O valor da diversidade nas organizações (visto por um homem)
O valor da diversidade é enorme, mesmo que a nossa disponibilidade para a mesma seja pequena, num mundo em corrida, em que privilegiamos a eficiência das decisões, ao impacto e alcance das mesmas. Ter de analisar, discutir e decidir com alguém que pensa e vê diferente obriga-nos a ir mais além nos argumentos, na análise, na sustentação, em todos os processos. Quando queremos decidir depressa – porque a isso fomos treinados –, é “uma chatice”. Rapidamente nos cansamos e buscamos almas-gémeas que pensem como nós.
Por João Pedro Tavares, consultor de Governance e Sustentabilidade da PWN Lisbon
Lembro-me de que, numa das organizações em que trabalhei, fizemos uma sessão de design thinking para os líderes, tendo os mesmos sido divididos em grupos para resolverem um problema de forma separada. No final, ao apresentarem-se as soluções, tínhamos todos chegado a propostas muito idênticas, diria, quase clonadas e rejubilámos, pois éramos uma empresa muito alinhada, que usava os mesmos métodos, as mesmas formas de abordagem e procurava resolver os problemas de forma idêntica. Era um selo de garantia que assim fosse e um descanso para quem liderava.
O nosso júbilo contrastava com o ar pesaroso do instrutor que começou por perguntar: “quantos de vós entraram na empresa como primeiro emprego e não tiveram outras experiências?”. Quase todos. “De que universidades ou formação de base são?” Pouca diversidade e origens idênticas. E assim foi, quanto a origens sociais, geográficas, num grupo amplamente representado por homens. Esse foi o problema, referiu o instrutor: vocês não são um grupo diverso e abordam os temas todos com o mesmo olhar, com o mesmo raciocínio, a mesma metodologia, sem olhar crítico. Não buscam caminhos distintos, novas realidades.
E assim poderíamos prosseguir com… não se arrisca para fora do que é a zona de conforto, não se aprofundam os caminhos, não se dá tempo à inovação, com rapidez na decisão unânime e eficiência na implementação dos processos.
É este o valor que tapamos às organizações e, em particular, ao mundo corporativo quando não nos abrimos à diversidade. Se no início se percepcionou como algo importante, tendo-se legislado sobre o mesmo no que diz respeito à representatividade de homens e mulheres, hoje é assumidamente como um factor diferenciador que, inclusive, distingue as corporações, a sua cultura, a forma como atraem, desenvolvem e retêm talento. São critérios de justiça, de inclusão, de igualdade de oportunidades tão necessários a uma cultura sã e a uma empresa diferenciadora.
Os estudos comprovam que a promoção da diversidade ainda tem ventos contrários (Women in the Workplace, McKinsey 2022), um longo tempo de 132 anos para se atingir a paridade (WEF, Global Gender Gap Report, 2022), razões pelas quais continuam a justificar-se, eu diria mesmo a ser pertinentes e fundamentais, a missão e a actividade da PWN Lisbon. Esta organização, onde sou voluntário, tem o propósito de ser referência na criação e consolidação de lideranças com impacto, ancoradas em referenciais de diversidade, equidade e inclusão, esses motores da sociedade mais justa que gostaríamos de ser.
Vem tudo isto a propósito da celebração do Dia da Mulher, sendo uma pena que, nos dias de hoje, o mesmo se tenha de celebrar, em particular em algumas sociedades, ditas, desenvolvidas, já que, pelo mundo fora, as realidades são significativamente distintas. É mesmo um atestado de menoridade, de miopismo, de incoerência entre o que se proclama e a forma de actuar e de se estar. Afinal, neste dia, celebramos, tão só, o dia de metade da humanidade e das mães da outra metade, o que não é de somenos. Que essa mesma metade, os homens, não se demitam nem assobiem para o ar, mas tenham a coragem de coliderar a mudança.