O que é mais importante para o sucesso: talento ou esforço? Um especialista dá a resposta

Tomas Chamorro-Premuzic, professor de psicologia na University College London e na Columbia University e director de inovação do ManpowerGroup, partilha com a Fast Company que o talento e o esforço devem começar a ser vistos como duas coisas distintas que podem ser desenvolvidas para alcançar mais sucesso.

 

A relação entre talento e esforço é um pouco mais complexa do que se pensa. «Historicamente, tem havido tendência para considerar ambas as variáveis ​​como independentes, e o talento é muitas vezes definido como “desempenho menos esforço” – ou seja, quanto mais talento existe, menor esforço é necessário fazer para atingir um alto desempenho, e vice-versa», afirma Tomas Chamorro-Premuzic.

Contudo, o psicólogo defende que «o esforço é, em grande parte, uma função de traços de personalidade como coragem, consciência e ambição. Geralmente, isso torna as pessoas mais empregáveis ​​(para não dizer bem-sucedidas), a ponto de o esforço se tornar uma dimensão crítica do talento». Assim, se deseja prever um desempenho excepcional em qualquer área ou assunto, aconselha a procurar competências relevantes, mas o trabalho árduo será sempre necessário.

Curiosamente, o esforço é frequentemente visto como mais meritocrático, realça. «É como se o talento fosse uma função natural, mas o esforço já é algo que se constrói. Na realidade, porém, a maioria dos preditores disposicionais de esforço têm aproximadamente a mesma base genética do que as características que associamos ao talento, que é cerca de 50%.»

E garante que é possível prever a sua predisposição para desenvolver competências excepcionais a matemática, música ou ciências desde pequeno (ou seja, quatro a cinco anos), bem como prever a sua tendência para ser mais ou menos trabalhador, motivado e persistente a uma idade igualmente jovem.

Uma vantagem de ver o talento e o esforço como dimensões separadas do potencial é poder contar com a sua interacção, «o que constitui uma parte crítica do desenvolvimento de conhecimentos, competências e expertise». Mais, «quando conhecemos os limites dos nossos talentos, podemos aumentar o esforço para alcançar o desempenho desejado». O trabalho árduo é a melhor maneira de compensar o défice de talento, assim como estar ciente dos seus talentos pode resultar na diminuição do seu nível de esforço – ou guardá-lo para quando enfrentar desafios maiores.

Apesar dos estereótipos quase universais sobre as diferenças de género no que concerne o talento, o especialista assegura que não existem diferenças significativas na maioria dos aspectos do talento. Onde as há, estão equilibradas entre algumas que favorecem os homens (inteligência espacial) e outras que favorecem as mulheres (inteligência emocional e skills de liderança).

«Desde tenra idade, as raparigas apresentam um nível médio de autocontrolo e consciência mais elevado, ambos os quais impulsionam o esforço, que se prolonga pela adolescência e juventude, explicando o maior desempenho académico e educacional.» As mulheres parecem ter particularmente vantagem nos aspectos de ordem e perfeccionismo da consciência, o que significa padrões mais elevados do que os homens.

Contrariando a intuição, as mulheres tendem a ser mais ambiciosas e a ter aspirações mais elevadas quando entram no mercado de trabalho. É contra-intuitivo, dadas todas as barreiras e constrangimentos que enfrentarão, destaca. Vieses, preconceito e barreiras invisíveis são responsáveis ​​por impedir as mulheres de subirem na hierarquia – não o seu desinteresse em ser líderes, e certamente não os défices na competência ou potencial de liderança. «Se realmente seleccionássemos líderes com base nas suas competências, talento ou potencial, sem olhar para o género, certamente a balança em posições de liderança penderia ligeiramente para o outro lado.»

Agora a boa notícia: «ninguém nasce com o talento ou o esforço totalmente desenvolvidos ou consolidados», o que significa que todos precisam de investir tempo e foco para potencializar o seu esforço e aproveitar os seus talentos.

Embora uns tenham mais potencial em determinadas áreas do que outros, e vice-versa, o potencial não é nada se não for aumentado através do esforço. «Não desenvolveremos verdadeiramente talentos excepcionais a menos que façamos um esforço.» Portanto, há muito que se pode fazer para alterar o nível de talento e o nível de esforço. «Interesses, intenções, incentivos e circunstâncias de vida moldam o nível de esforço de cada um e, por sua vez, os talentos que aproveitamos e desenvolvemos», conclui.

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