O intraempreendedorismo tira férias?

A natureza do intraempreendedorismo implica, muitas vezes, uma dedicação que vai além do horário “de expediente”, e a vida pessoal e a profissional misturam-se facilmente; quando se está em flow, entra-se num estado de esquecimento tal que as horas passam e ninguém dá por elas. É como estarmos de férias e não sabermos que dia é hoje. A propósito, que horas são?

 

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer da ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Os intraempreendedores são frequentemente movidos por uma paixão intrínseca que os leva a estar constantemente conectados ao seu trabalho, mesmo durante os períodos de descanso: desde fins-de-semana até às (merecidas) férias. A cultura de disponibilidade constante nas organizações pode reforçar essa tendência, criando uma expectativa implícita de que os intraempreendedores (ou aqueles trabalhadores aparentemente mais “disponíveis”) estejam sempre prontos para responder a e-mails ou resolver problemas (mais ou menos) urgentes, mesmo durante suas férias. Como gostam tanto do que fazem, não se devem importar… ouvi dizer!

No entanto, as férias desempenham um papel crucial na recuperação e renovação dos intraempreendedores, para recarregar as energias e evitar o burnout, um risco significativo para indivíduos que estão constantemente em alta intensidade e em competição consigo próprios. O afastamento do ambiente de trabalho “normal” e o mergulhar em novas experiências, proporcionam novas oportunidade de observar e aprender com diferentes contextos. Criatividade, praia e campo parecem realmente uma boa combinação triangular a explorar!

Além da criatividade inusitada, as férias permitem que os intraempreendedores redescubram a beleza das pequenas coisas, o que pode ter um impacto profundo no seu bem-estar e na sua própria abordagem ao trabalho. Durante as férias, momentos simples como uma caminhada tranquila, um jantar em família ou a leitura de um bom livro, podem trazer uma sensação de liberdade, renovação e inspiração. Estas experiências podem ajudar os intraempreendedores a valorizar mais os pequenos detalhes no trabalho, promovendo uma perspectiva mais apreciativa das coisas. Ao voltar ao escritório podem trazer um olhar mais fresco para os temas com os quais estão mais familiarizados.

Apesar dos benefícios evidentes, muitos intraempreendedores enfrentam desafios significativos para se desconectar verdadeiramente durante as férias. As pressões organizacionais e pessoais para se estar sempre disponível podem dificultar a capacidade de desligar completamente do trabalho.

E se houvesse uma espécie de campos de férias para intraempreendedores? Um incentivo ao intraempreendedorismo, promovido pelas empresas. Por exemplo, uma semana (ou três dias, para não exagerarmos!) antes do “regresso ao trabalho”, em Setembro. Programas específicos de férias criativas, nos quais os intraempreendedores são incentivados a explorar novos interesses e a desenvolver competências. Tal como se fazem bootcamps para empreendedores.

Eu sei, parece absurdo, uma ideia vinda de quem está a precisar de férias, mas imaginem o seguinte: programas e ambientes especialmente pensados para combinar descanso, aprendizagem e networking, proporcionando o equilíbrio ideal entre desconexão e desenvolvimento pessoal e profissional. E depois das férias com a família e amigos, para haver uma total “disponibilidade e liberdade criativa”.

A programação incluiria uma combinação de actividades individuais de relaxamento, desenvolvimento pessoal e profissional e eventos sociais. Manhãs de relaxamento, com sessões de ioga, meditação e caminhadas na natureza para começar o dia de maneira tranquila e focada; tardes de aprendizagem e de inovação, com workshops ou jogos colaborativos sobre temas variados relacionados com problemas reais; noites de networking e reflexão, com eventos sociais e discussões em grupo nos quais os participantes podem partilhar ideias e experiências. A mim, parece-me bem!

É realmente importante o intraempreendedor desligar e beneficiar significativamente das férias, mas os desafios para desconectar são reais e substanciais. Começando pelos próprios ao definirem os seus limites e impondo-se regras de desconexão (ainda que esta possa não ser a 100%). E as empresas desempenham também um papel crucial na facilitação deste descanso, incentivando a um verdadeiro out of the office que não seja só físico, mas acima de tudo mental.

Bom descanso. Vemo-nos no campo de férias?

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº. 164) da Human Resources.

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