O que não esquecer de cultivar no Natal de 2023
Num mundo da Disney, todos viveríamos o Natal da mesma forma , ou pelo menos com os mínimos assegurados. Sem desafios emocionais, financeiros ou sociais. Num mundo como o nosso, em que acontece um estranho regresso a épocas passadas de menor desenvolvimento moral e cultural, não há como ficar indiferente ao ano de 2023 e ao que não será um mais um Natal.
Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources e autora de “Eu e os Meus rh”
Não sendo uma pessoa pessimista, ainda não me dou como derrotada e acredito que há um ângulo de oportunidade para refletirmos: a consciencialização da sociedade sobre as diferentes catástrofes mundiais e pandemias nacionais, durante o Natal, pode desempenhar um papel crucial na promoção da empatia – que é o ingrediente para mim mais necessário de cultivar em tempos atuais.
Ora vejamos:
- Eu não consigo ver os telejornais há algum tempo, mas mantenho-me atualizada, de outras formas, e reconheço o papel de determinados meios de comunicação social como agentes de disseminação de informações fidedigna e de contextualização dos eventos para o público em geral. Permitindo que as pessoas compreendam a gravidade das situações e se sintam mais conectadas com as comunidades afetadas. É mais cómodo evitar conhecimento que nos causa desconforto, mas pior é fingirmos que nada se passa.
- E ainda bem que nem todos praticam a retenção seletiva de informação. Não me recordo de ter assistido a tantos fenómenos de ajuda como agora. A consciencialização sobre o que se passa além das nossas muralhas tem incentivado verdadeiras campanhas de solidariedade. Em movimento, as organizações sem fins lucrativos, os grupos de ajuda humanitária e pessoas sem nome , intensificam os seus esforços para ajudar como podem. Estes últimos são os meus novos heróis deste Natal.
- Os meus outros heróis deste Natal, são todas as vítimas de flagelos emocionais, financeiros ou sociais. Felizmente , começam a ter coragem de emprestar as suas vozes, havendo vários testemunhos. Escutar estes sobreviventes (seja de que infortúnio for) a partilhar o que viveram e como se superaram ajuda-nos a ter uma melhor perceção do que significaria “estar lá”.
- Um incentivo aos líderes de opinião que participam em campanhas de sensibilização e apelo à ação. São também quem influencia atitudes e comportamentos. É-nos mais fácil agir se as pessoas a quem atribuímos crédito o fizerem. Vamos lá liderar pelo exemplo!
- Mas para isso é preciso conseguirmos sair da redoma que nos torna menos humanos, menos empáticos. Estarmos atentos, ver com olhos de ver e agir quando surge uma necessidade, ajuda-nos a ser menos auto-centrados e a comungar de uma consciência coletiva, solidária e preventiva. Não podemos mudar o mundo, mas temos a obrigação de tentar fazer alguma coisa para melhorar o nosso, o dos nossos e porventura o de alguém que connosco se cruze.
Passou-me há pouco pelos olhos, um vídeo de um homem que, ao entrar numa carruagem de um metro, algures neste mundo, no ano de 2023, ficou com o pé entalado entre a carruagem e a plataforma. Em minutos um rio de pessoas empurrava a carruagem para que o homem conseguisse soltar o pé. Ainda bem que a empatia reinou sobre a indiferença. Ainda há esperança. Que nunca nos falte esta capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.
Este não será mais um Natal! Aumenta a dificuldade de driblar a vida, bem sei. Mas cultivemos a empatia, para que seja um período pelo menos mais verdadeiro e solidário.
Feliz Natal para TODOS, com muita empatia, p.f.!