O valor oculto do trabalho presencial: um diamante por lapidar

Por Martim de Botton, CEO do LACS

Vivemos numa era em que o trabalho remoto ganhou protagonismo e, com ele, uma nova forma de encarar a relação entre a vida pessoal e profissional. É inegável que a flexibilidade de trabalhar em qualquer lugar trouxe benefícios profundos: maior autonomia e uma produtividade ajustada a ritmos individuais. Este modelo veio para ficar e, para muitos, tornou-se um sinónimo de bem-estar. Contudo, na ânsia de enaltecer estas vantagens, parece que esquecemos algo essencial: o valor intrínseco do trabalho presencial.

Se o trabalho remoto é muitas vezes celebrado como uma revolução, o trabalho presencial merece ser reimaginado como um diamante em bruto – cheio de potencial, mas que exige atenção, cuidado e visão para revelar o seu brilho. Os espaços de trabalho devem ser pensados precisamente para resgatar essa essência: locais dinâmicos, inspiradores e profundamente humanos, onde a colaboração e a criatividade acontecem de forma natural.

Há algo de único no contacto humano que só o trabalho presencial pode oferecer. O simples acto de partilhar o mesmo espaço gera oportunidades espontâneas – uma conversa no corredor, uma ideia que surge durante um café, uma solução encontrada num brainstorming improvisado. Esses momentos de troca, quase invisíveis no dia-a-dia, são a base da inovação e do crescimento. É no encontro presencial que as ideias se cruzam, se confrontam e se transformam em algo maior do que a soma das suas partes – e isto não acontece se duas pessoas ou uma equipa estiverem a trabalhar de forma remota

Para os profissionais em início de carreira, esta convivência é ainda mais preciosa. A proximidade com colegas experientes e líderes proporciona uma aprendizagem prática e uma mentoria informal que o ecrã do computador não consegue replicar. Estas interacções criam pontes de conhecimento e, mais importante, laços emocionais que fazem com que as pessoas se sintam parte de algo maior, algo que transcende o simples cumprimento de tarefas: a cultura da empresa!

Contudo, para que este modelo brilhe, precisamos de lapidá-lo com cuidado. Não basta ter um espaço físico, é preciso ter o espaço certo – locais que inspirem, que convidem à criatividade e que respeitem o equilíbrio entre o foco individual e a interacção colectiva. É aqui que vejo o papel dos escritórios do futuro como espaços projectados não para “obrigar” as pessoas a estar presentes, mas para fazê-las querer estar presentes.

Por outro lado, a cultura organizacional é o elemento-chave que transforma o presencial numa experiência rica e gratificante. Um ambiente onde se cultiva o respeito, a troca de ideias e a colaboração torna o regresso ao presencial mais do que um simples retorno ao “antigo normal” e transforma-o numa oportunidade para criar uma nova forma de trabalhar.

Não se trata de desvalorizar o trabalho remoto, mas de lembrar que o presencial não é um modelo ultrapassado. É uma peça valiosa que pode transformar equipas, unir pessoas e dar às organizações uma identidade mais forte e coesa. Quando investimos nos espaços, nas relações e na cultura, lapidamos este diamante em bruto e descobrimos o seu brilho: um brilho feito de colaboração, confiança e crescimento humano.

A convivência diária cria um sentimento de pertença e compromisso que vai além das tarefas e cultiva uma identidade comum e uma visão partilhada. Este processo de construção de relações sólidas e confiança mútua, que ocorre naturalmente no espaço presencial, tende a fortalecer a coesão e o desempenho das equipas, inspirando todos a atingir a excelência e a superar desafios de forma colaborativa.

Enquanto sociedade, temos uma escolha que assenta em seguir o caminho da conveniência ou sairmos da nossa zona de conforto e reimaginar o potencial transformador do trabalho presencial. Eu acredito que este diamante merece ser lapidado e que, ao fazê-lo, descobrimos um modelo que não só beneficia as empresas, como também constrói comunidades de trabalho mais felizes, saudáveis e inovadoras.

No final do dia, o trabalho não é apenas sobre resultados. É sobre pessoas. E é no contacto humano que reside o verdadeiro valor do presencial que, tal como um diamante, é eterno.

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