O formigueiro do lado

Por João Silva Santos, CEO da merytu

 

Numa organização, a relação entre os conceitos de indivíduo e colectivo, assim como a distinção entre colectivo e equipa, são das dialécticas mais determinantes para o sucesso ou o fracasso. Estes são temas de grande importância que, geralmente, costumam receber pouco mais do que a atenção dada a uma nota de rodapé.

Com o devido respeito pelos “especialistas”, “coaches” e “gurus” que vemos proliferar em quase todas as áreas das ciências sociais, faremos aqui uma manobra um tanto arriscada em termos de “politicamente correcto”. Vamos silenciar, por alguns instantes, a sapiência mediática e dar o palco a: formigas.

Apontadas à exaustão como arquétipos de produtividade e de trabalho em equipa, estes icónicos insectos escondem, no entanto, um segredo fascinante. O senso comum diria que, sendo pequenas e vulneráveis, estão inevitavelmente condenadas ao colectivo para sobreviver. Subjugadas pelo seu humilde património biológico, são obrigadas a uma actividade constante para não sucumbirem. Contudo, também aqui, a realidade é, como muitas vezes, contraintuitiva.

O seu “mísero” porte permite-lhes, no entanto, suportar cinquenta vezes o seu próprio peso — o equivalente a uma pessoa de oitenta quilos levantar quatro toneladas. Este facto impressionante comprova, afinal, a existência de uma capacidade individual extraordinária nestes pequenos seres vivos. Imagine se pudesse decidir, com naturalidade, carregar o seu carro às costas apenas por não encontrar um lugar de estacionamento!

Ainda assim, apesar de tão magníficas qualidades individuais, as formigas não deixam de recorrer ao colectivo de forma excepcional, numa simbiose de elevada eficiência. Verdadeiras equipas que, em alguns casos, são capazes de construir estruturas de vários metros de altura e, noutros, de consumir predadores do tamanho de seres humanos ou maiores.

Arrepios à parte, as formigas são, sem dúvida, um dos exemplos mais gráficos de que o conceito de equipa não ocorre quando um colectivo indiferenciado anula as capacidades individuais extraordinárias dos que o compõem, mas sim quando potencia essas virtudes para níveis que desafiam a própria lógica. Quando o colectivo anula as especificidades do indivíduo, perde-se, ironicamente, a essência do que se define como equipa.

Montar um grupo, fixar objectivos comuns ou definir um modelo de funcionamento em grupo em nada pressupõe a dissolução das características individuais de cada um. É precisamente quando o estilo de liderança concretiza o oposto, ou seja, faz florescer as qualidades individuais e as características únicas de cada membro, que encontramos os exemplos mais épicos do conceito de equipa.

Tudo isto confere uma importância capital a reflexões como: estará a liderança que exerço sobre a minha equipa a potenciar ou a formatar? A desenvolver ou a dissolver? E quanto a mim? Estarei integrado numa organização que valoriza as minhas características específicas? Caso a resposta seja “não”, talvez seja altura de considerar o formigueiro do lado.

Ler Mais