem contra qualquer desinformação, crise ou (ciber)ataque à sua credibilidade.
As iniciativas socialmente responsáveis e comunitárias podem assumir variadas formas: apoio a instituições que auxiliem comunidades vulneráveis, através da doação de fundos, bens e outros recursos, voluntariado corporativo – uma excelente alternativa de team building –, implementação de práticas que reduzam o impacto ambiental das operações da empresa e promoção de políticas internas que garantam a igualdade de oportunidades para todos os colaboradores.
As empresas desempenham uma função fulcral na resolução de problemas sociais e ambientais. Com os recursos e a influência que detêm – ainda mais no caso de grandes organizações – podem ajudar a encontrar soluções para questões como a inclusão social, educação, sustentabilidade ambiental e saúde pública. O impacto positivo gerado por estas acções estende-se para além das comunidades directamente beneficiadas, uma vez que inspiram outras organizações a fazer o mesmo e promovem uma cultura empresarial mais consciente e comprometida com o bem comum.
Está na altura de olhar para o nosso maior activo como empresas e empreendedores: a comunidade. Conectarmo-nos a ela é uma necessidade estratégica e é através dela que podemos, de facto, fazer a diferença e tornarmo-nos em verdadeiros agentes de transformação social. A responsabilidade social corporativa é uma ferramenta poderosa a todos os níveis, com a qual se fortalece a reputação, aumenta-se a confiança, gera-se valor e constrói-se um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.