O que não pode ver pode destruir a sua empresa

Por André Grilo, fundador e CEO da QuantumNova e especialista em cibersegurança.

 

Na era digital, muitas pessoas dão a segurança como garantida. As empresas operam sem problemas, os emails fluem sem interrupções, e a ideia de que “ausência de notícias são boas notícias” cria, muitas vezes, uma falsa sensação de segurança. No entanto, na cibersegurança, o silêncio não é ouro. Pode, pelo contrário, ser um sinal de que as suas defesas ignoram o que se esconde logo abaixo da superfície.

As ameaças silenciosas do ciberespaço

Esqueçam os anúncios antecipados ou o tempo de preparação para algo “em grande”: os ciberataques nem sempre se anunciam. Muitos ocorrem sem sinais visíveis imediatos, deixando as organizações expostas durante semanas, meses ou até anos. Esta abordagem furtiva dos criminosos significa que, quando a ameaça é finalmente descoberta (quando, efectivamente, é), os danos já podem ser significativos: dados sensíveis roubados, confiança dos clientes comprometida e violações de conformidade activadas.

De acordo com a Security Magazine/World Economic Forum, ocorrem cerca de 2200 ataques por dia, uma média alarmante de um ciberataque a cada 39 segundos. Apesar disso, muitas empresas operam sob a perigosa suposição de que “se não vejo, não está a acontecer”. Esta mentalidade é semelhante a deixar a porta de casa destrancada apenas porque nunca vimos pessoas não autorizadas a entrar.

Compreender as lacunas

Um dos maiores desafios na cibersegurança é a falta de noção holística de toda a rede. Muitas empresas usam apenas protecções básicas, como software antivírus e firewalls, mas estas ferramentas, por si só, não conseguem oferecer uma visão completa do que acontece nas suas redes. Os ataques mais sofisticados são projectados para ultrapassar estas defesas iniciais, operando silenciosamente e deixando poucos rastros até completarem a sua missão.

Isto é particularmente verdadeiro nos ambientes híbridos de trabalho actuais. Colaboradores que acedem aos sistemas corporativos a partir de casa, Wi-Fi público ou dispositivos pessoais podem, inadvertidamente, criar vulnerabilidades. Sem a capacidade de monitorizar e controlar estes pontos de entrada, as empresas estão essencialmente a operar de olhos vendados num campo de batalha.

A consciência é a primeira defesa

Tal como o FBI aconselha os indivíduos a reconhecerem esquemas fraudulentos e a protegerem os seus dados pessoais, as organizações devem tomar medidas proactivas para proteger os seus sistemas. Aqui ficam algumas etapas essenciais:

  • Não assuma que o silêncio significa segurança: só porque não há sinais visíveis de um ataque, não significa que não esteja em andamento. Monitorize regularmente os seus sistemas para detectar actividades incomuns, mesmo que tudo pareça bem.
  • Invista na visibilidade da sua rede: uma estratégia robusta de cibersegurança inclui ferramentas que oferecem informações em tempo real sobre o tráfego na rede, tentativas de acesso não autorizadas e potenciais brechas de segurança. Estas ferramentas actuam como um “vigilante do bairro” digital, alertando-o para actividades suspeitas antes que estas escalem.
  • Configure alertas para potenciais brechas: avisos precoces são inestimáveis para minimizar os danos. Se alguém está a “bater às suas portas digitais”, não gostaria de saber? Sistemas de detecção de intrusões e mecanismos de alerta podem garantir que nenhuma tentativa passa
  • Adopte uma firewall com capacidades avançadas: firewalls modernas fazem mais do que bloquear tráfego, elas analisam-no. Podem detectar padrões que sugerem um ataque e agir em conformidade, fornecendo uma linha de defesa crucial.
  • Eduque e capacite a sua equipa: a cibersegurança não é apenas uma questão de IT; é uma responsabilidade de toda a empresa. Garanta que os colaboradores compreendem os riscos e sabem identificar tentativas de phishing, proteger os seus dispositivos e seguir as melhores práticas.

 

O custo da complacência

As consequências de ignorar as ameaças de cibersegurança são alarmantes. Só em 2023, o Internet Crime Complaint Center (IC3) do FBI relatou perdas superiores a 12,5 mil milhões de dólares, um aumento de 22% em relação ao ano anterior. Estes números são um lembrete de como os riscos são elevados para empresas que não tomam medidas proactivas.

Mas o custo não é apenas financeiro. Os danos à reputação, a perda de confiança dos clientes e o tempo de inactividade operacional podem ter implicações de longo prazo para qualquer organização. A boa notícia é que estes resultados são, em grande parte, evitáveis com a estratégia e as ferramentas certas.

 

A cibersegurança como prioridade, não uma reflexão tardia

Embora seja tentador focar-se apenas nas operações do dia a dia, a realidade é que a cibersegurança deve ser uma prioridade central para qualquer organização. O mundo digital oferece oportunidades incríveis, mas também traz riscos que exigem vigilância constante.

Na cibersegurança, o conhecimento é poder. Ao manter-se informado, investir em visibilidade e adoptar medidas proactivas, as empresas podem transformar potenciais vulnerabilidades em pontos fortes. Lembre-se: as ameaças mais silenciosas são frequentemente as mais perigosas, não espere que o silêncio se quebre para agir.

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