O «chefe ideal» dos portugueses é assim

O que se pensa, em Portugal, quando se pede a alguém para imaginar o «chefe ideal»? Um líder que, mais do que competente, valoriza o bem-estar dos seus colaboradores. É isso que nos diz um estudo coordenado pela Universidade de Coimbra, publicado na revista da Associação Portuguesa de Psicologia.

 

«Compreensivo» (998 respostas), «respeitador» (843), «líder» (753), «justo» (570) e «amigo» (447). Estes são  os cinco primeiros adjectivos que vêm à cabeça, segundo as respostas de 2725 portugueses, com idades entre os 16 e os 90 anos, a que o “Público” teve acesso.

Os trabalhadores em Portugal valorizam «o factor consideração», sumariza Leonor Pais, professora auxiliar na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra e uma dos quatro autores do estudo, a par com Lisete Mónico, Inês Pratas (ambas da Universidade de Coimbra) e Nuno dos Santos (da Universidade de Évora), ao “Público”. Ou seja, para os portugueses, mais do que a técnica, o que conta são as qualidades de relacionamento interpessoal com a chefia. Sentir que se é olhado «como uma pessoa integral, com circunstâncias de vida que são tidas em consideração e há relativamente a elas uma grande empatia» é o mais importante para os portugueses.

Um ponto que merece a concordância de Lisete Mónica, co-autora do estudo, que destaca a palavra «empatia». «Trata-se de eu ter um líder, um superior hierárquico, que entende as minhas motivações, reconhece o meu trabalho e compreende o que faço e como faço. (…) E porventura quando as coisas não correm tão bem como o esperado, [os portugueses tendem a] esperar do chefe esta virtude da compreensão», refere.

Há ainda um outro grupo que diz que o «chefe ideal» é «bondoso», «aberto ao diálogo» e «com personalidade». Mas o «não existe» foi um dos termos que mais surpreendeu Lisete Mónico. «Mostra um desacreditar em todos os modelos de liderança virtuosa.»

Já Leonor Pais afirma que o que mais a surpreendeu foi a diferença das respostas de quem lidera as organizações «preocupados com a produtividade e a performance» e as dos trabalhadores. «Tenho ouvido alguns empresários dizer que quando seleccionam uma pessoa normalmente é pela competência», afirma. Porém, «quem é liderado não olha tanto para o seu chefe enquanto uma pessoa absolutamente competente, com provas dadas. Valorizam aspectos que, provavelmente, lhes faltam. Quando penso no ‘chefe ideal’, penso naquilo que me falta».

Evidenciam-se também diferenças nas respostas de homens e mulheres. Enquanto as mulheres dizem que o «chefe ideal» é «compreensivo», «respeitador», «líder», «simpático» e «competente», os homens excluem o «competente».

«Podemos interpretar de diversas formas. Eu tenho a minha própria visão: acho que a mulher para se afirmar no mercado de trabalho teve de entrar muito pela via da competência», analisa Lisete Mónico.

 

Diferentes gerações, várias expectativas
Os autores do estudo dividiram ainda os participantes em função da idade.Quem nasceu entre 1928 e 1945 pertence à Silent Generation, entre 1946 e 1964 é Baby Boomer, entre 1965 e 1980 pertencia X Generation e, por último, os nascidos entre 1981 e 2001 são Millennials.

Na lista dos mais velhos, a Silent Generation, só há duas expressões que nada tem a ver com competência: «compreensivo» e «respeitador». Já o Baby Boomer manteve o «respeitador» e a X Generation «compreensivo», «respeitador», «líder» e «competente», mostrando que valorizava de igual forma a competência profissional e a dimensão pessoal.

Os mais novos, os millennials, deixam cair a palavra «competente», que substituíram por «simpático». «Falta a parte da competência, mas não sabemos porquê. O confronto com o mercado de trabalho pode ainda não lhes ter exigido tanto. Como são mais novos, estão a aprender e a questão da competência ainda não surge no núcleo central», conclui Lisete Mónico.

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